sábado, 16 de dezembro de 2017

A MORTE

Estava frio na igreja. Aquela igreja é sempre fria, porque a morte é fria. Aproxima-se o Natal e a morte visita-me. 
Saí da casa triste, voltei pior... 
Não gosto do ritual da morte! Sei, claro, que é o fim de todos. Que mais não somos que "cadáver adiado que procria", mas, ainda assim, a morte sempre me surpreende. Porquê tanta exposição? Porque é preciso abrir a dor aos outros, dar beijos a quem mal se conhece, dar pêsames porque é socialmente correcto? A morte não devia precisar de ser pública. De repente, aquele corpo deixa de ser da família, tem de ser exposto a outros, a todos! Não compreendo. A família devia poder despedir-se no silêncio íntimo da casa. A morte devia ser discreta, privada.
Chegada de um velório, penso que está a chegar ao fim uma fase mais. Há uma geração, a que me antecede, que está a partir. Agora, eu avanço para a linha da frente e não quero ser exposta. Quando eu morrer, digam bem de mim. Ou, simplesmente, deixem tocar um tango e fechem a porta aos olhares do mundo!

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