quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

ENTRUDO

Ainda não dei pelo Carnaval este ano. Ou melhor, ainda não dei pelas manifestações Carnavalescas que, normalmente, acontecem nesta época do ano. Não há crianças mascaradas, não cheirei as malditas bombinhas de mau cheiro e acho a minha cidade muito calma e tranquila. Será culpa da crise? Será que a tristeza se instalou de vez? Será que as pessoas estão tão fartas do triste Carnaval diário que já nem dão pela diferença do calendário? A mim, sinceramente, agrada-me que não haja Carnaval porque nunca achei graça nenhuma a homens vestidos de mulheres, a gente de cara tapada ou a ruídos incomodativos no meu quotidiano...A chuva veio ajudar. Imagino os desfiles, aqueles tristemente copiados do Brasil, com gente nua a bater o dente ao som de sambas roufenhos. Que bom não haver Carnaval!

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

MENOS ECRÃS

Li, na Revista Visão, um artigo onde se defende, com base em estudos científicos realizados em países tão diferentes como a Suécia, Inglaterra e Austrália, que os alunos lêem com mais dificuldade (e menos) em ecrãs do que em livros. Provam os estudos feitos que as aulas com recurso excessivo a ecrãs são menos eficazes, as aprendizagens menos efectivas, e o sucesso, logicamente, menor. 
Como professora, não podia estar mais de acordo! Claro que é importante recorrer à internet, aos ecrãs, na sociedade dos nossos dias. É indispensável sabermos ver televisão, por exemplo. Mas, no entanto, penso que as aulas onde o ecrã se torna o centro da acção educativa não fazem sentido. Há a moda, agora, da Escola Virtual e, que me desculpem os seus defensores, sempre que passo nos corredores das escolas e vejo os alunos a olhar para o ecrã, enquanto enviam sms ou conversam com os colegas do lado, lembram-me a velha telescola! 
O processo de ensino e aprendizagem carece de proximidade, de contacto humano e de exercícios práticos. Não se pode ensinar a pensar apenas mostrando videos, é impossível aprender a escrever ouvindo e vendo escrever! A febre dos ecãs, dos power points, dos youtube, das projecções, está a contribuir para a formação de uma sociedade de acéfalos, de reprodutores de modelos e de gente acrítica.
Gostei de saber que há já estudos científicos que confirmam a minha opinião. Defendo que a escola moderna, a de hoje, tem de ser capaz de ensinar a utilização do ecrã com inteligência e não, como por vezes acontece, fazer do mesmo o projectar da idiotice passiva.
Gostava de ver as Escolas promoverem o teatro, o cinema, as idas a exposições, a educação musical. Gostava que, em vez de karaokes, os alunos soubessem, e gostassem, de ouvir um concerto de música clássica. Numa modernidade acelerada, como é a nossa, creio que à Escola cabe uma tarefa muito mais complexa do que apenas transmitir conhecimentos... À Escola, hoje, compete educar, informar, formar. Compete desenvolver o gosto pelas aprendizagens e o culto do que dignifica o ser humano. Que não se confunda o essencial com o acessório, parece-me urgente! 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

ESCRAVA

Odeio o meu telemóvel. Odeio-me por ter telemóvel... Sinto-me escrava da maquineta irritante, irrita-me o zumbido que faz sem que me apeteça, incomoda-me a forma abusiva como interrompe o que estou a fazer. O meu telemóvel, telemóveis porque tenho dois (hélas estupidez!), não me dá sossego e faz-me sentir escrava consciente! Claro que sei que basta carregar num botão para o desligar mas, se o faço, vem logo o sentimento de culpa, aquela sensação feita aperto no estômago, a vozinha petulante no meu ouvido, e se alguém precisa de ti? Normalmente, ninguém precisa de mim. O bicho toca só mesmo para chatear, mas, ainda assim, eu tremo! Como se não bastassem os toques a qualquer hora, a maquineta julga que pensa e, por isso, faz-me acordar a horas certas, lembra-me de afazeres que bem podia esquecer e permite, aos outros, o comentário desesperante: "Como esqueceste? Não puseste no telemóvel?!". Pelo meu telemóvel sou, também, investigada porque, frequentemente, a primeira pergunta que me coloca é onde estás...E apetecia-me dizer que simplesmente não estou. Fui, como dizem os meus alunos. Desapareci e... não levei telemóvel!

