segunda-feira, 28 de agosto de 2017

PARA TRÁS???

Eu própria estou cansada de ouvir, e de afirmar, que a mudança é inegável mas que, ainda assim, implica sempre desconforto e resistência... Devia, por isso, olhar calmamente os saudosistas, os que enchem páginas de jornais e facebooks afirmando que dantes, quando a escola ensinava e distinguia, separava e excluía, é que era bom. São os mesmos que alegam que são mais felizes as crianças que jogaram à macaca, do que as que têm computador! Como se pudéssemos comparar o passado, mesmo o recente, com o presente vertiginoso que vivemos. 
Não consigo, ainda que tente, olhar com indiferença os apelos ao retorno à Escola do passado. À tal escola que era só para alguns, que funcionava visando, essencialmente, responder a necessidades de uma sociedade de classes. Era a escola Fordiana, que produzia meninos como quem produz automóveis, todos em série, sentadinhos nas carteiras a ouvir, ou a fingir que ouviam, os professores. Irrita-me a dificuldade, excessivamente generalizada, que os adultos têm em aceitar a mudança. Pior, apavora-me encontrar ainda alguns professores muito preocupados com os testes sumativos, com as classificações, com as regras que nada dizem aos que têm de as cumprir!
É preciso, sim, que haja disciplina, que as aprendizagens aconteçam. Mas é preciso MUITO PRECISO que essas aprendizagens sejam alicerces duradouros, que sejam ecléticas, que sejam dinâmicas e úteis. É preciso que os professores aceitem que cada aluno é um ser exclusivo, que as aprendizagens acontecem em acção, que não faz sentido continuarmos a tentar (sem resultado) ensinar como nós aprendemos...
Setembro está a chegar. Tenho uma montanha de sonhos para realizar e um medo, uma cordilheira de medo, das resistências que vou encontrar!

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

TÃO JOVENS

17 anos. 22 anos. 16 anos. 21 anos. São muito jovens os terroristas de hoje. São pessoas com, teoricamente, um futuro pela frente, uma vida a preencher de coisas boas, que escolhem matar e, muitas vezes, morrer. 
Porquê? Que há gente má, já o sabemos. Que há loucos, também não é novidade. Que há grandes senhores a pagar para  espalhar o horror, também não é nada que surpreenda (embora indigne!). 
Mas porquê tão jovens? Talvez seja a minha alma de professora a falar mais alto mas vejo, nestes jovens, um desalento de quem está perdido. Jovens que se deixam manipular, usar, pelo Mal, sem que a sociedade humanista (?) se preocupe em indicar-lhes o caminho do Bem. 
Talvez procurem fama, talvez um grupo a que pertençam, talvez uma forma de aceder à individualidade reconhecida. Não sei... Mas, na minha estupefacção, penso que o ódio crescente que os jovens praticam deve exigir às Escolas um olhar atento. E sério...
Não há mais lugar, defendo eu, para a Escola que exclui, para a Escola que olha cada um como sendo um todo. Não há mais lugar para aprendizagens compartimentadas! Urge, e talvez seja mais uma Revolução deste século, olhar cada um de forma individual, dar espaço aos afectos e às relações humanas, permitir percursos de aprendizagem inovadores e personalizados. Urge abrir as portas da sala de aula ao gosto de aprender... 
Aproxima-se o início de mais um ano e não podemos - TODOS - deixar que tudo siga igual. Como se não houvesse presente, como se a mudança social não estivesse a gritar presente!

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

ADIAMENTO

Lembras-te da viagem que, um dia, haveríamos de fazer os dois? A dois? Lembras-te da conversa que haveríamos de ter, a dois? Lembras-te das promessas, tantas, de um dia..., a dois, para dois, sempre? lembras-te dos copos de pé alto que compraste para, um dia, bebermos aquele champanhe francês que jaz na garrafeira há dez anos? Lembras-te da promessa de voltar a Barcelona? De passear por Roma e nos perdermos, um no outro, a dois, nas ruelas ruidosas? 
Pois se lembras, esquece. Porque há um Tempo marcado para o sonho. Um Tempo em que os possíveis acontecem, ou não. 
Se não,  diluem-se nos adiamentos. Por isso, se te lembras, esquece agora! Esquece porque a viagem já não faz sentido, o copo partiu-se e o champanhe poderá sempre ser um presente de Natal para um amigo especial.
Esquece. 
A mim, dai-me Senhor, a paz do esquecimento!

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

DANÇAR

Olá,
Escrevo-te a ti. A ti que não  existes, a ti que, às vezes, pareces existir no outro lado do meu eu. Escrevo-te porque me apetece conversar. Não quero conselhos - estou tão farta de quem sabe tudo! -, não quero razões alheias - ficam-me curtas -, não quero sequer concordância - não podes concordar com o absurdo!
Quero, só, que oiças. Ou leias, o que, neste caso, é exactamente a mesma coisa. Ouve então. 
Ouve o descompasso do meu coração, ouve o desejo contido de um quotidiano diferente. Não fales! Ouve a minha mágoa de não conseguir ser outro eu, escuta o meu desejo de paradoxos absolutos. Com atenção, sem suspirares de cansaço, deixa-me enumerar os meus medos. Os medos de cada hoje. Dessa fileira de hojes que, abusivamente, transformam o futuro em ontem.
Estás cansado de ler? Só mais um pouco. Um pouco para te contar da macieza da areia, na zona da rebentação do mar que me assusta. Um pouco para te lembrar a música que faz o barco, quando rasga ondas. Música... Aquela que nos ilumina no abraço ritmado. 
Isso. Vamos dançar?

OPTIMISMO

O Verão não contribui mesmo nada para a minha felicidade. Sou, invariavelmente, atacada por uma lassidão, uma vontade extrema de jibóiar que me causa uma inexplicável angústia. Normalmente, esgoto as horas de calor à beira da piscina, na companhia de um bom livro e de muitos sonhos. 
Este ano, por força das circunstâncias, ainda não pude hibernar (ou deveria dizer hiveranizar?) e o meu  quotidiano escaldante está a dar cabo de mim. É um processo de transformação, este de passar as manhãs na escola, durante o mês de Agosto... Mas, afinal, transformação é o que eu, muito sinceramente, gostaria que acontecesse na Escola, em particular naquela onde trabalho, por isso não é mau que eu sofra na pele algumas das dores que transformar implica.
E é assim. Apesar do calor, de alguma irritação, de muitos receios, de confrontos adivinhados, estou optimista. 
Vá lá eu entender-me...