sábado, 7 de janeiro de 2012

O roubo

Roubaram uma galinha da capoeira. Quem seria? Quem entraria para levar, apenas, uma galinha? Sim, é estranho porque, nos tempos que correm, com a fome que há, esperar-se-ia que se roubassem as galinhas todas, o galo branco, os coelhos e até o perú que sobreviveu ao Natal. Esperava-se mesmo, acho eu, que se roubassem  os sacos de farelos e de milho, as couves greladas, o pão aguado, as cascas de melão e de batata. Mas não. Este ladrão é comedido e, à cautela ainda assim não fossem galinhas velhas, levou só uma franga gorda... Fomos investigar. Sim, podia ter sido uma raposa, ou um saca-rabos. Não, é impossível, a capoeira lembra Auschwitz, está bem aramada. Mas um bicho podia saltar. Não, não ia ser capaz. E o diálogo continuava aceso. A velha senhora lamentava-se, e agora? E se vêm buscar o resto da bicharada? Ora, se quisessem tinham levado já, tentamos nós consolá-la.
O roubo da galinha, ou o seu desaparecimento, lembrou-me as velhas histórias de infância. Imaginei uma raposa vermelha, rabo farto, espreitando o nosso susto e selecionando, enquanto tirava dos bigodes as últimas penas, o seu jantar de hoje. Se a raposa hoje voltar, vou ficar rezando para que escape à armadilha que lhe colocaram e consiga levar o galo branco peneiroso. Eu tenho uma predileção pela astúcia corajosa das raposas, que hei-de fazer?

2 comentários:

  1. Também gosto de raposas: são espertas, ardilosas, matreiras, elegantes e de olhar vivo.

    Costumava ter uma na quinta que, por vezes, se punha, lá do fundo, a olhar as pessoas, como a perguntar-lhes porque é que ali não tinham galinhas, nem frangos, nem coelhos para ela poder pilhar à vontade?

    A raposa que faz de gola ao meu capote e à minha samarra foi atropelada há muitos anos, na estrada junto à estação... ainda no tempo em que havia comboios!

    Cumprimentos.

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  2. Coitadinha da raposa que está na gola deste senhor...
    Na minha terra, quando desapareciam as galinhas, as pessoas iam espreitar os galinheiros uns dos outros,ou perscutavam, como quem não quer a coisa...,se alguém havia comido arroz de cabidela ou canja, nesse dia do "desvio". E,às vezes, até encontravam a dita franga ou frango, noutro vizinho,´comprada a alguém que a tinha ido lá vender!!
    Se a pessoa que roubou era muito pobre ,faziam vista grossa e olhares desentendidos...
    Ainda, também, recorriam a responsar a Santo António...ai jasus...!, e elas acabavam por regressar à origem(ás vezes a própria pessoa que roubou ajudava ao responso)...
    Mas, como os mimos, chegavam escassos ao rapazes em idades de estudo, muitas vezes eles próprios se organizavam e levavam à vez, um qualquer galináceo da capoeira da avó ou da mãe e, ou de familiares, com o fim de uma patuscada para todos!
    Vá-se lá saber, como seria, "o desta franguinha gorda"...

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