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O Pardal

Há um pardalito, preto e branco, de bico luzidio, que há cerca de uma semana não sai da minha janela. Salta, bate no vidro, bate as asas, volta a saltar. Não sei o que lhe deu, mas gosto da companhia (relativamente) silenciosa que me faz. Já me trouxe de volta o rouxinol de Bernardim, já me fez lembrar muitos textos lidos e, hoje, fez-me ir buscar migalhas de pão e arroz pensando que tinha fome. Mas não comeu. Continua aqui, batendo no vidro, como se tivesse uma grande urgência em contar-me um segredo. Paro os afazeres e fico a olhá-lo, bem no fundo dos olhos escuros e pequeninos, tentando ler as palavras que desconhece. Será que me quer falar de sonhos? Será que foi enviado pelo Fado para me anunciar um amanhã diferente? Olho-o e escuto-o. Fala-me do tempo que não conheço, da ineficácia das minhas urgências constantes, da ausência de magia na ternura que sempre se adia. Depois, sorri. Diz-me que é feliz porque não pensa, porque não sente, porque não tem telemóvel, porque bate as asas quando quer... 

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Vida Moderna

Desde que aderi ao Facebook, que a minha colega Dalma considera com razão ser também uma feira de vaidades, tenho reparado na forma como a vida moderna é descartável. As notícias passam de mão em mão, ou de post em post, ganham likes, recebem alguns comentários simples, e somem-se, sendo, rapidamente, substituídas por outras. A Nossa Senhora de Fátima viaja pelas diferentes páginas, em partilhas sucessivas, a par com as anedotas e as críticas políticas. Tudo é rápido, descartável e plastificado. Tudo é moderno! Assim como há quem faça açorda alentejana com coentros congelados e pão Bimbo, reencaminham-se sentires e partilham-se vazios. Há também divulgações pessoais, fotografias de miúdos que se divulgam e auto-promovem, em pose, pedindo likes. Olho para aquilo e dá-me para pensar que a vida se está a tornar excessivamente moderna e dolorosamente vazia. E a culpa não é do Facebook, é de nós todos. Acho eu, hoje. Deve ser culpa do vento que voltou...

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Leite de Creme

A casa enche-se de cheiros doces. Há brinquedos pelo chão, o futuro a crescer,  a cozinha tem pratos amontoados, soa Elton John e eu deixo vaguear os sentires. Gosto de cozinhar, de separar com cuidado as claras das gemas para, com mil cuidados, fazer o meu leite de creme herdado. Dou voltas com a colher de pau, com mil cuidados, revolvendo a vida também. Do fundo, evitando que agarre, raspo a ternura adiada e, sem deixar ferver, sei que o sabor vai refinando. Oiço a minha avó insistindo para que não bata, só mexer, de baixo para cima no mesmo sentido, e, concentrada nas orientações sábias, não deixo espaço ao quotidiano que dói. 
Já pronto, deito o meu leite de creme na travessa antiga, branca e comprida, e espero que arrefeça. Depois, com a ferra do fogão em brasa, faço derreter o açúcar enchendo a casa de fumo gostoso. Em breve, a mesa surgirá cheia e o meu coração iludido deixar-se-á enganar...Que bom ser sábado, ter a casa cheia e um madeiro gordo na minha lareira!

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

E se eu gostasse muito de morrer

"E se eu gostasse muito de morrer" é um livro de um conterrâneo meu, o Rui Cardoso Martins. À luz, ou à sombra?, das chaminés mortas da Robinsosn inexistente, o Rui deixa soltar-se a morte na cidade que é nossa, Portalegre, e lembra as histórias que nos fazem ser quem somos, nessa memória colectiva que, para mim, é a matriz cultural de uma comunidade. Li o livro há uns anos, mal foi publicado, mas agora ando com o título a ecoar na minha cabeça. 

Hoje, quando a minha neta mais pequena sopra as velas pela primeira vez, sinto um desejo absurdo da paz da morte. Uma vontade estranha, dorida e inexplicável, de morrer devagarinho, dizendo adeus de mansinho, sem sinos a dobrar na cidade branca. 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O MIGUEL

O Miguel podia chamar-se Pedro, Rodrigo ou outro nome qualquer, desde que jovem e irreverente. O Miguel tem sentido crítico apurado e, às vezes, fere sem querer... Com os olhos negros enormes, o Miguel gosta de aprender, responde a desafios,  alinha na irreverência e na viagem fantástica do saber. 
Quando, nas aulas, sinto o olhar negro pousado em mim, calo uma torrente de coisas que queria poder dizer-lhe. Queria que ele compreendesse que não podemos caminhar magoando os outros, que há brincadeiras que têm picos, que a aprendizagem é um processo também social e de formação. 
O meu Miguel, ou Pedro, ou Rodrigo, é o aluno que faz um professor gostar de o ser. É o olhar que pede qualidade no desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem. 
Este Miguel, que não é Pedro nem Rodrigo, consegue até escrever bons diálogos com a terrível Stephanie das inundações...
É porque há muitos Migueis que eu ainda gosto de ser professora!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

