terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Refazer

Numa destas leituras apressadas que uma ida ao cabeleireiro proporciona,  olhando os bonecos humanos que enchem as revistas ditas cor de rosa, eu acho que deviam chamar-se negras!, encontrei uma espantosa declaração de Alexandra Lencastre. Dizia ela que, ao aproximarem-se os 50, sentiu necessidade de se refazer. Precisava, garantia sorrindo, de se sentir bem ao olhar-se ao espelho e o tempo, declarava numa pseudo intelectual citação, "Não se pode travar". Assim, esticaram-lhe a boca, sugaram-lhe as gorduras, passaram-lhe a ferro as rugas e, em breve, irão ainda esvaziar-lhe os papos sobre os olhos.
Lendo a descrição das cirurgias, fica-se com a ideia que a senhora estava um cavaco (desta vez sem ofensa para o Presidente...). Mas, olhando para as fotos do antes e do depois, não se vê muito bem o que mudou. Eu, pelo menos, não vi! Continuo a achá-la uma mulher muito interessante.
Mas fiquei a pensar que deve ser bom podermos refazer-nos.
Acho que, se pudesse, eu também gostaria de me refazer! Não tiraria rugas, cada uma tem uma história que não quero apagar, não esticaria os olhos, não gosto de chinocas, não esvaziaria papos que representam, na sua maioria, momentos de sabores fantásticos. Mas, sem dúvida, refaria algumas escolhas, alteraria algumas opções. Acho, por exemplo, que não desperdiçaria um único segundo que pudesse gastar junto dos amigos de verdade, não faltaria nunca às aulas de dança (que saudades!), não deixaria de gastar muitos minutos desfrutando o prazer de nada fazer. Se pudesse, recuperaria todos os momentos que deixei por viver, cedendo a prioridades alheias, e não diria nunca não a uma ousadia saudável. Se eu pudesse refazer a minha vida, nunca, tenho a certeza, teria apoiado o governo carrasco do país que eu amo...

A Ternura

Não precisa de abafos, sequer de café forte. A ternura chega de mansinho, rompe o silêncio, enrosca-se no sofá e dispensa a manta polar,branca mesmo, onde gosto de me enroscar à noitinha. A ternura chega sem aviso, aproveitando as brechas das minhas emoções, invadindo o buraco negro que, às vezes, gela o meu viver. A ternura traz memórias, viagens, passados, instantâneos de presente e um sem fim de futuros a haver. Traz sempre, mas sempre mesmo, farrapos de Poesia que me tornam o olhar húmido. Por vezes, a ternura convida a compreensão, o carinho, o abraço apertado e faz festa no sofá...
Cada vez mais, apetece-me pôr de lado a manta polar!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Crianças

Trazem o nariz vermelho, as mochilas carregadas, as bochechas brilhantes. Entram a correr e riem como se não houvesse amanhã. Levantam o dedo, têm opinião, lêem e concluem com a certeza da sua ingenuidade. Fazem-me bem, aquecem-me a alma, iludem-me a existência. Faz sentido, sim, lembrar "Que o melhor do mundo são as crianças"!

domingo, 29 de janeiro de 2012

Fronteiras

Na Europa dos 27 já não há fronteiras. Ou seja, há fronteiras mas não há alfândega, cada um circula quando quer e como pode. Na vida, no dia a dia, é que continua a haver terríveis fronteiras com taxas aduaneiras muito elevadas... O ser humano é um país em si mesmo, relaciona-se com os outros - é um ser social - , cria teias e, às vezes, vê diluirem-se as fronteiras ou, talvez, confundirem-se as barreiras. É que é difícil, acho eu, preservar o eu, cuidar dos outros, pensar em todos e perceber até que ponto o bem do outro justifica a dor do eu. Numa comparação talvez abusiva, acontece como quando, na Europa, se tem de lutar pelos interesses da União e não se deve sacrificar um país! Sinto, muitas vezes, saudades da fronteira, ainda que pudesse ser contrabandista de afectos. Preciso, tanto, se ser capaz de compreender como fazer quando, para não ferir os outros, fico sangrando eu! É verdade que o homem é um ser social. Mas é verdade também, tem de ser verdade!, que é um ser singular com direito (ou obrigação?) de procurar ser feliz! Devia ser possível que o singular, o eu, fizesse as suas escolhas sem que o outro, o tal social, o julgasse ou taxasse na alfândega das relações.
Será que estou a fazer um apelo ao egoísmo? Haverá fronteira entre o egoísmo e o individualismo?
Que confusão de sentires. É a noite!

