segunda-feira, 30 de setembro de 2013

OS VOTOS

Foi com apreensão que assisti aos resultados eleitorais.O anúncio de uma vitória estrondosa do PS, para mim que não confio nos socialistas e que tenho bem presentes as barbaridades dos governos PS, assustou-me. Para complicar as coisas, os resultados de Portalegre tardavam a aparecer... Angustiada, pedi ajuda à Rádio Portalegre e, finalmente, uma boa notícia: Em Portalegre o PS não ganhou! A candidatura independente, embora ideologicamente próxima da social democracia, arrancou uma maioria absoluta! Festejei! Pelo menos por aqui, no meu mundinho, não aconteceu o pior...
Vejo o voto no PS como uma forma de castigar o governo da coligação, não acredito que os votos fossem iguais se se tratasse de eleições legislativas mas, ainda assim, faz-me confusão esta maioria socialista. Vejo com bons olhos, por outro lado, as muitas vitórias dos independentes. De facto, os Partidos parecem só praticar a baixa política e é bem importante, e urgente, que se mudem as práticas. 
Afinal, embora a noite tivesse começado assustadora, as coisas não foram tão más como eu temia e o CDS conseguiu cinco câmaras!!

domingo, 29 de setembro de 2013

ALDEIA DA LUZ


Saí de casa bem cedo, aqueci a manhã chuvosa e cinzenta com a bica no mercado de Portalegre e fiz-me ao caminho. Esperava-me mais um sábado de formação de professores, bem longe, na Aldeia da Luz, no lugar onde o Alentejo se faz líquido, Curvei pela Serra d'Ossa vazia, sorrindo com tristeza ao apela de um cartaz "Proteja a floresta", num lugar onde só há restolho, não entrei no Convento de São Paulo (mas hei-de voltar lá!), e, subitamente, a paisagem mudou. Agora, pouco depois do Redondo, a água abundava dos dois lados da estrada. Abrandei  e fui-me enchendo de imagens fantásticas. Água, e terra amarela - Alentejo mesmo - numa harmonia que me pareceu perfeita. Num instante, porque as duas horas de viagem passaram num instante, entrei na Aldeia da Luz. 
O vazio impressiona, o silêncio ensurdece. Portas fechadas, janelas cerradas, ruas sem vida. Valeu-me o GPS, certeiro, que, sem que eu precisasse acordar ninguém, me levou direitinha até ao Museu da Luz. 
Encontrei um espaço carregado de sentido. De sentidos. No largo, uma série de cruzes, a igreja branca, os muros de xisto. Dentro do museu, transbordando paz, a história da outra Aldeia da Luz, agora afogada
O dia voou, conduzido por duas fantásticas formadoras vindas da Gulbenkian, descobrindo livros, construindo espaços de textos e sonhos. Talvez lugares onde cabem sonhos...
Cheguei cansada, debaixo de trovoada intensa, mas sentindo que há momentos que fazem sentido na vida de professora. Sacrifiquei um sábado, mas valeu a pena. Quando a formação é a sério, todos os quilómetros se justificam!!
(Daqui a pouco vou votar, mas nem quero pensar nessa tristeza....)

sábado, 28 de setembro de 2013

ABISMO


Ela vinha de lado nenhum. Partira do espaço vazio, do que fica depois do caos, dos escombros de um passado que era, agora, inexistente. Ele chegou cansado, devolvido de uma existência atribulada onde, por quanto tempo?, se perdera. Os dois olhavam o abismo e os dois se olharam também. No olhar do outro, cada um encontrou eco, ainda que não resposta. Falaram a mesma linguagem, sem ontem, sem amanhã, num presente de sentidos nada lógicos. Ela sorria com o olhar, ele gargalhava com o corpo inteiro. Depois, afastaram-se do abismo e partiram. Ele voltou à vida onde era marioneta para o mundo; ela retomou o andar cauteloso sobre escombros que doíam. Sem ser nada, sequer o início de uma possível história de amor, foi o olhar do abismo que os uniu na distância em que, para sempre, se mantiveram. Nonsense? Ou a vida?

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

É BOM SER MULHER!!! (Na boca dos Poetas...)


