quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Lagóiices

Depois de muita insistência de amigos, aceitei ir ao Centro de Saúde tentar resolver o mau estar terrível que não me deixava viver! Há muito tempo que não entrava ali, no velho Sanatório Dr. Rodrigues de Gusmão. Em miúda, ia ali muitas vezes ter com o meu pai.
Lembro-me bem do gabinete dele, hoje uma sala de apoio a toxicodependentes, recordo os relvados muito bem cuidados, hoje terra e ervas, relembro as indicações claras e precisas e os movimentos de muitas batas brancas. O Sanatório era o lugar onde o meu pai passava mais tempo e, tantas e tantas vezes, fiz na sala de espera as cópias que a Irmã Alice, a minha professora de 3ª classe, sempre exigia perfeitas. Ali, havia também grandes amigos, como o senhor Sardinha, a enfermeira Estrela, a funcionária Rosa, o carpinteiro António. Também nos domingos ia, muitas vezes, à missa no Sanatório. O Senhor Padre Justo, como o lembro bem!, falava dez minutos exactos na homilia e eu, criança, gostava de o ouvir. O Sanatório Dr. Rodrigues de Gusmão fica num extremo da cidade de Portalegre, no alto de um morro, com uma vista privilegiada, o que fez, muito mais tarde, que o meu Pai sonhasse ver ali instalada uma Unidade de Cuidados Paliativos de Referência.
Quando foi construído o Centro de Saúde, acanhado e estranho ao lado do velho e imponente edifício, no tempo em que o dinheiro abundava, muito me surpreendi que não se tivesse recuperado o velho Sanatório. Disseram-me que era uma construção antiga, o Centro de Saúde exigia modernidade...
Hoje, encontrei um espaço tolhido, salas de espera em corredores, gabinetes acanhados onde os médicos se afundam em papéis! É isto a modernidade?
Sei bem que de nada serve chorar sobre o leite derramado, mas não consegui ficar indiferente ao que encontrei. São lagóiices, com certeza.

3 comentários:

  1. É a visão curta dos políticos e das pessoas com a inteligência do tamanho da cabeça de um fósforo (dos pequenos, entenda-se) e a ganância do tamanho da sua ambição, em oposição à grandeza das pessoas de espírito aberto, altruístas e visionárias, como era o seu pai.

    Claro que o poder e a política ganharam neste caso, como em muitos outros, infelizmente. E, certamente, alguém ganhou mais em fazer de novo do que em recuperar.

    São raros os casos de bom casamento entre o belo e o útil.

    O senhor Sardinha também me deixa recordações boas de um tempo que já não existe!

    Cumprimentos.

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  2. Do velho Sanatório praticamente não conheço nada, embora a minha avó lá tivesse trabalhado até vir para o actual Hospital.
    Mas concordo consigo, em vez de terem feito um edificio moderno "horrível" mais valia terem recuperado o velho edificio.
    Como utente, vou estrear o Centro de Saúde pela 1ª vez no final do mês quando fizer o rastreio do cancro do colo do útero.
    Beijo

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  3. Querida Luísa! Também eu gostava de ver o antigo Sanatório, um edifício bonito, com vista para o vale (?) e para a Serra da Penha!
    E lembro, sobretudo, o teu pai que era um homem bom, além de um grande médico!
    Saudades de tudo, não é?
    Um beijinho

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