sábado, 28 de janeiro de 2012

À Mesa

Gosto de pôr a mesa, de escolher a toalha, de verificar se o desenho dos pratos está alinhado, de ver os copos no lugar certo e os guardanapos, de pano, dentro das bolsas. Gosto do ritual de sentar à mesa e conversar. Fazer as refeições sentada à mesa, aquece-me a existência, faz-me sentir envolta em sentido. É por isso, também, que gosto de ir a um bom restaurante, de escolher em comunhão, de cometer o consciente pecado da gula (relativa) em boa companhia.
Hoje, por causa da crise mas não só, creio que também por causa de uma pseudo-modernidade que me irrita, perdeu-se o hábito de pôr a mesa, de conversar às refeições, de aproveitar o calor da sopa para ouvir a família. Numa pressa desumana, come-se de tabuleiro, cada um a sua hora, com, a maior parte das vezes, a televisão por companhia. Sinto que às crianças, aos jovens, aos adultos e aos velhos, faz falta o tempo passado em torno da mesa. Faz falta o tempo de ser pessoa, de tecer laços e estreitar nós. Eu sinto falta disso. Falta das conversas saborosas, das rotinas caseiras, das refeições partilhadas.
Sinto falta, também, das idas aos restaurantes, das expriências de novos menús. Mas isso, paciência, a culpa é da crise e nada posso fazer...

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O Atraso

As desculpas já não colam. Ninguém acredita na avaria do despertador, na morosidade do fogão onde aquece o leite, no tempo excessivo que a irmã ocupa a casa de banho, no movimento da rua de 200 metros que o separa da escola. O atraso acontece diariamente e origina, invariavelmente, faltas injustificadas e ralhetes dos professores. A cada manhã promete que, amanhã, será diferente. Mas o amanhã surge sempre repetindo o hoje, o ontem, o  sempre. Repetindo o atraso. Um dia, garante a directora de turma, vai chegar atrasado à vida. Vai ser tarde demais para alguma coisa. Ele olha os seus 17 anos e ri-se. Tem o tempo todo do mundo! Tem mihões de horas para mudar o ritmo, tem biliões de oportunidades, para quê correr? Que importância têm dez minutos de atraso a cada dia?
A directora de turma regista as faltas. O que fazer para que este miúdo chegue a horas? Onde iremos parar se continuarmos no laxismo, no deixa andar? Olha o jovem ensonado que sempre chega depois do sumário e treme. Treme por ele. Por eles! Pelos miúdos com um futuro urgente a que, teme, chegarão atrasados.
 São perspectivas...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O Presidente

Já cansa a história da reforma do Prof. Cavaco. No início, pareceu-me absurdo, disparatado o que ele dissera, mas eu sempre achei que só calado o nosso Presidente tem algum sentido e, por isso, nem dei muita importância. Foi com surpresa que vi nascer, e crescer, esta onda de indignação que implica até manifestações. Tudo me parece um absurdo, uma loucura colectiva só justificável pelo estado depressivo em que vive Portugal. O que adianta a nossa (de alguns) revolta face às declarações de quase indigência do Presidente? Somos um país de pobres e, sinceramente, eu até compreendo o desabafo, infeliz, do professor Cavaco. Cá para mim a primeira dama não gosta que ele lhe vá à reforma...
Brincadeiras à parte, creio que um país que se levanta de indignação só por uma declaração infeliz de um dirigente, não está bom da cabeça!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Gente miúda

Cheguei cedo, antes de permitir que o cansaço se instalasse nas crianças que devia observar. Era uma sala soalheira, forrada de desenhos,  instruções de bom comportamento, letras e algarismos. Sentados em U, atentos e curiosos, os miúdos viram-me entrar. Sentei-me ao lado dos olhos enormes do Miguel, e assisti às apresentações. Lá estavam a Inês, a Joana, o João, o Salvador, a  Sofia, o Miguel, entre outros olhares, ganchinhos coloridos no cabelo e alguma vergonha bem disfarçada. Afinal, eu era uma visita, uma intrusa no espaço deles. Com mestria e eficiência, o meu colega foi gerindo o processo e, aos poucos, a turma foi respondendo, opinando, discordando, construindo saberes. Tinham opinião, exprimiam-se com propriedade, ouviam-se e confrontavam diferenças sem agressão. O Miguel, encostando-se um pouco a mim, tentava ler o que eu escrevia. No final, baixinho, pedindo-me que não levasse a mal, declarou que tenho uma letra horrível. Tem razão, o Miguel.
Na sala seguinte, o desafio era a leitura de um texto longo. À frente da turma, e apesar de estarem no 2º ano apenas, os miúdos pegaram no texto e deram-lhe vida. Avaliaram-se, criticaram-se.
Finalmente, a turma maior. Vinte e três crianças de 2º ano, todas com a vida a conquistar, a lerem poesia. Nem mais! Surpreendente o espírito crítico, a forma como detectavam erros nas diferentes leituras, o brilho no olhar quando diziam que gostavam de ler.
Esta experiência fez-me bem. Ajudou-me a encarar o dia, bem longo e difícil, e lembrou-me que vale a pena ainda trabalhar com quem gosta do que faz, olhar os alunos e ajudar a criar novas dinâmicas. Agora, quando a noite escura pesa demais, recordo a Maria que, com todo o á-vontade, me perguntou, à porta da sala, "tu pintas o cabelo?", e sorrio. Apesar das imensas e chocantes dificuldades das escolas, embora a crise esteja a afectar até as crianças, ainda se fazem coisas muito interessantes, e com muita qualidade, no nosso ensino. No frio desta noite, envolta numa insónia dolorosa, conforta-me o dia de ontem.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sol Cansado

