segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O Pardal

Há um pardalito, preto e branco, de bico luzidio, que há cerca de uma semana não sai da minha janela. Salta, bate no vidro, bate as asas, volta a saltar. Não sei o que lhe deu, mas gosto da companhia (relativamente) silenciosa que me faz. Já me trouxe de volta o rouxinol de Bernardim, já me fez lembrar muitos textos lidos e, hoje, fez-me ir buscar migalhas de pão e arroz pensando que tinha fome. Mas não comeu. Continua aqui, batendo no vidro, como se tivesse uma grande urgência em contar-me um segredo. Paro os afazeres e fico a olhá-lo, bem no fundo dos olhos escuros e pequeninos, tentando ler as palavras que desconhece. Será que me quer falar de sonhos? Será que foi enviado pelo Fado para me anunciar um amanhã diferente? Olho-o e escuto-o. Fala-me do tempo que não conheço, da ineficácia das minhas urgências constantes, da ausência de magia na ternura que sempre se adia. Depois, sorri. Diz-me que é feliz porque não pensa, porque não sente, porque não tem telemóvel, porque bate as asas quando quer... 

2 comentários:

  1. Ó Luisa, mas esse passarito que diz ser "preto e branco de bico luzidio" não é certamente um pardal! Porém como não percebo nada de ornitologia não posso mandar palpites, mas pardal não é com certeza!

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    1. Dalma, fartei-me de rir com o seu comentário! Para mim, tirando galinhas, perus e cegonhas, tudo o que tem asas é pardal!! Eu não gosto de penosas, e acho que inconscientemente me recuso a distingui-los...

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