A Mulher

Se é clara a luz desta vermelha margem
é porque dela se ergue uma figura nua
e o silêncio é recente e todavia antigo
enquanto se penteia na sombra da folhagem.
Que longe é ver tão perto o centro da frescura

e as linhas calmas e as brisas sossegadas!
O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço
que no umbigo principia e fulge em transparência.
Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo
que em espiral circula ao ritmo da origem.

Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola
do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa.
O seu sorriso é a distância fluida, a subtileza do ar.
Quase dorme no suave clamor e se dissipa
e nasce do esquecimento como um sopro indivisível.

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Homenagem


É por Ti que Escrevo

É por ti que escrevo que não és musa nem deusa
mas a mulher do meu horizonte
na imperfeição e na incoincidência do dia-a-dia
Por ti desejo o sossego oval
em que possas identificar-te na limpidez de um centro
em que a felicidade se revele como um jardim branco
onde reconheças a dália da tua identidade azul
É porque amo a cálida formosura do teu torso
a latitude pura da tua fronte
o teu olhar de água iluminada
o teu sorriso solar
é porque sem ti não conheceria o girassol do horizonte
nem a túmida integridade do trigo
que eu procuro as palavras fragrantes de um oásis
para a oferenda do meu sangue inquieto
onde pressinto a vermelha trajectória de um sol
que quer resplandecer em largas planícies
sulcado por um tranquilo rio sumptuoso

António Ramos Rosa, in 'O Teu Rosto'

Outono


Querendo impor o calendário, o Outono começa a chegar. Na noite escuto o vento fresco, oiço as nozes que caem da nogueira carregada, deixo entrar o cheiro a terra molhada - a chuva anunciada - de que tanto gosto. O sono fugiu para longe, talvez para o lugar das férias que acabaram, mas a insónia, hoje, é suavemente perfumada de memórias e esperas. Espero o Outono de que tanto gosto! Vejo já os castanheiros do Porto de Espada, enormes, prenhes de magustos a haver. Antecipo as manhãs cinzentas, a exigirem o casaco, a descida para a cidade ainda envolta no edredon de nuvens. Recordo outros Outonos, tempos em que o Tempo fazia sentido, e não experimento nenhum saudosismo amargo. Sabe-me bem o presente, agora, escuro, incerto, mas fresco e perfumado.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Comparações??


 Imagino D. Henrique, o infante sonhador, ajoelhando na pequena ermida, perto de Sagres, para pedir a Deus, e à Virgem de Guadalupe, bons ventos, boas marés, bons portos para receberem o sonho português. 
Vejo-o chegar, de longo manto e escolta nobre, ajoelhar e rezar. Quero crer que tinha um sonho, uma ambição para Portugal e que, por isso, trabalhava e apoiava os homens dos Descobrimentos. Vejo-o com alguma inveja...Gostava de ter vivido num Tempo em que os leaders tivessem sonhos de grandeza, ousadias para o meu país. Hoje, o que vejo é gente sem sonhos, sem ambição nacional. Oiço e vejo candidatos miméticos, propostas ocas e promessas ridículas. Vejo em Oeiras, estranhamente, anunciar que se pretende continuar Isaltino. (Este senhor não foi preso?!) Oiço anunciar empregos, como se estes estivessem numa gavetinha da cómoda da presidência, e pasmo de revolta e angústia. Com certeza, quero crer, haverá propostas razoáveis e verdadeiras, mas eu não as encontro! Como se pode garantir, por exemplo, que haverá manuais escolares gratuitos para todos os alunos do Ensino Básico?! Como se pode afirmar que se vai criar emprego na minha cidade de Portalegre?! Lembro que o Infante D. Henrique, portador de sonhos, pedia a intervenção divina, mas, hoje, acho que nem os céus poderiam valer a tanta loucura...