E o Sol nasce num brilho gelado, num desinteresse estafado, numa luz fria e distante. Surge cansado, desistente. Puxa as poucas nuvens que encontra, farrapos de humidades inócuas, e cobre-se como pode. Olhando-o, parece querer esconder-se. Apagar-se, talvez.
Há dias assim.

O Caderno de Maya

A última obra de Isabel Allende é diferente. Mantém-se o Chile, a história de um povo marcado por magia e mistério, por opressão e poesia, mas surge uma jovem produto de uma América deprimida. Maya é uma americana, filha de uma família desfeita, educada por um avô que adora e cuja morte lança num poço de vícios. Vem a droga, a prostituição, a violência, o crime consentido, a degradação de um ser humano. Mas vem, também, a força das raízes, a mão da amizade, a ternura dos animais e a importância que os lugares exercem na vida de cada um de nós. Maya encontra as raízes e transforma-se. Porque quem é pertence a algum lugar e não há, para Isabel Allende e para mim, gente de nenhures. Sophia de Mello Breyner dizia "Metade da minha alma é maresia" e eu acredito que metade da alma de cada pessoa pertence, de facto, ao lugar onde se tornou pessoa. Maya cresceu num lugar sem referências, sem identidade, sem espaço para a individualidade e, para se encontrar, precisou da presença dos leões marinhos, da professora Bianca, do velho Manuel, do pequeno Juanito.
Conheço bem a obra de Isabel Allende, nunca esquecerei o Plano Infinito!, e este último romance surpreendeu-me pelo cenário desumanamente urbano. Maya é dolorosamente real. É o resultado de um mundo de desamor, de desatenção, de solidão também. Ao mesmo tempo, a protagonista diz-nos que bastam os afectos, os mergulhos de um leão marinho, o silêncio de um amigo, para que a vida ganhe sentido. Ao ler O Caderno de Maya, senti que, como Isabel Alende (que pretensiosismo talvez) também eu envelheci.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Janeiro

É o mês mais longo do ano, o Janeiro. Devia, por ser o primeiro, fazer-se de paz, de calma, de esperança ainda. Mas, pelo contrário, surge enorme, com o fim muito ao longe, com anúncios de coisas sempre terríveis e prenhe de mais onze a suportar.
Não gosto do mês de Janeiro. Olho-o sempre com desconfiança e fico ansiosa para que termine depressa. Hoje, dia 23, começo uma nova semana com uma dupla angústia. Hoje, sinto que até o clima está estranho, diferente, sem sentido! Passo os olhos nas notícias, constato aberrações, hipocrisisas, falsidades, e tenho medo. Este meu país não melhora!  Hoje, num inverno primaveril, encolhem-se-me os sentires e tremem os meus sonhos.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Cavalo alado?

