sábado, 21 de setembro de 2013

OUVIR

Ouve o que tenho para te dizer. Ouve com atenção, olhando nos meus olhos, sentindo a macieza da ternura, a aspereza do meu desânimo. Ouve-me sem ligares a televisão. Ouve-me com o corpo inteiro, centrado no que digo e não no que queres ouvir. Ouve-me quando te falo em silêncio, ouve-me quando te aperto a mão num discurso codificado. Ouve-me assim como sou, sem ordem nas palavras, sem sentires convencionais. Ouve-me. Não condenes, não julgues, não opines. Ouve só! 
Sabes, é que cada dia é mais difícil encontrar quem oiça porque, sei lá eu porquê, cada um só quer falar. Dizer coisas. Por isso, ouve. experimenta calar-te e ouvir. Ouve o vento a tocar Orpheu, ouve o medo do gato que subiu à árvore para fugir do cão, ouve o olhar vazio da criança romena que pede um bolo à porta da pastelaria. Ouve a mentira gritada nos megafones das campanhas eleitorais, ouve o desânimo que inunda o olhar. Ouve a guerra que mata longe. Ouve o mundo que geme sofrendo. 
Mas ouve também a gargalhada solta, as perguntas curiosas das crianças, as palavras amigas que te amparam. Ouve. Por favor.

2 comentários:

  1. No fundo este alerta quererá dizer- Vive. Dá-te conta da vida, aqui e agora...
    Que bom conversar com pessoas em silêncio.Há pessoas que só falam.
    Que lindo.
    Beijinho.

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  2. Saber ouvir, mais do que uma arte... é também uma forma de amar...
    E ficar no silêncio é, também, um respeito ao amor...

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