domingo, 24 de dezembro de 2017

Véspera de Natal

Guarda as armas, enfia no saco do lixo a desconfiança, sacode a negrura do teu coração. Depois, sorri! porque é Natal, porque cada hoje é novo, porque o ontem não existe mais, porque só há impossíveis para os fracos, porque só perdem os que desistem. 
Sim, estou feliz! Feliz porque estou viva, posso sorrir, acreditar, sonhar e chorar as lágrimas que, tantas vezes, me lavam a alma.
Talvez, afinal, o Natal seja também isto - esta capacidade de reinventar a Vida, de recuperar a felicidade. 
É véspera de Natal e estou feliz! Tenho uma montanha de boas memórias, deitei no lixo as desilusões e vou rir-me perante cada novo obstáculo. 
Sim estou feliz! Porque as verdades alheias ficam-me curtas, porque a minha realidade se pinta com as cores que escolho da palete que Deus nos oferece sempre.
Sim, é véspera de Natal e eu estou feliz porque não carrego ácidos, porque me purifiquei da amargura, porque eliminei as nódoas negras da vida!
Obrigada, Jesus por me ensinares o AMOR!

sábado, 23 de dezembro de 2017

FALTA UM BOCADINHO

É quase Natal. Talvez por ser sábado, o movimento acalmou e oiço o silêncio da minha emoção. Tenho netos a chegar, sei que a ternura e o carinho me vão envolver, mas ainda assim sofro. Dói a ausência de quem desejo, fere a constante agressão, comboio de ódio desenfreado. Queria presente a ausência, queria palavras de amor e compreensão. Queria, afinal, ter de volta aquele enorme bocadinho que me falta para um Natal feliz...🤔

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Madrugada

Olá madrugada. A luz amarela, lá fora, denuncia frio. Vejo-a daqui, do quente da minha cama, tentando distrair as lágrimas teimosas. Vou hoje despedir-me de mais um amigo. De um colega rabugento mas fantástico, verdadeiro e enorme professor. 
Estou tão cansada de despedidas! Acredito , tento..., que há sempre uma madrugada grávida de possibilidades, mas temo que os anoiteceres, a escuridão, se imponham à nova luz. 
Tenho em mim toda a tristeza do mundo. 
E tenho de sorrir, porque a tristeza é um luxo que não posso permitir-me. Os outros não a merecem. Daqui a pouco vou levantar-me, vou chorar o adeus. Depois, o meu colo acolherá os netos e a vida continuará a cumprir-se. Assim. Indiferente, vezes demais, aos meus desejos, impondo os seus possíveis. Daqui a pouco será manhã. Daqui a pouco...

domingo, 17 de dezembro de 2017

FIM?

Li, não sei onde, que às vezes é preciso que haja um fim, para que a felicidade aconteça. Frase mais parva! 
Um fim é, habitualmente, um esfrangalhar doloroso de sentires porque, se há fim, é porque houve, um dia, um início. Porque existiu um durante que falhou! O fim não alivia. Mata devagarinho, sinto eu!

CONTO DE NATAL

Era um dia de vidro. O frio, intenso, tornava os movimentos das aves difíceis, o ladrar dos cães rouco e a conversa das gentes murmúreos. Caminhava na cidade, compras obrigatórias, a carteira  a pedir clemência. Tinha de ser. Não ía deixar passar a Noite  apenas com sono. Não! Era a Noite e, mesmo que sozinha, para ela era especial. Por isso, esticou os cêntimos, comprou um pedaço de perú, tomates bem pequeninos e um ramo de coentros. Haveria, ainda,de juntar alecrim, mas esse, sorte!, resistia no quintal. Reparava nos passos apressados, nos narizes e nas bochechas vermelhas, e sorria também. Se lhe perguntassem porque sorria, diria ser a ceifeira, felizmente inconsciente.
Mas ela tinha consciência. Lembrava outros Natais, a casa cheia, o marido presente os filhos pequenos. Tudo tinha sido e, por isso, seria sempre na memória que trancava no coração. Do marido sentia falta do abraço, das pernas que à noite se enroscavam nas suas. Partira, também. Ouro amor, outra mulher, um adeus. Dos filhos lembrava os cheiros - tantos - e agradecia estarem felizes, longe, sem virem no Natal porque, afinal, a vida nem sempre deixa espaço para as datas necessárias. Saudades mesmo tinha dos netos! Ouvia-os lá longe, com a cumplicidade da internet, mas faltava-lhe tocá-los, dar-lhes colo, sentir-lhes a ternura a crescer. Tinha tempo. Entrou no Café e pediu um chá. Ficou a ver subir o fumo quente que a fazia procurar o lenço no bolso. Tão bom, o chá.
Ouviu o sino. Ia começar uma missa. Ou seria um funeral? Pagou e entrou em casa carregada. Com mil cuidados, como se esperasse a família distante, pôs a mesa com a toalha bordada, com o serviço melhor, com as velas acesas. Depois, foi fazer o recheio, ouvindo "All I want for Christma´s is you" e esqueceu o tempo. Estava frio! Acendeu a lareira, quase oito horas, e tomou um banho bem quente. Vestiu o vestido vermelho, calçou saltos altos, trouxe as fotografias para perto de si, serviu um copo de vinho tinto, aquecido e com canela. 
Quando a campainha tocou, nem se surpreendeu. 
Podia ser o Pai Natal, ou até o Menino Jesus porque, afinal, nos Contos de Natal os milagres acontecem!