Eu sei que há internet, à velocidade de um clic; sei que há express mail, à velocidade de um grosso punhado de euros. O que eu não sabia, mas aprendi com a experiência, é que os CTT já não funcionam!
Lembro-me do tempo das cartas, dos bilhetes postais, dos postais ilustrados, do edifício engalanado por azulejaria azul e branca na minha cidade onde, atrás do guichet, as senhoras apregoavam um "DIGA!" até assustador. Eram outros tempos. Veio a modernidade (?), fez-se um novo edifício, substituiram-se os guichets por balcões corridos e o "DIGA!" por números insípidos que saem de uma máquina agressiva. Os selos, teoricamente, compram-se numa máquina mas, na prática, compram-se no balcão porque a máquina está sempre fora de serviço. Como há mails e net, não devem fazer muita falta, os selos. O pior mesmo é quando é preciso enviar uma encomenda... Aí, é bom que nos preparemos para uma aventura, uma odisseia quase épica, talvez até meter uns dias de férias e, sobretudo, prepararmo-nos para sofrer. Eu ainda não recuperei da minha aventura nos CTT...
Precisei de enviar uma caixinha para Inglaterra. (Há quem siga os conselhos dos políticos portugueses e tenha tido a sorte de ir viver para longe). Fui aos Correios. No primeiro dia, tinha à minha frente mais de trinta pessoas, desisti. No segundo dia, a horas diferentes, estava quase a fechar, não me atenderam. No terceiro dia, apresentei-me à hora de abertura e tinha já dez sofredores, mais treinados do que eu, esperando à porta. Com o meu número bem seguro na mão, era o 17, fiquei esperando. Meia hora depois, chegou a minha vez. Pesada a encomenda, preenchidos os papeis verdes e os vermelhos também, fui informada de que, se tivesse urgência, teria de pagar 70 euros. Por esse preço, iria lá eu... Optei pela encomenda dita normal. Paguei 33 euros e vim-me embora com a indicação de que em 5 dias a encomenda chegaria ao destino. O tempo foi passando. A minha odisseia, que teve início no dia 10 de Janeiro, ainda não terminou.
Hoje, dia 22, a encomenda ainda não chegou ao destino! Como me indicaram, numa pretensa eficiência moderna, fui à net ver onde andava o pacote. Fiquei a saber que, de Portalegre a Lisboa, levou dez dias... Até chegar a Cambridge, levará, porventura, um mês?!
Da próxima vez que precisar enviar alguma coisa, irei pessoalmente. Entretanto, acho que deviam tirar o cavalo alado da parede dos Correios e escolher, como símbolo, um cágado coxo. Era muito mais apropriado!

sábado, 21 de janeiro de 2012

Deserto

Formas diferentes desafiam o céu. Perto, o rio corre, calmo, sempre altivo e distante. Ele tem um destino certo, um porto seguro, um abraço que o acolhe sempre. Ele tem o mar para morrer. Os cactos, deslocados, crescem na defesa possível dos enormes picos. Parecem-lhe tristes, a ela, sempre que se senta no banco de tábua para beber o seu chá. Não gosta dos cactos, mas, no entanto, olha-os com alguma solidariedade. Eles também estão deslocados, fora do seu mundo, sedentos de deserto. Ela sonha o deserto também. Um deserto metafórico onde não nasçam ódios, não germinem dores, não cresçam agressões. Um deserto onde o céu a envolva num manto de estrelas brilhante, onde o fim possa acontecer na certeza de um envolvimento eterno. Um deserto, tão pouco deserto que não tenha picos. Nem de cactos! 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O INTRUSO

Estava ali no meio do campo. Bom, no meio não. Verdade-verdadinha estava encostado à berma, em ferro, recém-pintado, parecendo até um pouco envergonhado por quebrar os tons de castanho que pintavam o entardecer alentejano. À primeira vista, podia ser confundido com uma bengala. Mas não o era. Não saía do mesmo lugar, não podia amparar ninguém. Sugeria, também, uma muleta. Mas nenhum coxo gostaria de ficar ali, colado ao velho muro de pedra.
De facto, o grito verde de ferro era apenas um intruso. Uma aberração na paisagem, uma chocante presença, uma atracção para olhares mais curiosos. Estava a mais. Sentia-se desenquadrado, diferente, sem iguais, sem apoio, sem grupo. No entanto, gostava da sua identidade diferente. Da sua força e firmeza, também. Era um ferro, mas podia bem ser uma pessoa. Assim mesmo, sozinha, isolada, destoando da paisagem.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Tempos e Beijos

"Mudam-se os tempos/Mudam-se as vontades" - Cantava assim Camões e, quase diariamente, se verifica a verdade do poema lírico. Os tempos são diferentes cada dia, as mudanças ocorrem a uma velocidade vertiginosa e, de repente, surpreendemo-nos com a mudança súbita. Foi o que me aconteceu hoje...
Entro na minha escola todos os dias, vou deixando bons-dias, olás, brincadeiras pelos corredores, pelo Bar que atravesso. Hoje, reparei na profusão de beijos no amanhecer da minha escola. Desde o parque de estacionamento até à sala de aulas, um percurso curto, encontrei - contei! - sete pares de apaixonados que, entre pernas enroscadas, mãos ousadas, encostos ternos e olhares exclusivos, enchiam o espaço de gorjeios muito melódicos. Eram beijos! Beijos de todos os tipos, para todos os gostos (acho eu). Há miúdas deitadas sobre as pernas dos namorados, outras entaladas nos casacos deles, algumas de rosto oculto por cabelos longos, muitas sanguessugas dos machos onde se colam. A escola, que por vezes me parece longe da realidade dos alunos, mostrou-se, hoje, um espaço de amores perfeitos. Ou será um espaço perfeito para o amor?
Não censuro os meus alunos, gosto de ver as paixões a colorirem uma realidade excessivamente cinzenta, mas, deve ser da idade (outros tempos), fico intrigada com a exposição, a ostentação até, daquilo que, para mim, deveria ser do foro íntimo.
De facto, Camões tinha razão: "Mudam-se os tempos..."

