segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

AnIversário

O bolo era rectangular, em cima o Blase e a Havaiana, os nomes bordados a morango de açucar. A toalha branca, colorida com rebuçados de ovo, com copinhos de gelatina de ananás e pratos vermelhos com mini sandwiches de fiambre, cobria a longa mesa castanha. Em duas canecas largas, as palhinhas coloridas fingiam equilibrar-se e, à volta da mesa-tentação, olhos gulosos e mãos infantis.
Os meus netos pequeninos fazem anos com sete dias de intervalo e a mãe, prática, juntou as festas numa tarde de animação. 
Curiosas as brincadeiras: - As meninas, de volta das bonecas, das Pinypons, das maquilhagens cheias de cor; os rapazes, acelerando nos bólides de plástico, pés no chão, como se a parede da sala não fosse o limite imposto.
Estive olhando. Muitos outros aniversários se fizeram presentes. - A piscina cheia de miúdos, o Xiquinho a dar mergulhos sem saber nadar (com duas braçadas à cão chegava à berma), as bonecas em fila, a casa cheia de outras gargalhadas, dos mesmos olhares infantis. 
O Tempo é isto: - esta sobreposiçao de ontem e de hoje, com um amanhã pequenino, em momentos sempre cheios de nostalgia...

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

APRENDIZAGENS

À medida que o tempo passa, que os cabelos ficam brancos, que o cansaço se instala com mais frequência, a minha capacidade de aceitação (não de compreensão) aumenta. 
A vontade de mudar tudo de repente, a convicção de que a Razão é minha, vão-me abandonando. 
Tenho tantas dúvidas, tantos receios, tantas hesitações e, sobretudo, tantas vezes a consciência de que falhei...
O meu desejo de uma Escola diferente, uma Escola centrada nas aprendizagens, uma Escola para todos - sendo, por isso, para cada um-, esbarra com tantas dificuldades que, sobretudo ao fim do dia, naquela hora em que eu acho que o mundo pára para respirar, eu temo não ser capaz de mudar coisa nenhuma.
Queria muito uma Escola de possíveis, uma comunidade de aprendizagens activas, um espaço intelectualmente diferenciado, actualizado e moderno. 
Já não desespero com a fúria da juventude que perdi, mas continuo a desiludir-me. Uma desilusão tranquila, magoada embora, feita de tristeza mas não de derrota.
A idade tem-me ensinado muito! A idade ensinou-me a sofrer com suavidade...

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

GENTE GENTINHA

Há pessoas que são gente. Ou seja, há pessoas que não têm estatuto, características, essência, que justifiquem ser consideradas como tal e, por isso, só pertencem à amálgama de gente. 
Pior, dentro de quem é gente, há muita gentinha. Aqui, para mim, o diminutivo não transporta a ternura habitual, vem carregado de desprezo e mágoa.
Porque sinto, hoje, uma tão grande raiva angustiada? 
Porque há gentinha, professores (teoricamente) que vivem a urdir, a inventar, a caluniar, a destruir e a ofender. Gentinha reles. Gentinha que só teoricamente pode ser professora porque, de facto, só quem É pessoa pode ajudar outros a aprender.
Hoje, estou assim. Farta de gentinha emproada!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

A SALA DE AULA E...EU

 Acredito de facto, cum saber de experiência feito construído ao longo de trinta e quatro anos de profissão docente, que o sucesso educativo se constrói na sala de aula, através de dinâmicas ativas e diversificadas. 
Nunca tive muitas dúvidas em defender que, para que o sucesso aconteça, é necessário trabalhar para os alunos, e com cada aluno, através de processos de construção de aprendizagem, mas, e também, recorrendo a dinâmicas capazes de envolver activamente o sujeito de aprendizagem.
A sala de aula é, ou deve ser, defendo, um espaço de acção-reflexão, de questionamento de múltiplos fazeres. Simultaneamente, sempre defendi, e defendo com convicção, que a vocação natural da escola é o sucesso e que, contrariamente ao que, vezes demais, acontece, é ao professor, e não ao aluno, que cabe a maior quota de responsabilidade quando o insucesso acontece. 
Vejo a sala de aula como um espaço de variedade, de efectiva construção de múltiplos possíveis, de tentativas e de muitos erros, de vitórias, de gargalhadas e, às vezes, de algumas lágrimas partilhadas. E partilha é mesmo, para mim, a palavra chave: - Professor e cada aluno partilham tempo (e como o Tempo se tece de tempos valiosos!), experimentam e procuram soluções. 
A escola, a escola que eu quero e pela qual trabalho, é um espaço plural, feito de diversidade, com lugar ao sol para cada um dos alunos, numa heterogeneidade que só pode mesmo ter repercussões positivas na vida de toda a comunidade.

Alguém disse um dia, oiço agora a voz que não identifico na minha memória de muitas leituras, que “quanto mais velho estou (era uma personagem masculina) mais compreensão tenho…”. Acontece-me o mesmo. Cada vez mais compreendo os obstáculos e, cada vez mais, me apetece combatê-los, destruí-los, transformá-los em andaimes de sucesso.