terça-feira, 27 de março de 2018

E DEPOIS...

E depois, de repente, é outra vez Páscoa. Depois, há outra vez coelhos que põem ovos, galinhas que são chocolate, pacotinhos com amêndoas de mil cores e os supermercados a anunciar borrego. Depois, há outra vez casa cheia, mesa recheada  e ausências dolorosamente presentes. Depois, há ideia de sofrimento e transformação. Depois, ao serão, voltam as conversas compridas com tempos de afectos. 
Depois, anuncia-se a mudança já repetida e antecipadamente gasta. Depois, a gente - eu - percebe que a vida se faz de repetições e a vontade de desistir é muita. Depois... a gente - eu - não desiste! Porque, afinal, a vida é mesmo isto: - um infindável rosário de repetições com sequências mais ou menos fixas. 
Hoje, no antes que prepara o depois, não tenho forças para reinventar. Opto pelo silêncio, pelo caminhar na cidade, pelo acelerar louco olhando os campos lindos desta Primavera também ela repetida.

segunda-feira, 19 de março de 2018

DIA DO PAI

Hoje é Dia do Pai e o  meu Pai já partiu. 
O meu Pai morreu com as mãos nsa minhas, com pena e com dores, comido pela doença horrível que não conseguiu vencer. 
Mas o meu pai não era só o corpo que desejo abraçar a cada dia, as mãos que seguravam as minhas sempre que eu tinha medo, o olhar que ria quando brincava connosco. O meu Pai não era só o médico dedicado que se levantava de noite para ir ajudar quem o chamava, que queria o melhor para Portalegre, que lutava diariamente por melhor saúde para os portalegrenses. 
O meu Pai também era o Amigo de muitos amigos. Gostava da casa cheia, de boa comida e bebida, de alegria e festa. Gostava de receber todos, sempre! O meu Pai gostava do campo. Gostava de passear devagarinho, espreitando as lebres, as perdizes, os coelhos que se escondiam nos marouços. O meu Pai aceitava os meus erros, tantos!, e chorava baixinho nunca me abandonando. O meu Pai era o avô das minhas filhas. Era a presença firme, norteadora, atenta e disponível.
O meu Pai era muito mais do que um Super Herói, porque existiu mesmo, e eles não.
Quero meu Pai de volta! Sei que é impossível, mas trago-o para mim nas muitas memórias e converso com ele. 
Nunca ninguém me amou como o meu Pai, nunca ninguém me ralhou com a ternura do meu Pai, nunca ninguém me ouviu como o meu Pai fazia. 
Hoje, é Dia do Pai. 
É uma madrugada que me rasga de dor e me não deixa dormir. Aqui ao lado, na mesinha de cabeceira, com o boné verde da caça, o meu Pai diz-me que está atento. Mas não me chega... Eu preciso muito do meu Pai! 

domingo, 18 de março de 2018

Portugal

Nos últimos fins-de-semana, por causa de trabalho, tenho viajado muito pelo interior do meu país, para o sul, para o norte. 
Nesta terra onde nasci encontro, subindo ou descendo, paisagens isoladas, acolhedoras e tristes, povoadas de, maioritariamente, olhares gastos e desiludidos. Neste país, próximo da Espanha das castanholas, não existe a alegria dos turistas que enchem o Chiado e Belém, que fazem soar diferente a Ribeira ou os Aliados. Neste país, há casas isoladas, localidades onde o tempo se esgota no balcão de cafés que sempre sorriem quando entra alguém, como eu, de fora, para uma bica apressada.
Curiosa e tristemente, neste país interior o silêncio incomoda e dói. Há muitos velhos. Ainda não chegou aqui o eufemismo das idades contadas, por isso não sabem se é a terceira ou quarta. São só velhos e velhas. Os rostos mapeados de estradas de muito trabalho, as mãos contorcidas, os pés que já se arrastam, não fazem distinção de sexo. Dói ver o país a envelhecer por dentro. 
Porque ser velho não é uma coisa boa. Não é bom em nenhum lugar e, de certeza, faz doer mais estes portugueses sozinhos. Olho-os partilhando uma identidade que desconhecem, sorrio-lhes com a vergonha escondida de não poder fazer nada.
Este Portugal a velocidades díspares, este país com prioridades estranhas, esta terra onde, como diz Saramago, "o mar acaba e a terra começa", não merece ser chamado de país...

domingo, 11 de março de 2018

NÃO GOSTO DA ESQUERDA


Não gosto da esquerda. Nunca gostei e, ao contrário de muitas outras coisas e situações, cada vez gosto menos. 
Hoje, logo a começar o dia, ouvi o  secretário geral do PCP distinguir mulheres. Para ele, as mulheres de verdade não são as que vão ao Congresso do CDS. São, apenas, as que se manifestam na rua, gritam slogans e o apoiam... É uma versão curiosa dos direitos de cada um, um olhar muito estreito do que é a Liberdade. Quem é este homem para julgar e condenar? Onde fica, para este comunista, o direito à livre opção,  a pluralidade de opiniões, a dignidade das mulheres?
Ainda a refazer-me da minha indignação, a SIC notícias informou-me que os comunistas da China eliminaram o limite de mandatos e, agora, poderão ter um presidente vitalício. Azar o deles! Azar porque, cada vez mais, vêem fugir o direito à liberdade.

Não percebo esta esquerda, que fala em liberdade e limita os que querem ser diferentes. Não gosto da esquerda totalitária. Acho mesmo que não gosto de esquerda nenhuma!
O governo de Portugal é um bom exemplo da esquerda que detesto. Apregoa uma coisa, faz outra. Governa ao sabor dos ventos, apregoa sucessos e pratica fracassos. Diz que se ganha mais, mas aumenta os impostos e, efectivamente, cada português recebe menos. Diz que é pela inclusão, mas reduz os apoios aos que carecem dele para serem incluídos. 
Não gosto da esquerda. Cada vez, gosto menos!

segunda-feira, 5 de março de 2018

ESPANTO!

Incrível. Incrível a forma como o próprio Ministério da Educação, nas suas múltiplas entidades e organizações, consegue destruir a Escola e impedir a Educação. Como professora, como mãe e cidadã, não consigo compreender , menos ainda aceitar, que para castigar um aluno seja necessário  que alguém, em Lisboa, desconhecendo a realidade, fechado num gabinete, ratifique, ou melhor NÃO ratifique, a decisão tomada. 
Um aluno pode apedrejar transeuntes, deliberada e conscientemente, porque, se não matar ninguém, não será castigado. 
Ou seja, embora  o próprio Estatuto do Aluno preveja a aplicação de medidas correctivas, o ME, ou a DGE, ou um qualquer jurista de gabinete, inviabiliza a aplicação das mesmas. E têm razão porque, de facto, por um indivíduo deitar pedras para uma caminho onde circulam crianças não significa que as queira agredir. É, apenas, a natural forma de brincar de um adolescente...