De combóio

Era um sonho antigo. Em jovem muitas vezes pensara realizá-lo, contrariando os adultos, desrespeitando a família. Mas faltara a coragem, o dinheiro, a oportunidade talvez. Depois, a vida impusera tantos teres de ser, tantas urgências, que ela mesma ficara esquecida. Perdera-se de si, dizia, muitas vezes, brincando com as netas que, fazendo parte de um mundo diferente, partiam e chegavam com uma frequência que a entontecia.
Agora, ao abrigo da eufemística 3ª idade, tinha, finalmente, tempo para si... Sendo tarde demais, era o possível e ela queria, por isso, viver todos os possíveis. Decidida, fizera a mala, a mala de rodinhas que o filho há anos lhe oferecera, comprara o bilhete do combóio e partira. Sozinha. Numa solidão feita sempre da boa companhia dos indispensáveis livros, das mil memórias, das incontáveis saudades e dos ainda muitos sonhos. Ia a Paris. A sua cidade. A do amor, a da ternura, a da música, a da Arte. Ali fora muitas vezes, noutros tempos, deixando sempre algo por ver, algo por visitar. Desta vez, jurara a si mesma, nada ficaria por esquadrinhar. É que, agora, vivia o seu último tempo. E é sempre tempo quando a vida apetece.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

De volta

Trabalho, cansaço, fraqueza, vontade de desistir, têm-me tolhido a escrita. Olho o meu espaço portugalagóia, esta janela que a blogosfera me oferece, e recolho as emoções, calo os sentires, selo as vontades. No entanto, a paz não chega e a vontade (ou necessidade?) de deixar correr a escrita, de tamborilar as teclas, de dar vida aos pensares, começou a tornar-se dolorosa. Fisicamente dolorosa, até. Por isso, abro a janela e volto ao meu canto de escrevinhar.
(foto do google images)
Hoje, quero eternizar um bom momento,  dizer que vale a pena ser professora (às vezes. Sempre que ser professora é mesmo estar com os alunos). É que, hoje, vivi horas de alegria com os meus miúdos enquanto visitavamos a Casa Museu José Régio. Fez-me bem passear, pela milésima vez talvez, naquelas salas cheias de mistério, de Arte, de textos, de desenhos, de sinais de uma personalidade que admiro e que acolheu Portalegre na essência do seu ser. Ou terá sido Portalegre que o acolheu? Porque Portalegre, e o Alentejo, acolhe quem os procura de coração aberto.
Passeei com 24 jovens, alguns no início desejosos de partirem para o jogo de futsal..., nos dois andares da grande casa, e vi-os escutarem com atenção, observarem com olhos de ver, espantarem-se genuinamente e relacionarem as aprendizagens da sala de aula com o Momento de aprendizagem activa.
Sempre defendi que a Escola tem de abrir-se ao mundo, tem de encontrar momentos diferentes, tem de permitir aos alunos viver a Arte e, hoje, senti que foi o que de facto aconteceu. Não tenho a Escola perfeita, mas fico muito feliz quando sinto que ela ganha sentido.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Carta (relativamente) Aberta