SEM ESCADA

Há uma fala no Auto da Barca do Inferno em que o parvo pergunta  antes de entrar para a Barca,"De pulo ou do voo?". Ontem, à chegada a Lisboa, recordei esta fala. Dentro do avião, por mais de quinze minutos, com um calor sufocante, ouviamos de vez em quando as desculpas do comandante do voo TAP explicando que não havia escada para o desembarque! 
Se não estivesse com o coração estilhaçado, cansada, cheia de calor e irritada, até tinha achado piada ao facto de ver repetido o Portugal do século XVI, com uma pequena diferença: - o parvo não era uma personagem tipo, eram muitos tipos a fazer de personagens numa realidade mais trágica que cómica...

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Dia de Namorados

Parece que o coração não  serve  apenas para bombear o sangue que nos corre no corpo. Hoje, encontrei-o, nesta Inglaterra distante, feito cartões, balões, cupcakes, chocolates, capuccinos gostosos, flores, ursinhos,  e até em óculos para o sol, para assinalar o dia de Dia de São Valentim. Embora não goste da vida

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

De LONGE BEM PERTO

De longe, parece que a realidade fica mais nítida. Paradoxo, talvez, e por isso tão verdadeiro como o Mito ser o nada que é tudo. Não sei o quer se passa em Portugal, oiço chuva e vento lá fora e o som estrangeiro da televisão não me assusta. Aqui estou de novo, em terras de Sua Majestade, com o coração cheio de ternura e a cabeça desligada. Sei que lá longe não há prece de que volte cedo e bem. Sei que, dentro de três dias, vou voltar à mágoa quotidiana, às desilusões, aos egoísmos mesquinhos. Mas, agora, entro deliberadamente no faz de conta e eternizo estes cinco dias de sentires com sentido!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

SOBRE AS NUVENS

Há um lugar no mundo onde a existência, a minha, faz sentido. É o lugar dos afectos, o espaço onde a ternura surge nas pequenas coisas, onde o calor surge no abraço dos meus netos pequeninos. Sobre as nuvens, voando para eles, respiro de alívio por não ver o mundo real lá em baixo, bem longe. É bom estar assim, nas nuvens, pertinho daquele céu onde, segundo o meu neto Manel Bernardo, não mora ninguém...
Gosto da solidão da viagem solitária. Gosto de olhar as pessoas e brincar a atribuir-lhes vidas, existências também. Gosto destes intervalos na minha vida quotidiana!

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

DESILUSÃO

Dizem que só se desilude quem tem ilusões e, sendo assim, quem não sonha, quem não deseja nada, nunca se desilude. Obviamente, é uma frase com verdade. Verdade fria, mas verdade.
Mas será possível viver sem sonhar, sem desejar, sem acreditar e voltar a acreditar em impossíveis? Há uns tempos, um aluno, a meio da leitura apaixonante (para mim) de um texto de Mia Couto, perguntava se saía para o teste. Indignada, tentei provar-lhe que nem só de pão vive o homem, que não é o teste que interessa nas aprendizagens. Ele calou-se, mas eu sei que achou que eu estava a divagar... Hoje, lembrei-me deste incidente quando tentava arrumar uma desilusão mais no canto da gaveta das memórias tristes. Felizmente, deixei muito espaço em volta, porque sei que vou ter de colocar lá muitas mais. Se assim não fosse, o que seria a vida? A minha...

EMIGRAÇÂO

Os suiços não querem mais imigrantes. Fizeram referendo e decidiram impedir a entrada de tantos cidadãos vindos da europa dos 28. É uma atitude egoísta, um pouco xenófoba talvez, mas compreensível. Se eles têm o país em ordem, porque hão-de querer problemas alheios?! Por que razão não quiseram eles entrar na UE? Por que, com certeza, previram o que ia acontecer: - Uma união desunida, com os mais fortes a explorar os mais fracos! É chato não podermos continuar a emigrar para a Suiça, mas buracos eles já devem ter que cheguem nos queijos que fabricam...