sábado, 16 de dezembro de 2017

A MORTE

Estava frio na igreja. Aquela igreja é sempre fria, porque a morte é fria. Aproxima-se o Natal e a morte visita-me. 
Saí da casa triste, voltei pior... 
Não gosto do ritual da morte! Sei, claro, que é o fim de todos. Que mais não somos que "cadáver adiado que procria", mas, ainda assim, a morte sempre me surpreende. Porquê tanta exposição? Porque é preciso abrir a dor aos outros, dar beijos a quem mal se conhece, dar pêsames porque é socialmente correcto? A morte não devia precisar de ser pública. De repente, aquele corpo deixa de ser da família, tem de ser exposto a outros, a todos! Não compreendo. A família devia poder despedir-se no silêncio íntimo da casa. A morte devia ser discreta, privada.
Chegada de um velório, penso que está a chegar ao fim uma fase mais. Há uma geração, a que me antecede, que está a partir. Agora, eu avanço para a linha da frente e não quero ser exposta. Quando eu morrer, digam bem de mim. Ou, simplesmente, deixem tocar um tango e fechem a porta aos olhares do mundo!

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

A CAIXA

Foi um amigo que a trouxe. Tinha ficado para trás, esquecida, talvez deliberadamente abandonada pelo desejo de iludir um passado perdido, de ignorar muitas memórias irrecuperáveis. Mas encontraram-na e, com carinho, devolveram-na. Ela aceitou-a - tão cheia! - atada com uma corda para que a tampa não saltasse. Deixou-a ali, no hall, a um canto, tentando ignorar a presença incómoda. Mas a caixa gritava presente, provocante e abusadora. Finalmente, ela cedeu. Arrastou a caixa enorme até à sala e sentou-se no chão. Tantos momentos que surgiram, brutal e violentamente. Ali estava o casamento, as filhas pequenas, os passeios pelo mundo, o Pai sorrindo. Aqui estava ela, tão jovem, sorrindo, feliz, a assinar os seus livros. O primo já morto a olhá-la com ternura, os amigos presentes a abraçá-la. Depois, as cartas. Tantas promessas traídas, tanto amor dito e não concretizado, tantos sonhos feitos espuma de coisa nenhuma. Não sentia a dor dos joelhos dobrados, mas ardiam as lágrimas que faziam tremer a leitura. Porque vinha agora, tardiamente, o passado bater-lhe à porta? Porque não a deixava a vida cumprir o luto definitivo de tantas perdas? Talvez devesse queimar tudo, rasgar em mil pedaços as letras ocas, deitar a caixa enorme no lixo. Mas não tinha coragem. Sentia, apenas, uma dor imensa, funda, dilacerante. Uma dor tão forte que não permitia que as lágrimas secassem...
Porque é que aquele amigo tinha devolvido a caixa? Seria o presente a querer transformar o futuro?? Fosse como fosse, aproximava-se uma noite de insónia... Podia ter sido tudo tão diferente!!

