Todos os dias o via, no armário, protegido pelo plástico da lavandaria que, tantas vezes, ela desejava poder colocar sobre os sentires. Tinha escolhido com cuidado o feitio, muito simples como ela, aproveitando ao milímetro aquele tecido suave, carregado de histórias, que ele trouxera da Índia. Olhava-o, mas não o vestia. Temia, talvez, que as desilusões de um passado, então futuro, se lhe colassem mais ainda à pele e à alma.
Naquele dia, mudou de ideias. Retirou com cuidado o vestido de seda verde e fê-lo deslizar sobre a pele, ajustando-se imediatamente ao corpo num afago terno e suave. Passou as mãos no tecido recuperando momentos, outros toques, muitas saudades.
Onde acontecera o rasgão no seu tecido emocional? Porque não voltara mais a magia da seda à sua existência áspera?
Saíu de casa na suavidade da seda verde, abusou da canela no café e foi almoçar caril.
A vida faz-se, também, de paladares fortes e tecidos suaves.
Muito bonito, Luisa. A sua escrita faz-nos visualizar na cena!
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