domingo, 18 de março de 2018

Portugal

Nos últimos fins-de-semana, por causa de trabalho, tenho viajado muito pelo interior do meu país, para o sul, para o norte. 
Nesta terra onde nasci encontro, subindo ou descendo, paisagens isoladas, acolhedoras e tristes, povoadas de, maioritariamente, olhares gastos e desiludidos. Neste país, próximo da Espanha das castanholas, não existe a alegria dos turistas que enchem o Chiado e Belém, que fazem soar diferente a Ribeira ou os Aliados. Neste país, há casas isoladas, localidades onde o tempo se esgota no balcão de cafés que sempre sorriem quando entra alguém, como eu, de fora, para uma bica apressada.
Curiosa e tristemente, neste país interior o silêncio incomoda e dói. Há muitos velhos. Ainda não chegou aqui o eufemismo das idades contadas, por isso não sabem se é a terceira ou quarta. São só velhos e velhas. Os rostos mapeados de estradas de muito trabalho, as mãos contorcidas, os pés que já se arrastam, não fazem distinção de sexo. Dói ver o país a envelhecer por dentro. 
Porque ser velho não é uma coisa boa. Não é bom em nenhum lugar e, de certeza, faz doer mais estes portugueses sozinhos. Olho-os partilhando uma identidade que desconhecem, sorrio-lhes com a vergonha escondida de não poder fazer nada.
Este Portugal a velocidades díspares, este país com prioridades estranhas, esta terra onde, como diz Saramago, "o mar acaba e a terra começa", não merece ser chamado de país...

2 comentários: