quarta-feira, 1 de julho de 2015

SEDA

Todos os dias o via, no armário, protegido pelo plástico da lavandaria que, tantas vezes, ela desejava poder colocar sobre os sentires. Tinha escolhido com cuidado o feitio, muito simples como ela, aproveitando ao milímetro aquele tecido suave, carregado de histórias, que ele trouxera da Índia. Olhava-o, mas não o vestia. Temia, talvez, que as desilusões de um passado, então futuro, se lhe colassem mais ainda à pele e à alma. 
Naquele dia, mudou de ideias. Retirou com cuidado o vestido de seda verde e fê-lo deslizar sobre a pele, ajustando-se imediatamente ao corpo num afago terno e suave. Passou as mãos no tecido recuperando momentos, outros toques, muitas saudades.
Onde acontecera o rasgão no seu tecido emocional? Porque não voltara mais a magia da seda à sua existência áspera?
Saíu de casa na suavidade da seda verde, abusou da canela no café e foi almoçar caril. 
A vida faz-se, também, de paladares fortes e tecidos suaves.

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