Senhor Primeiro Ministro de Portugal, Dr. Pedro Passos Coelho
Começo por lhe desejar um óptimo ano de 2012. Desejo, sinceramente, um ano para si tão bom como para mim e como para todos os portugueses. Que todos possamos ter um ano pelo menos igual ao seu.
Imagino que receba muitas cartas, emails, sms, telefonemas até e, por isso, optei por este formato de carta semi-aberta. Temo que o senhor não tenha tempo para a blogosfera mas, confesso, tenho alguma esperança que um dos seus muitos assessores a encontre e a leia. Ao mesmo tempo, sinto que se ninguém a ler pelo menos eu desabafei. E como é necessário, senhor primeiro ministro, desabafar quando tudo parece sufocar-nos...
Sou professora numa Escola Secundária há 30 anos. Pelas minhas mãos passaram já muitas centenas de jovens e nunca, como agora, me impressionou tanto o vazio dos olhares que encaro.
Os meus jovens, o futuro do nosso país, têm medo. Carregam nas mochilas desilusões que pesam, um futuro que temem, uma desesperança que confrange. Falo-lhes de poesia, de Camões e de Pessoa, e respondem-me com desemprego anunciado, com fome em casa, com pais desesperados. Conto-lhes as aventuras de Blimunda e Baltasar,e respondem-me com o sorriso desencantado de quem aprendeu, já, o valor de um pouco de pão em jejum. Quando saio da escola, diariamente, tento encontrar respostas. Uma luz para seguir. Hoje, lembro a epifania recente e lamento não ver a estrela condutora.
Sei que a culpa da depressão que vivo, que vivemos em Portugal, não é exclusivamente  sua. Sei que herdou pelo menos três décadas de incompetência e erros mas, no entanto, sei que tem obrigação de fazer diferente. De fazer melhor.
Sou uma das portuguesas, entre milhares, que acreditou no seu governo. Confiei na sua palavra, entusiasmei-me com a sua juventude, partilhei o seu sonho (?) de um país mais justo, mais humano, mais real. Hoje, já não confio em si. O senhor traíu a minha esperança porque, estupidamente, submeteu as pessoas aos números, sufocou a sociedade para cumprir défices. No programa do seu governo não há lugar para a cultura, para a saúde, para os idosos, para a educação, para a família, para os portugueses que sonham. Para o seu governo, tudo se resume ao controlo do défice esquecendo, quero crer que por ignorância e não por maldade, que a economia deve servir os cidadãos e não o contrário!
Escrevo-lhe ouvindo, na televisão, criticar as nomeações que fez para a EDP. Não me surpreende. O senhor tem seguido exactamente as passadas daqueles que condenou!
Esta carta já vai longa, e eu ainda queria dizer-lhe tanta coisa! Queria, por exemplo, de forma veemente, dizer-lhe que não posso compreender as razões que o levam a não anular o acordo ortográfico. O senhor está a vender tudo, está a matar as pessoas, está a roubar-nos o poder de sonhar! POR FAVOR poupe a nossa língua. A nossa língua é o nosso património mais rico e nem o senhor tem o direito de o destruir.
Senhor primeiro ministro, sei que acha que os professores devem emigrar. Creia, sinceramente, que tentarei fazê-lo com a maior brevidade possível. Só tenho pena que o senhor mande embora quem pensa, quem trabalha, quem tem valor, quem tem boa classificação, para ficar a governar um país de incapazes.
Doutor Pedro Passos Coelho, termino esta carta com uma profunda mágoa. Experimento revolta também. Ouso pedir-lhe, com a autoridade que me assiste por ter votado no seu parceiro de governação, que páre e pense. Converse com a sua mulher, as mulheres são boas conselheiras, e olhe as pessoas que moram no povo que maltrata. Ouse a diferença, governe para as pessoas e não para as muitas troikas que por aí andam.
Até um dia. Ou até nunca, se, seguindo o seu conselho, conseguir esquecer o meu Portugal.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Porta Aberta

Fecham-se portas, abrem-se portas, isolam-se afectos, protegem-se carinhos, escancaram-se janelas e criam-se, ou impedem-se, cumplicidades.
Sempre tive a mania de fechar portas. Gosto do espaço quente, protegido de intervenções externas, protector das intimidades. Quando fecho a porta da minha sala de aula, sei lá porquê, sinto que o espaço fica mais nosso - meu e dos meus miúdos -, que criamos um casulo onde é possível fazer nascer ideias, crescer sonhos, fermentar saberes. Quando, em minha casa, fecho a porta do meu quarto, abro o mundo dos sonhos que, quase sempre, as minhas leituras me trazem. Não penso que fechar uma porta, literalmente, signifique afastar alguém, impedir ternura ou conversas. Pelo contrário, o fechar das portas confere, para mim, sentido íntimo aos lugares. Às vezes, verdade mesmo, gosto muito que me batam à porta e abro-a com alegria e prazer. É o que acontece sempre que a ternura chega, a saudade se aproxima, as memórias surgem...

domingo, 8 de janeiro de 2012

Abandono

Ali no meio da Serra, rodeada de pinheiros e arbustos, fica a ermida de São Mamede. É uma igrejinha que sugere mil estórias, desafia a imaginação, provoca pensares e entristece sentires.Chega-se lá por um caminho esburacado, com pedregulhos que exigem a atenção dos condutores mais experientes, depois de uns quilómetros, poucos, pelo coração da Serra. A capelinha tem muitas divisões, restos de madeiras de andores, altares destruídos, ervas a nascer pela mão de Deus (ou do diabo?).  Perto, no que outrora foi o adro de muitos encontros, eu imagino bailaricos e namoros a despontar, há agora vestigios de sexo apressado. Faz pena ver o estado a que chegou a capelinha que, juro, nos olha num desconsolo humilhado que nos envergonha. Não sei de quem é a responsabilidade, ou falta dela, mas custa-me ver aquele espaço assim. Talvez fosse possível criar uma rede, uma cadeia de amigos de São Mamede, para recuperar a velha capelinha.
Hoje, ao vê-la, lembrei-me do conto Natal, de Miguel Torga, e vi o velho Garrinchas, gelado, chorar a impossibilidade de ao menos ali encontrar abrigo.