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

OPOSTOS

Chove e venta com energia. Baco mostra-se, Neptuno responde-lhe rugindo na espuma alta. Está frio. E as gotas salgadas, trazidas pelos dedos de Baco, salpicam os cabelos. Eles saem do carro abraçados, unidos como um só, rindo da ousadia partilhada. Entram empurrados no café vazio, sacodem os casacos quentes e sentam-se ao fundo. Do outro lado, o mar assustador, vivo, grosso, cheio de Adamastores revoltados. Partilham agora uma caneca de chocolate quente, bem espesso, deixando os bigodes pintados de castanho doce. Ela conversa, ele ouve e responde. Não há lugar à agressão, à culpa ou à solidão. Ali, no silêncio sonoro do mar aterrorizador, a ternura partilhada faz sentido. Às vezes, é assim. 

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Stephanie

A tempestade Stephanie ameaça Portugal, fustiga violentamente a costa, põe as autoridades em alerta! E eu, abrigada do mau tempo, incapaz de imaginar o que sejam ondas de 17 metros, lembro outra Stephanie. A do Mónaco. Lembro-me  de uma menina mimada, de uma jovem irreverente, de uma rapariga capaz de impor a sua vontade a tudo e a todos desrespeitando (confesso que com a minha admiração) as convenções  e as regras de uma sociedade muito hipócrita e feita de aparências. Será que foi por causa da "minha" Stéphanie que deram este nome ao temporal desta noite?

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Factura da Sorte

Como educadora, e também como mãe, nunca concordei com os pais que, em troca de boas notas, davam dinheiro, ou outros prémios, aos filhos. Sempre pensei que a obrigação dos filhos é estudarem, darem o seu melhor, que para eles serão os benefícios, ou prejuízos, dessa acção. Sempre condenei a ideia de que os filhos estudam, ou trabalham, ou se portam bem, para satisfazer os pais. Para, como romanticamente se diz, "darem alegrias aos pais". Maior alegria é, com certeza, ter um filho responsável, consciente, conhecedor das suas obrigações e capaz de lutar pela sua vida. Assim, quando, ainda hoje, oiço os miúdos reclamarem porque tiveram apenas 70% no teste e, por isso, apenas receberão dez euros em vez de vinte, arrepio-me! 
Quando o governo do meu país fez o mesmo comigo, indignei-me! Prémios, ou "facturas de sorte", para quem pede factura com número de contribuinte?! Mas não é essa a obrigação de todos nós?! Será que os portugueses são como o cão de Pavlov e só reagem por estímulos e reflexos? Penso, sinceramente, que não! Vejo esta medida como um insulto mais aos portugueses que, como eu, pagam impostos, cumprem os deveres de cidadania e não querem um estado medíocre e idiota! Este governo é um buraco onde o lixo se acumula sobre a morte.
Estou cansada, farta, de ser maltratada pelo meu país. Cada vez tenho mais vergonha de ser portuguesa...

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Juan Miró

Eu queria fingir que não me incomodava, fingir que nem sabia, que nem dava por isso... Mas não sou capaz! A proposta de venda dos quadros de Miró arranha-me a alma e fere-me a inteligência! 
Ouvir o primeiro ministro dizer que o país tem de pensar noutras coisas, que os quadros são mesmo para vender, envergonha-me como portuguesa! 
Que cultura é um conceito inexistente para os nossos governantes, eu até já sabia; que medidas com efeitos para além do imposto pelo troika eram inexistentes, eu já sentia. Mas, ainda assim, não imaginava que fosse possível chegar ao absurdo de privar o país, o futuro, de um património cultural como é a colecção de Juan Miró! 
Estes governantes, um estes com mais de 20 anos, devem estar a candidatar-se a um lugar no Guiness: - São, com certeza, os governantes que mais depressa e estupidamente conseguiram destruir um país em todas as vertentes: - Económica, Cultural, Financeira e Social! Aplausos para eles! Caixões para nós, para podermos enterrar os sonhos e a esperança...

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

FACEBOOK

Ontem, o Facebook fez anos e, claro, teve honras nos telejornais. Prestei alguma atenção. Também uso o facebook, embora há muito pouco tempo, e achei graça a algumas das informações que recebi. Dei por mim, a dada altura, a achar que, de facto, o facebook não me serve para nada de útil. Não me dá dinheiro, não me torna mais culta, não me faz pensar, não me faz as refeições... Mas, por outro lado, distrai-me e faz-me companhia. Talvez seja uma futilidade, mas o que seria da vida sem algum lazer, alguns momentos de descontracção e brincadeira? O que seria da vida sem alguma futilidade que nos permita, até por antinomia, reconhecer o que é essencial?  Eu confesso, agora que sei que ninguém me ouve, que, às vezes, gosto mesmo de poder dedicar algum tempo a nada. Por isso gosto de olhar para uma novela, embora nem sempre saiba sequer o que está a acontecer, por isso  gosto de passear pelo facebook, sorrindo às fotografias diversas, às frases mais ou menos plastificadas, às sugestões de diferentes olhares. 
Às vezes, e cada vez com maior frequência, apetece-me fugir à seriedade dolorosa da vida real que me amordaça e prende. Às vezes, apetecia-me voltar a ser criança e a correr no quintal, andar de baloiço, abrir os braços e rodar até cair, apenas porque sim!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