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Presente de Natal

Sssschiuuu… não faças barulho. Vem devagarinho e senta-te aqui comigo. Sim, desliguei a televisão, e sim, as velas continuam a arder. É noite, está frio lá fora, há chuva e este momento é só nosso. Os netos não chegaram ainda, os teus filhos também não, os meus tampouco. Temos estes momentos só para nós! 
Sssssschiuuu… não vamos falar de passado, esquece lá o amanhã. Este AGORA é nosso,  vamos gozá-lo a dois. Senta aqui, deixa-me aninhar no teu colo e sentir o teu abraço. Somos só os dois!  Agora, podemos fingir que não há problemas, vamos só sentir. Sentir-nos. É bom estar no teu colo, abraçar-te e sentir na pele a tua barba por fazer. Vamos esticar um pouco mais este Tempo nosso… Afinal, é quase Natal! Vamos oferecer-nos um ao outro. Alinhas?

A ESCOLA

Mais uma vez os noticiários da manhã trazem a Escola portuguesa a palco. Os nossos alunos são os que mais reprovam, os que mais cedo abandonam a Escola...
Vão chover críticas aos professores, os mesmos vão alegar a extensão dos programas, o elevado número de alunos por turma, os horários pesados dos jovens. E é tudo verdade!
É verdade que os programas são imensos, que as turmas são grandes, que há professores que recusam perceber que, num mundo tão diferente do que era há dez anos, é impossível continuar a fazer a mesma coisa...
Os críticos vão dizer que as aulas são pouco práticas, muito expositivas, o que também é verdade.
Mas eu, que sou professora, gostava que também se dissessem outras verdades. Que há muito bons professores a tentar fazer diferente e melhor. Que há professores a adoptar dinâmicas educativas assentes em metodologias activas, que há escolas a ousar introduzir a melhoria, a lutar por cada aluno e a tentar criar verdadeiros climas de aprendizagem. Quando se fala de educação, acho eu, fica sempre o mais importante por dizer. Fala-se do que não é bom, mas ignora-se o que o é! Se os professores, aos olhos de alguns iluminados são uns bandidos incompetentes, é bom lembrar que esses mesmos que os condenam foram por eles ensinados...
Eu acredito na Escola Pública, embora não a ache perfeita. Defendo que é precisamente na Escola que se desenvolve e cria uma sociedade mais equitativa, mais humana e mais sábia (no verdadeiro sentido da palavra). Tenho muita pena, mesmo!, que haja ainda alguns professores que continuam obcecados com as médias dos testes, com os exames e os rankings, pensando que o papel primeiro da Escola é preparar alunos para as Universidades. Não é !
À Escola de hoje exige-se muito mais, e muito diferente. A Escola tem de existir em plena harmonia com o meio, olhando a pessoa que mora em cada aluno e tudo tentando para que o sucesso pessoal e social possa acontecer. Tenho pena, também, que alguns professores insistam em colocar os meninos em filas, como nos autocarros, despejando matéria, sem criarem dinâmicas que, de facto, promovam a aprendizagem.
Sei que a Escola portuguesa está muito longe de ser perfeita, mas não posso ficar indiferente à injustiça de algumas (muitas) críticas injustas. A Escola portuguesa também está em mudança e eu, sinceramente, acredito que essa mudança vai acontecer exactamente por causa dos muitos professores muito bons que existem em Portugal!

domingo, 10 de dezembro de 2017

Carta ao Pai Natal

Querido Pai Natal,
Espero que tenhas computador, instagram e facebook, conhecimentos que te permitam ler um blog porque, sinceramente, ir aos correios meter a carta é tarefa exagerada para mim. Ando com preguiça. Preguiça de fazer esforços inglórios, inúteis também. Tenho preguiça, por exemplo, de defender a tua não-existência quando, contrariamente à minha Fé, te encontro em todos os lugares. Imagina que, hoje, estavas quase mergulhado nos congelados do supermercado... Também ontem me cruzei contigo, deste por mim?, à porta de uma loja triste, um bocado de lado e com as barbas por pentear. Há uns dias comprei-te em chocolate e, desculpa, os meus netos devoraram-te num instante. Enfim, espero mesmo que tenhas computador.
Resolvi aderir à época natalícia e escrever-te. Não vou pedir-te uma casa, um carro novo, alguém que me ame assim como sou. Não. Venho mesmo pedir-te algo que, acreditando que tens alguma confiança com o Menino Jesus me podes dar. 
Alías, eu não quero pedir-te que tragas nada, quero só pedir-te que leves!
Na noite de 24, ou na madrugada de 25 se estiveres já muito cansado, leva para longe a minha solidão, leva no teu saco os destroços da minha existência, leva a maldade para o Polo Norte e deita-a ao mar feroz.
Pai Natal, este ano passa aqui com o saco vazio e enche-o das minhas mágoas. Por favor!