sábado, 7 de janeiro de 2012

O roubo

Roubaram uma galinha da capoeira. Quem seria? Quem entraria para levar, apenas, uma galinha? Sim, é estranho porque, nos tempos que correm, com a fome que há, esperar-se-ia que se roubassem as galinhas todas, o galo branco, os coelhos e até o perú que sobreviveu ao Natal. Esperava-se mesmo, acho eu, que se roubassem  os sacos de farelos e de milho, as couves greladas, o pão aguado, as cascas de melão e de batata. Mas não. Este ladrão é comedido e, à cautela ainda assim não fossem galinhas velhas, levou só uma franga gorda... Fomos investigar. Sim, podia ter sido uma raposa, ou um saca-rabos. Não, é impossível, a capoeira lembra Auschwitz, está bem aramada. Mas um bicho podia saltar. Não, não ia ser capaz. E o diálogo continuava aceso. A velha senhora lamentava-se, e agora? E se vêm buscar o resto da bicharada? Ora, se quisessem tinham levado já, tentamos nós consolá-la.
O roubo da galinha, ou o seu desaparecimento, lembrou-me as velhas histórias de infância. Imaginei uma raposa vermelha, rabo farto, espreitando o nosso susto e selecionando, enquanto tirava dos bigodes as últimas penas, o seu jantar de hoje. Se a raposa hoje voltar, vou ficar rezando para que escape à armadilha que lhe colocaram e consiga levar o galo branco peneiroso. Eu tenho uma predileção pela astúcia corajosa das raposas, que hei-de fazer?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Dia de Reis

Em Espanha, hoje há festa e presentes. Aqui, na minha cidade, há romã e bolo rei. Chegaram os reis a Belém, chegou o fim do calendário de Natal, é hora de desmontar o presépio. Olho o que fica e parece-me incrivelmente pouco. É o possível, talvez.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Lagóiices

Depois de muita insistência de amigos, aceitei ir ao Centro de Saúde tentar resolver o mau estar terrível que não me deixava viver! Há muito tempo que não entrava ali, no velho Sanatório Dr. Rodrigues de Gusmão. Em miúda, ia ali muitas vezes ter com o meu pai.
Lembro-me bem do gabinete dele, hoje uma sala de apoio a toxicodependentes, recordo os relvados muito bem cuidados, hoje terra e ervas, relembro as indicações claras e precisas e os movimentos de muitas batas brancas. O Sanatório era o lugar onde o meu pai passava mais tempo e, tantas e tantas vezes, fiz na sala de espera as cópias que a Irmã Alice, a minha professora de 3ª classe, sempre exigia perfeitas. Ali, havia também grandes amigos, como o senhor Sardinha, a enfermeira Estrela, a funcionária Rosa, o carpinteiro António. Também nos domingos ia, muitas vezes, à missa no Sanatório. O Senhor Padre Justo, como o lembro bem!, falava dez minutos exactos na homilia e eu, criança, gostava de o ouvir. O Sanatório Dr. Rodrigues de Gusmão fica num extremo da cidade de Portalegre, no alto de um morro, com uma vista privilegiada, o que fez, muito mais tarde, que o meu Pai sonhasse ver ali instalada uma Unidade de Cuidados Paliativos de Referência.
Quando foi construído o Centro de Saúde, acanhado e estranho ao lado do velho e imponente edifício, no tempo em que o dinheiro abundava, muito me surpreendi que não se tivesse recuperado o velho Sanatório. Disseram-me que era uma construção antiga, o Centro de Saúde exigia modernidade...
Hoje, encontrei um espaço tolhido, salas de espera em corredores, gabinetes acanhados onde os médicos se afundam em papéis! É isto a modernidade?
Sei bem que de nada serve chorar sobre o leite derramado, mas não consegui ficar indiferente ao que encontrei. São lagóiices, com certeza.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Às vezes

Acabara de chegar. Trazia ainda na pele o gosto das férias diferentes, das ousadias partilhadas, dos impossíveis feitos  realidade. Há quantos anos não vivia um dia assim? Um dia de regresso feliz, descontraída, carregando na mala dos afectos peso superior ao que carregava a mala de rodinhas. Claro que tinha chegado ao fim o sonho, que iria trabalhar no dia seguinte, mas nada, nem ninguém, lhe poderiam já roubar os momentos fantásticos que vivera, a dois, no tempo passado nas montanhas. Sempre ela descansava na neve. Desde muito jovem que a cor, o frio, a aventura das descidas lentas, a adrenalina das rápidas, os cafés tomados no cheiro de madeiros grossos a arder,  faziam parte das melhores memórias. Mas, desta vez, fora diferente. Fora um desafio, uma paixão que se concretizava depois de uma espera intensa, quase parecendo eternamente adiada. Lá, com o rabo molhado nas telesillas, lembrara outros rabos molhados, outros momentos, e vivera, com verdadeira felicidade, um sonho realidade. Agora, olhando o saco com as botas de ski ainda na sala, a mala aberta mostrando as camisolas quentes, adiava o arrumar na tentativa de prolongar a sensação de leveza que a invadia.
Às vezes, é tão fácil ser feliz.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