MENINA AZEDA

No nariz tem uma argola. Lembra-me as vacas marcadas, mas não lhe digo. Abre a carteira com o cuidado de deixar à vista o maço de tabaco, é livre e fuma porque sim, ninguém tem nada a ver com isso. A meio das aulas, depois de ter posto a conversa urgente em dia com alguns sms enviados de forma  a que a professora veja sem dizer que viu, puxa do espelhinho e retoca a maquilhagem. Tem só 15 anos. Mas no olhar traz a raiva à humanidade que ouviu a outros, na ponta da língua a resposta agressiva que enquadra bem na personagem que criou e que insiste em representar. Textos, obviamente não tem. Que lhe interessa ler "O que os olhos vêem ou o Adamastor" se ela já viu tudo pelas narrativas vazios de outros?! Que lhe interessam as Avantesmas da peça, se ela tem os seus monstros privados que não consegue vencer?
Olho esta menina-azeda, leio-lhe a tristeza feita raiva e não sei como chegar-lhe. De repente, há areias movediças a engolir a juventude e eu não consigo deitar-lhe a mão. Estico o braço, torno-o prolongamento da alma, fecho os olhos às provocação e rezo em silêncio. Se esta menina se afundar, eu vou sentir-me sempre culpada! Porque eu acho que a Escola devia saber como salvar as meninas bonitas que querem ser feias, as emoções intensas que querem parecer desinteresse e segurança, e eu, que também sou escola, não sei a solução!

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Escada de Portaló

Nunca viajei num navio. Nunca enfrentei Adamastores feitos de vento e marés, nunca vi o céu sem luz, nunca vi peixes voadores ou amanheceres sobre as ondas. Mas já visitei navios ancorados, só para ver como era... 
E hoje, quando a noite é fria e dolorosa, recupero a fotografia da escada de portaló que me fez tremer, por vacilar, quando visitei o navio Escola Sagres. Mulher de terra, com raízes neste Alentejo tão meu, não consigo deixar de sentir uma atracção temida, paradoxo assumido, pelo mar e pelas ondas. Olho a escada corredor, estreitinha e a abanar, e penso que, muitas vezes, devia haver na vida também escadas de portaló, para nos avisarem que íamos entrar num mundo diferente, para nos prepararem para marés de desilusões, ondas de tristeza e tempestades de real destruição...
Hoje, se houvesse um navio que rumasse ao sonho-real, eu embarcaria sem receio dos tremeliques da escada de portaló!

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Bluff...

Embora tente não ouvir notícias (sei que é indecente, mas já não tenho resistência...), tenho ouvido, sobretudo em conversas de amigos, muitos elogios ao Presidente da Câmara de Lisboa, António Costa. Até a socialistas militantes, e convictos, tenho ouvido defender que ele seria o leader ideal para o PS, a figura perfeita para primeiro ministro de Portugal ou até, um dia, o ideal Presidente da República portuguesa. Eu, que até simpatizo com este senhor, sorrio e aguardo. 

Há uns dias, mudei de ideias. Mudei de ideias porque, passeando em Lisboa, nessa Lisboa linda de luz única, encontrei o caos! Em pleno Bairro Alto, caminhando para a turística Brasileira do meu/nosso Poeta, defrontei-me com imensas dificuldades de circulação... Eu levava a minha neta, logo um carrinho de bebé, e os buracos, crateras, impediam-me de circular. Ao tentar avançar pelo passeio, esbarrei com caixotes de lixo  que me atiraram para o meio da estrada, assustada e com medo de ser atropelada. Reparei então que Lisboa, a tal Lisboa postal que quer cativar turistas, está degradada, suja, maltratada. Tirando o Terreiro do Paço, onde depois de anos de intermináveis obras se pode agora caminhar, nada foi feito. A avenida da Liberdade, com o novo regulamento do trânsito, está mais caótica do que nunca; os imóveis estão grafitados e sujos, os passeios esventrados, as ruas esburacadas. O que fez este deus a haver? O que fez, de facto, o Dr. António Costa para os portugueses, alguns, terem tanta esperança nele? Eu, sinceramente, não tenho esperança nenhuma. Para mim, este senhor é um bluff!

Olhando os potenciais responsáveis do futuro próximo, apenas Rui Rio me merece, ainda, alguma atenção e confiança.