quarta-feira, 27 de abril de 2011

Fugas

A televisão bramia a crise, o FMI, as medidas sufocantes e castradoras de sonhos. Ela, numa consciente opção de avestruz, cedeu-se o privilégio de calar as notícias incómodas e abrir a porta ao sonho. Vieram as memórias antigas, de tempos com sentido, de olhares a quatro olhos, de cumplicidades efectivas. Via-se sob o candeeiro mágico, romanticamente pintado, naquele hotel onde, há quanto tempo?, fora muito feliz. Lembrava bem o candeeiro, simplesmente seguro na parede forrada de papel, luz difusa, convidando a confidências, a partilhas, a comunhões e projectos. Então, abrigara-se no ombro cúmplice, murmurava inconfessáveis, sonhara um futuro excessivamente adiado. Lembrava o cenário envolvente, as leituras que a definiam, as palavras feitas conversas de sentidos e sentires, sentia doer o hoje ao confrontar-se com o então.
Muitas vezes achava que poder esquecer era uma grande vantagem humana. Hoje, achava que recordar era ainda melhor...

terça-feira, 19 de abril de 2011

CHOCOLATE

Fazem-se mousses, bolos, festivais, ovos, coelhos, doces, até tratamentos de estética, com o chocolate! Há museus, visitei um em Bruxelas, outro em Lausanne, fazem-se presentes e, acho eu, adoçam a existência. Dizem os sábios, que o chocolate tem poderes mágicos, inebriantes, anestésicos, afrodisíacos também.
O chocolate é, talvez, a única coisa realmente doce desta Páscoa de crise e horror.
Deus queira que o coelhinho branco, o tal que corre mundo no Domingo de Páscoa, ache que Portugal, ainda merece, um ovo ENORME de bom chocolate...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

FMI

Chegaram, qual bicho papão, para meter (ou tentar meter) na ordem os meninos maus, os senhores do FMI. Vieram engravatados, empastados, carecas, olhando com desdém os mendigos portugueses, parecendo trazer no bolso a palmatória económica para bater nos maus lusos. Só que, infelizmente, os verdadeiramente maus vão ficar a rir-se, e nós, os que pagamos impostos, os que estamos desempregados, os que vemos aumentar as dificuldades diariamente, é que vamos ser castigados!
Penso que os nossos políticos, todos ou quase, deveriam responder criminalmente pelo estado a que deixaram chegar este país. Há mais de trinta e cinco anos, desde o 25 de Abril de 1974, que Portugal pouco mais tem produzido do que gerações de governantes incompetentes. Os que vão passando de moda, ou perdendo eleições, em vez de se afastarem, são recompensados com reformas vitalícias, lugares de administradores e gestores de empresas públicas (ou semi públicas, mais uma invenção desta democracia esquisita e viciada), cargos na ONU ou em organizações similares. Ninguém lhes pede contas pelo péssimo desempenho, considerando-se que as eleições bastam para os julgar. Eu acho pouco!!!
Alguns destes governantes assinaram empréstimos, empenharam Portugal, sem o mínimo respeito pelos portugueses que os elegeram e que lhes pagam os chorudos ordenados!
A crise está a doer. Está a destruir famílias e a lançar o pânico em muitos honestos trabalhadores...
Estes governantes criaram um estado pesadíssimo, insuportavelmente pesado!!
Como resolver a crise?! Com coragem e verdade!! Reduzir, em primeirissimo lugar, o peso do estado. Bastam 9 ministérios! Acabe-se com as 14.000 empresas e Fundações que todos temos de sustentar, reduza-se para um quarto o número de deputados, deixe-se que as pessoas produzam e vejam o resultado do seu trabalho. Este governo socialista, na senda do que o PSD iniciou..., matou o estado social, agravou as injustiças, facilitou a vida aos vadios e puniu quem trabalha de facto!
Combater a crise?! Primeiro, urge combater quem nos (des)governa!!

domingo, 3 de abril de 2011

RTP

Canto X, estância 145 Lusíadas
Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Düa austera, apagada e vil tristeza.
Luís de Camões (há mais de 500 anos)


Liguei há meia hora a televisão para tentar saber o que vai por esse mundo. Queria saber da crise, da guerra na Líbia, dos efeitos do tsunami no Japão, da Feira da Doçaria em Portalegre. No entanto, como vai sendo comum neste meu país, as minhas expetativas sairam defraudadas. Há trinta e cinco minutos que a televisão do estado, a RTP 1, se limita a apresentar, repetidamente, os desacatos no estádio da Luz. Futebol, pedradas, balas de borracha, algemas, cacetada e palavrões. Pausa para o repórter repetir o que acabou de dizer e...mais cacetada, mais algemas, mais descatos. Emocionante, de facto. A dada altura, quando o meu desespero já deu lugar ao humor, há um chefe da polícia que apela ao bom senso. Tenho vontade de rir! Bom senso, neste meu país, o que é exatamente???
Finalmente, 40 minutos depois de iniciado o telejornal, lá vem o engenheiro Sócrates lamentar-se, o Dr. Passos Coelho justificar-se e o país a morrer. Voltam ao estádio da Luz. Faz falta, ainda, o tal bom senso!!! Faz falta, sobretudo, inteligência e verdade, qualidade e rigor, neste país que parece enlouquecido..
Futebol em excesso sempre me lembra outros tempos. Só que, então, ainda a Fé nos valia...