terça-feira, 24 de setembro de 2013

O BONÉ

Entra com o boné enterrado sobre a montanha de cabelos ásperos. Traz a mochila quase vazia, pendurada ao fundo das costas, riscada de negro e vermelho. Entra com um b'dia azedo, arrasta a cadeira, estica as pernas e espera. Peço-lhe, delicadamente, que tire o boné. Alego que me incomoda, porque no "meu tempo" os homens tiravam o boné dentro de casa. Ele obedece. O boné morre em cima da mesa, alto, agressivo e sujo. Cruza os braços e olha-me em desafio. Digo-lhe que tem uns olhos lindos, pergunto-lhe se está zangado comigo... Surpreende-se. Porque havia de estar?! E eu digo-lhe que estava preocupada por pensar que poderia, sem querer, ter feito alguma coisa que o chateasse. Se assim não fosse, porque falaria para mim com tais maus modos?! Ele pára, parece pensar, e conclui que não há nada vindo de mim que o incomode. Esclarecidas as relações, começa a aula. Peço-lhe que abra o livro, e responde-me que não tem disso. Os olhos saltitam, não me fixa. Olha para mim, por favor, peço. E falo-lhe com a ternura que sinto que ele pede. Sento-o ao meu lado, vamos partilhar o livro?, e peço-lhe que leia. Soletra. Os seus catorze anos lêem como se tivesse seis. Fico aflita! Que necessidade tenho de o sujeitar aquilo?! Leio eu. A sorrir, rodando o boné em cima da mesa, ele elogia a minha leitura... A aula vai correndo, ele escreve na folha que lhe dei, com a caneta que lhe emprestei.
Quando a campainha toca, todos saem e ele fica. Saímos juntos, comentando o Benfica e o Sporting. Sem saber bem porquê, sinto o meu coração mole. Talvez, apesar de muitos pesares, a compreensão e a verdade sejam a chave para abrir corações e permitir aprendizagens. 

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O VÍRUS

O Dr. Nuno Crato deve estar doente. Tem de estar doente. Só pode estar doente! Eu não consigo acreditar que uma pessoa diga tais enormidades, se contradiga com tanta frequência, legisle tantas loucuras, sem ser por motivo de doença. Deve ter sido atingido por um vírus desconhecido, capaz de esvaziar de massa cinzenta o cérebro de um qualquer mortal! Como é possível que este senhor, que defendia um ensino de rigor e qualidade, venha agora dizer que aprender inglês é facultativo,  que os exames garantem ensino de qualidade, que a escola  pública continua a ser de sucesso??
O que eu vejo, diariamente, são os bons alunos a arranjar explicações, os pais que podem a inscrever os filhos em Institutos de línguas, e a Escola Pública a tornar-se num vazio total.
Todos os anos, há cerca de dez, viajo com alunos para o estrangeiro, no âmbito do Programa COMENIUS, e sempre me dói ver que a maior dificuldade dos meus alunos, quando integrados em turmas de outros países, é exactamente o domínio do inglês, a fraca competência linguística numa língua que, hoje, é unificadora. Talvez o inglês n 1º ciclo não fosse, por vezes, de grande qualidade. Mas era, sem dúvida, uma introdução à língua! Agora, os alunos, que por acaso (ou por azar) são portugueses, vão perder essa possibilidade... Tal como os alunos do secundário, em turmas de 30!, vão perder a possibilidade de ter um ensino mais individualizado e personalizado.
O Dr. Nuno Crato, que já deve ter perdido o seu Eduquês, carece de tratamento médico urgente. Só pode!

domingo, 22 de setembro de 2013

OS PORTUGUESES

Os portugueses cospem no chão. Os portugueses tocam a buzina mal o sinal passa a verde. Os portugueses trocam o voto pela praia. Os portugueses deitam papéis para o chão. Os portugueses assobiam para chamarem os amigos. Os portugueses cobiçam uma mulher bonita (e não bonita também). Os portugueses fazem filas amontoando-se. Os portugueses estacionam em segunda fila. Os portugueses gostam de muito vinho. Os portugueses comem frango assado à mão. Os portugueses sujam as casas de banho públicas.
MAS

Os portugueses são poetas. Os portugueses têm Lisboa. Os portugueses trabalham a sério. Os portugueses são simpáticos. Os portugueses suportam as dificuldades sorrindo. Os portugueses gostam do sol. Os portugueses falam com energia. Os portugueses têm uma História cheia de estórias. Os portugueses aguentam a vida com resistência. Os portugueses conhecem o mar. Os portugueses escrevem romances. Os portugueses comem pastéis de nata.
Por isso, a Europa que se dane, a Troika que desapareça e deixem-nos ser portugueses!!