De volta

Voltaram as aulas. Os miúdos chegam cheios ainda de vontade de serem trabalhadores e responsáveis, o que até ao final da semana terão esquecido, e a sala de professores enche-se de Bom Ano sincero. Sinto que a crise, a depressão colectiva, o medo que nos tolhe a todos, contribuem, estranhamente talvez, para alguma valorização das pequenas-grandes coisas. Há no ar algo que efectivamente se partilha: - o medo do amanhã, a desconfiança face ao momento.
A sala de professores é um espaço muito típico, muito ilustrativo de muita coisa... Só quem lá passa horas, meses, anos, percebe a importância da gestão do espaço, as conversas nos diferentes cantos, os sentidos das apreensões partilhadas junto ao armário dos livros de ponto. Hoje, na minha sala de professores, havia algo estranho no ar. De repente, senti que estávamos todos mais próximos uns dos outros, que eramos mesmo farinha do mesmo saco.  Saí da escola apreensiva, e nem a conversa cheia de esperança dos meus alunos, garantem que a crise de 1383-85 foi pior e Portugal seguiu em frente..., serviu para me animar!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2º Dia

O pinheiro que toca o tecto começou já a perder as agulhas, o musgo secou no presépio, o Menino Jesus está torto, as velas gastaram-se. Continuo acendendo as luzinhas, gosto do tremelicar que ilumina aquele espaço, mas sei que passou o Momento. Acabou mais um Natal, foi-se o ano velho, e o novo, recebido com euforia, instalou-se sem novidades. A vida cumpre-se assim, um dia a seguir ao outro, numa repetição que esgota e, simultaneamente, exige de nós garra e vontade. Não é fácil viver, ou sobreviver, e as frases feitas - há quem esteja pior!  Deus nos dê ao menos saúde! ...- tornam-se ineficazes e ocas.
Sim, há sempre pior, como há melhor. Sim a saúde é fundamental. Mas sim, o ser  humano não pode ser só existência, tem de haver lugar à essência e à individualidade!
Neste 2012, sonho com a certeza do olhar atento de cada um, com o espaço para as palavras doces, com a inexistência de palavras agudas.
Neste 2012, queria que não houvesse grades no horizonte humano.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Ano Novo

Sem embrulhos nem laços, com espumante e passas, com rituais mais ou menos idiotas, chegou 2012. Traz 365 (ou 6?) dias a estrear e eu, sei lá porquê, receio que não sejamos capazes de os encher de sentido.
Dantes, no tempo em que eu ainda acreditava em intenções, fazia uma lista de decisões de ano novo. Procurava um papel especial, escolhia o castanho para a minha caneta de tinta permanente, sentava-me no silêncio do meu quarto e começava a assumir compromissos comigo própria. Normalmente, em Fevereiro já eu tinha esquecido as intenções e o papel, esse mesmo muito cuidado, estava enfiado no fundo de uma gaveta cheia de coisas inúteis. Então, achava que as minhas intenções tinham sido esquecidas por serem ridículamente impossíveis, mas acho que era desculpa minha. Verdade, verdade mesmo, é que as intenções a longo prazo nunca resultam. Hoje, já aprendi, aprendi de forma bem dura, que o caminho se faz andando, que a vida se cumpre num fazer de pequenas coisas, que as grandes decisões são tão pontuais que se esgotam num instante. Hoje, sei que a vida se faz de entrega constante, de dádiva quotidiana, de verdade eterna. Hoje, sei que que cada ano apenas me oferece mais horas para eu fazer render como for capaz. E, às vezes, sou muito pouco capaz!
Mas, ainda assim, mesmo sentindo uma apreensão dolorosa face ao hoje e ao amanhã, este dia é de esperança, de fé, de acreditar. Eu acredito que é possível fazer-se um mundo melhor, que é possível aproximar nações, que é possível dar cor viva à felicidade. Eu acredito que, se cada um de nós quiser, este 2012 pode mesmo ser diferente. Mais humano, sobretudo. Hoje, eu acredito e, assim, certa de que as letras podem eternizar desejos, deixo votos de EXCELENTE ANO DE 2012 a todos os que ainda lutam pelo sentido da vida!