sábado, 9 de dezembro de 2017

LER

Ler é sempre, diria que  cada vez mais, a minha melhor opção . Hoje, numa tarde das que eu gosto, depois de um bom almoço com a amizade à mesa, voltei a Aquilino Ribeiro. Era o escritor preferido do meu Pai... É um escritor difícil, intenso e agreste como a terra pedregosa onde viveu, mas traz-me a inquietude de um Portugal, ou de um ser português, que, apesar da inegável globalização, me toca profundamente. 
Acredito que somos da terra, bicho pequeno...,e sinto que o lugar onde nos fazemos pessoas, gente, nos marca de forma acentuada. Ler Aquilino é andar nas serras de imensos calhaus, sentir a força agreste do frio que ajuda a esculpir falares estranhos, cerrados e cheios de significado. Hoje, o Malhadinhas fez-me boa companhia!

Quando eu Morrer

QUANDO EU MORRER

Quando eu morrer,
Não chorem,
Não lamentem,
Não comprem flores!
Quando eu morrer
Enxuguem as lágrimas
Quando eu morrer,
fiquem felizes 
Porque
Quando eu morrer
Eu vou ter paz.
A Paz do esquecimento!
A Paz da ausência de culpa!
A Paz da saudade inexistente!
Quando eu morrer

Façam festa!
Lancem foguetes
E dancem!!
Quando eu morrer,
Não falem mais de mim...

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

CONSTRUÇÕES

É cedo, hoje. É noite já, mas é bem mais cedo do que a hora a que, habitualmente, chego a casa. É cedo... E, no entanto, é tarde para muitas coisas. Para quase tudo!
Vim para casa com o trabalho em dia, dei banho ao Zorba, pus a música a tocar, passeei no Facebook, e vim conversar. Conversar com o silêncio da minha solidão, um silêncio que, sei lá porquê, se torna ruidoso em excesso. 
Aproxima-se mais um  Natal. Vão chegar os netos, vão instalar-se as memórias e as saudades. Tenho saudades cortantes de tempos que nunca foram reais! Estranho, admito. 
Tenho saudades das minhas filhas pequeninas, da ternura presente do meu homem, do abraço inteiro, dos cheiros a doces e a perú assado. Tenho saudades da neve a encher o quintal, dos narizes vermelhos colados aos vidros embaciados, das manhãs a quatro na cama, brincando e enchendo de migalhas e papel de embrulho a cama grande. Tenho, fisicamente, dores intensas por falta destas memórias construídas no meu desejo de ser!

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

A ASPIRINA

Compro aspirina, tomo aspirina, há muito tempo.
Aliás, seguindo as práticas da minha avó, até tomo uma aspirina quando a irritação é demais. De facto, quando a minha tristeza é muita também tomo uma aspirina e, curiosamente, às vezes funciona.

Mas ontem, em Portalegre (claro!) aconteceu-me comprar aspirinas para sair do parque de estacionamento! Supreendidos? Só quem não conheça Portalegre!

Foi assim: fui a um Seminário ao Salão da CMP. Parei o meu carrinho no parque de estacionamento da Corredoura. A meio da sessão, precisei sair num instante e corri a buscar o carro. Estava um funcionário na entrada que me disse que teria de pagar na caixa do piso zero. Corri à caixa. Dois euros e quarenta. Tentei pagar. Não tinha moedas, não tinha senão uma nota de dez euros e outra de vinte. A máquina não aceitou. Voltei a subir. O funcionário, firme no seu posto, sugeriu-me que fosse à Tasquinha. Fui. Não havia troco, tomei um café (fiquei a dever dois cêntimos, gastei as moedinhas todas que tinha). Corri à Farmácia Romba e... comprei uma caixa de aspirinas! Voltei ao Parque . Vinte cêntimos mais caro, lá consegui pagar e sair.
Alguém poderá explicar-me por que razão estas idiotices só acontecem na minha cidade?! Alguém me explica porque razão em Portalegre as aberrações insistem em nunca mais terem fim??