sábado, 21 de setembro de 2013

OUVIR

Ouve o que tenho para te dizer. Ouve com atenção, olhando nos meus olhos, sentindo a macieza da ternura, a aspereza do meu desânimo. Ouve-me sem ligares a televisão. Ouve-me com o corpo inteiro, centrado no que digo e não no que queres ouvir. Ouve-me quando te falo em silêncio, ouve-me quando te aperto a mão num discurso codificado. Ouve-me assim como sou, sem ordem nas palavras, sem sentires convencionais. Ouve-me. Não condenes, não julgues, não opines. Ouve só! 
Sabes, é que cada dia é mais difícil encontrar quem oiça porque, sei lá eu porquê, cada um só quer falar. Dizer coisas. Por isso, ouve. experimenta calar-te e ouvir. Ouve o vento a tocar Orpheu, ouve o medo do gato que subiu à árvore para fugir do cão, ouve o olhar vazio da criança romena que pede um bolo à porta da pastelaria. Ouve a mentira gritada nos megafones das campanhas eleitorais, ouve o desânimo que inunda o olhar. Ouve a guerra que mata longe. Ouve o mundo que geme sofrendo. 
Mas ouve também a gargalhada solta, as perguntas curiosas das crianças, as palavras amigas que te amparam. Ouve. Por favor.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Coisas de Gostar

Gosto de caminhar à beira-mar. Gosto da minha Serra. Gosto de um abraço forte e inteiro. Gosto de rir. Gosto de olhares cúmplices. Gosto de sonhar.
Gosto dos meus netos, das minhas filhas, do meu amor, dos meus sobrinhos, dos meus alunos, dos meus amigos. Gosto do inverno, do vento e da chuva, do manto cinzento que embrulha a realidade. Gosto de cães, de campo, de caminhar por azinhagas com pedras e verdes escorregadios. Gosto da verdade. Gosto de ler, quando tudo e todos estão em silêncio, os velhos romances da minha adolescência. Gosto da poesia suave, das palavras musicadas, da ternura doce. Gosto do sol na praia, da espuma das ondas, de nadar livre. Gosto dos amigos em casa, dos almoços compridos em volta da mesa de pedra, da fonte a correr. Gosto de vinho branco, fresco. Gosto de uma caipirinha caprichada. Gosto dos monumentos do meu país, das estórias da História, de Pessoa e de Camões. Gosto de ser feliz e acho, de verdade, que é preciso treino para se conseguir sê-lo. Dá trabalho ser feliz, vai contra a maré de infelicidade que parece vingar. Eu gosto deste exercício de gostar!

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O URSO

No bicho, urso, havia algo que comunicava. A ela parecia surpreso, curioso; a ele, vazio, com cara de pouco esperto. Os dois olhavam-no brincando, interpretando o olhar como interpretavam a vida, em uníssono, descobrindo em cada amanhecer uma nova oferta, uma nova possibilidade. Vinham de passeio, final de férias, e aquele bicho ali, no Museu perdido e desconhecido, obrigara à paragem. Por ali andara, leram, a dinastia de Avis. Outros tempos... E ela falava do Portugal perdido, dos poetas ausentes, da mágoa de ver as novas gerações desistir da esperança, arrumar o sonho. Ele discordava, pragmático, afirmando que sempre houvera tempos terríveis. 
De repente, o silêncio foi rasgado, com violência, pelo som roufenho de um automóvel em campanha eleitoral. No chão ficaram papeis coloridos, no ar a voz incómoda.
Os dois continuaram viagem, agora em silêncio, lembrando, talvez, a necessidade de Educação que já a Mãe da Dinastia de Avis defendera...

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Coincidências ??

 De pescoço esticado, elegante e firme, desliza sobre a água. Não traz séquito, não precisa de apoios, parece-me feliz na sua ignorância de felicidade, na sua ausência de ambição. Vejo-o passar, bailarina perfeita, e invejo (um pouquinho) a sua tranquilidade.
Mais além, por perto, reparo nos cágados, enormes e gordos, deselegantes, escuros e escorregadios. São répteis, e eu não gosto de répteis. Sentada na esplanada próxima observo-os e, sem que perceba porquê, penso nos cartazes dos candidatos políticos que, agora, enchem esquinas e paredes da minha cidade. Do meu país. Volto a olhar os cágados. Já me parecem mais simpáticos...

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Não é desta

Já reencontrei os meus alunos. E que me interessa (hoje...) o Ministério e as suas anormalidades?! Estou de baterias carregadas pelos olhares curiosos e pelas saudades que senti e que sei que eles sentiram. Fez-me bem voltar a ouvi-los perguntar sobre ousadias, a sorrirem a desafios, a exigirem muito de mim. Foi bom ver como cresceram, como têm sonhos, como querem ser melhores. Os melhores! A Escola é isto: Alunos e Professores a construírem teias de cumplicidades, a criarem processos de aprendizagem. E isso, o senhor Ministro que me desculpe, mas ainda não será ele que me vai roubar!

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A VERDADE

Não quero nem saber porque razão o Ministério da Educação insiste em dizer falsidades. Revolta-me ouvir afirmar que tudo está bem, que não há constrangimentos (palavra idiota esta!), que o ano lectivo começou com normalidade. É que a VERDADE, verdade mesmo, não é esta!
 A VERDADE vivida é outra...
1 - Há turmas com mais de trinta alunos. MUITAS!
2 - Há turmas com alunos NEE (Necessidades Educativas Especiais) e mais de vinte e cinco alunos;
3 - Há professores sem nenhuma formação específica para tal (eu!) a trabalhar com jovens com NEE sem saber como...(faz-se mais devagarinho??);
4 - Há jovens de 16 anos enfiados em turmas de miúdos de treze;
5 - Há projetos sem espaço de horário para se desenvolverem;
6 - Há um professor de Ensino Especial para dar apoio a três Escolas (ou mais)!!
7 - Há escolas proibidas de fazer fotocópias para além de testes, porque não há dinheiro;
8 - Há alunos impedidos de realizar visitas de estudo por não poderem pagar;
9 - Há salas com temperaturas ambientes superiores a 35º onde se assa (literalmente);
10 - Há alunos que não estão na escola que desejam, embora haja vagas;
A verdade, em termos de educação, é que se quer enganar quem aprende e quem ensina. O ensino público, com certeza com algumas excepções, vive da boa vontade dos professores, do seja o que Deus quiser (tão português) e da passividade de um povo que parece anestesiado! Onde estão os órgãos de comunicação social para desmascarar esta situação? Onde estão os pais que vêem os seus filhos ser forçados a mudar de escola?!
Já chega de mentiras! Ao menos que o ME tenha a coragem de dizer que as coisas não estão bem, mas não querem fazer melhor... Que desespero!

domingo, 15 de setembro de 2013

Silêncio

Está tudo calado. Oiço o silêncio que estala na mobília de que gosto, escuto as conversas das personagens dos muitos livros que enchem as estantes. Em mim, ecoam sonhos, receios, inseguranças e certezas. 
Gosto do silêncio. Gosto da noite assim, minha e calma, com a alegria de estar acordada sem insónias de doer. No silêncio escuro afasto as conversas incómodas, as certezas alheias, as críticas frequentes. 
Calo tudo, oiço só, baixinho-baixinho,o meu coração vivo a falar de vida. Da minha!

sábado, 14 de setembro de 2013

A Chihuahua


 Sentou-se na esplanada, com 1,5kg de cão ao colo. Perdão, cadela. O laçarote rosa, o ganchinho cuidadosamente colocado no pelo enrolado, não deixavam margem para dúvida, e a pequena Chihuahua não devia achar graça a confusões de sexo. Pediu um chá gelado, que não havia, e bebeu uma limonada, que havia. Com o telemóvel sofisticado, decerto um Iphone de última geração, fotografou a Torre de Belém com sofreguidão. Como se quisesse guardá-la só para si, ou como se quisesse compreender aquele monumento assente na água, ou como se pretendesses captar um passado que não vivera, ou, apenas, com a fúria moderna que faz telemóveis dispararem furiosamente sobre tudo e todos. A mulher sozinha, ou melhor, as duas figuras cuidadas, prenderam a minha imaginação. Alguma vez, no momento de construção deste monumento incrível, os homens teriam sonhado que pouco mais de um quilo de cão (cadela) pudesse sentar-se à mesa e beber limonada de um pratinho? E imaginaria aquela mulher moderna os sacrifícios por detrás do monumento? De repente, ouvia em mim as Despedidas de Belém, o choro de outras mulheres, a angústia certa de muitos homens. 

Veio Camões desafiar as tágides, vieram os frades abençoar as caravelas, vieram os portugueses sonhando alto, sonhando longe, querendo mais e melhor. Era o Tempo de ousar e não, como hoje, o tempo de lamentar e desistir...
Agora, a velha Torre é pedra morta, suja e gasta, como os sonhos mortos dos portugueses perdidos. 
No alto, a lua marcava presença, ainda que o sol brilhasse, como que garantindo que a noite existe mesmo quando o dia se enche de luz. A mulher moderna beberricava ainda a limonada, afagava a bichinha e olhava a Torre. Subitamente, um homem chegou, beijou-a friamente e sentou-se. Ela apontou a Torre, ele pediu uma cerveja. Ficaram conversando, ele vendo no telemóvel as fotos que ela tirara, esquecido de que o original e real estava mesmo ali. Lembrei-me de como, tantas vezes, nos perdemos no virtual esquecendo a proximidade do real (ainda) possível. 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

SAPATOS VERMELHOS

Lera, algures, que um par de sapatos vermelhos faz uma mulher feliz. E ela, que nem era supersticiosa, nem lia revistas de moda, nem gostava de compras, decidiu tentar a sorte, neste caso a de ser feliz, com uns sapatos vermelhos. Não havia lógica, nem razão, na afirmação que lera mas, que diabo, também não perdia nada em tentar. Afinal, se a felicidade não era racional, se pelo coração ainda não a tinha encontrado, porque não poderia acontecer que lhe entrasse pelos pés?! Dedicou, por isso, a tarde de sexta-feira, tarde sem trabalho, a procurar os sapatos vermelhos. Calcorreou a Baixa, viu restos de colecção, promessas de colecção, modelos antiquados, modelos ousados, sandálias, botas, botinas a lembrarem-lhe a Juliana do Primo Basílio, mas não encontrou os sapatos promissores da dita sorte. Cansada, com os sapatos pretos a fazerem-lhe doer os pés, sentou-se na esplanada cosmopolita e pediu um capuccino e um pastel de nata. Quando decidiu voltar a casa, desistindo de acreditar que a felicidade lhe entraria pelos pés.., trazia na alma o sabor da canela. Vinha carregada de viagens que nunca fizera, de mares que não conhecera, de livros que decerto lera. Sorria sozinha, segura de que, afinal, os sapatos vermelhos eram pura magia: - Mesmo sem os encontrar, estava mais feliz! 

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O GALO


Há um galo que vai ser alvo de um processo judicial. Em Portugal, claro... O galo, por acaso bem feio, ousa cumprir a sua natureza e canta bem cedo, acorda os vizinhos, perturba o descanso (dizem) e, vai daí, foi feita uma queixa à GNR e a dona do galo será alvo de um processo judicial. Eu oiço a notícia e desconfio da minha capacidade de ouvir e de ver. Será mesmo verdade? Será mais uma aberração a juntar à ideia do BE de punir os piropos, ou galanteios, que alguns homens dizem às senhoras?! 
Se o galo for condenado, provavelmente à morte - uma pena que não existe em Portugal, eu vou fazer uma petição para que acabemos com tantos animais políticos que nos incomodam muito, mas muito!, mais. Há alguns que, em vez de me acordarem para um novo dia de felicidade, me tiram o sono e me povoam a vida de angústias e revoltas, e que, ainda por cima, nem têm dons canoros...

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

SINAIS

Todos os anos, há tanto tempo que perdera a data primeira, escolhia aquele lugar para um descanso. Por vezes, concedia-se uma semana inteira, punha leituras em dia, caminhava, surpreendia-se de novo com o branco e azul do Alentejo-mar; outras vezes eram apenas dois dias, um fim-de-semana apressado, a urgência de carregar baterias para continuar vivendo, lutando. Cumprindo a rotina querida, ali estava de novo, caminhando cedo na bruma, tomando o último café na pracinha de pedra, olhando o mar embrulhado num frequente cobertor de humidade cinzenta. O farol ali estava sempre, atento, dando indicações preciosas aos barcos que entravam no pequeno porto. Como ela gostaria que houvesse, na sua vida, um farol certeiro e seguro...

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

PERSPECTIVAS

Dá voltas e voltas, é íngreme e estreita mas, lá no alto, há uma vista imensa a desafiar a alma das gentes. Às vezes, na vida acontece assim. A gente sobe, desce, dá voltas, tropeça, esfola-se, e nem sequer no fim o horizonte compensa. Mas também acontece o contrário e, quando assim é, as subidas e descidas, ainda que a pulso e com esfolões intensos e graves na alma, vale a pena!

terça-feira, 3 de setembro de 2013

A ESCARPA


Na ponta da escarpa, com vista privilegiada sobre o mar, num lugar dificilmente acessível aos homens, as gaivotas construíram
 o ninho. 
Foi uma tarefa árdua, trabalharam em conjunto, gritando ordens uma à outra, carregando pedaços de terra, limos, palhas, e até alguns pedaços de rede que os pescadores abandonaram. Agora, com a casa pronta, aninham-se ternas e tranquilos. Têm a sorte de não poderem saber que existe amanhã, que uma tempestade pode destruir-lhes o aconchego, que o vento forte de inferno pode levar pelo ar o seu abrigo. São felizes porque, simplesmente, não sabem que o são. Não ambicionam nada, não sofrem decepções e os voos picados enchem-lhes os estômagos sempre que necessário. 
Lembro Pessoa :
"Gato que brincas na rua// como se fosse na cama// invejo a sorte que é tua// porque nem sorte se chama". 
Eu também invejo a paz segura das gaivotas que vivem na ponta da escarpa!

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Azedo

Nunca percebi muito bem a ideia das pessoas quando dizem: "Acho que isto está azedo. Prova lá!"... Nunca provo, mas fico sempre a achar que é uma atitude parva, assim como aquela mania de dizermos chove imenso debaixo de uma carga de água, como se só nós dessemos pelo óbvio. Bom, mas o azedo é pior. E, pior ainda, é quando o azedo nos entra na vida e temos de, de alguma forma, o digerir. Porque há pessoas azedas. Pessoas que cumprimentam com fel, saúdam com vinagre e fazem esgares repelentes quando fingem conversar. Com a idade, ou com a vida?, cada vez me apetece menos ter de conviver com pessoas azedas. Dá-me sempre vontade de dizer: - Não quero provar, obrigada!
Apetecem-me pessoas dentro do prazo de validade, capazes de sorrir, parceiras e não agressivas. Cada vez me apetece mais açúcar na vida mas, sei lá porquê, cada vez mais esbarro com gente azeda e mal encarada a quem nem as férias parecem ter feito bem...

domingo, 1 de setembro de 2013

Novo Ano

Vai começar, já amanhã, mais um ano lectivo. Como sempre, experimento um misto de emoções... a vontade de fazer melhor, a expectativa de conhecer novos alunos, as saudades dos antigos, o medo - quase pânico - , de enfrentar novas regras e leis.
Avizinha-se um ano muito duro e, apesar de uns dias de boas férias, estou exausta. Haverá grandes mudanças na minha escola e eu tenho medo. Defendo, sempre defendi, uma Escola de mais rigor, mais exigência, mais disciplina. Mas defendo, também, uma Escola mais humana, mais feita de afectos e cumplicidades, mais centrada na pessoa que mora em cada aluno e não na burocracia. Temo os currículos alternativos a atestar (in)competências, os cursos profissionais feitos de coisa nenhuma, a Escola que não é para todos apesar de, politicamente, ser apelidada de "inclusiva"... Amanhã, vou acordar para um novo quotidiano. Vou reencontrar colegas amigos, conhecidos e, com certeza, colegas de quem nem gosto. Mas, amanhã, a nossa preocupação (desejo eu) será comum: - Fazer uma Escola melhor, ajudar a construir um mundo diferente. Depois, dia 16,  virão os alunos e, aí, o meu mundo voltará a fazer sentido!