quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Recado


Manhã
é ter-te ao lado.
Lembrar-te como um recado
de ontem para amanhã.

Fernando Tavares Rodrigues, in Depois do Amor


Na noite, soam recados letras sentidas.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Absurdo

Assistir às notícias políticas nos últimos dias, meses!, tornou-se uma experiência traumática. Somos confrontados com incompetência, ainda que porventura envolta em boas intenções, e esbarramos com a estupidez e a injustiça certificadas. As medidas impostas, castradoras de sonhos, inibidoras de possíveis, limitadoras do desenvolvimento de um país que já não é de todos, tiram-me o sono e o sossego!
Portugal está a caminhar para a morte, para a miséria total, e  o que mais dói é, exactamente, a violência e injustiça exercidas sobre os mais fracos: os jovens e os idosos. Aos últimos, tira-se o pouco que têm, reduzem-se reformas, aumenta-se o custo dos medicamentos, rouba-se - é o termo! - aquilo que, durante décadas, entregaram ao estado confiando estarem a prevenir o futuro. Aos jovens, rouba-se a possibilidade de construir quotidianos de sucesso. Às escolas, reduzem-se os financiamentos, aprofundam-se as assimetrias, desenvolve-se o sentido de injustiça e de revolta. Não pode fazer sentido viver-se assim!
Hoje, bem cedo, esbarrei com mais uma dificuldade: - Embora os alunos de 7º ano estejam na escolaridade obrigatória, embora tenham direito a subsídios no escalão A, a escola não pode pagar as visitas de estudo, não pode suportar o custo das actividades de complemento curricular. Assim, o que fazer? Irão só os que podem pagar? A escola pública é mais para uns do que outros?! Cancelam-se as visitas e actividades? Ou faz-se um ranking com as oportunidades de cada escola? Absurdo é, agora, a palavra de ordem.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

As Horas

Vem comigo. Está frio, há vento, os ouriços começam a cair dos castanheiros enormes, a solidão escurece mais cedo. Mudaram a hora, fizeram a noite maior e os serões mais longos. Agora, sai-se dos empregos de noite, acorda-se de noite também. De repente, aproveitando a cumplicidade forçada de um domingo inócuo, encolheram as horas de sol.
Não gosto de chegar a casa de noite!
No entanto, gosto do perfume das castanhas que enche o ar, acho piada ao fumo que enche o Rossio, e não resisto a sorrir perante os narizes de vermelho gelado dos meus alunos.
A noite cresceu, o escuro alastrou. Vem comigo, tu. Por favor.

domingo, 28 de outubro de 2012

Realidade

Corpos hirtos, musgosos, acolhem o meu caminhar.
Podia ser o pinhal de D. Dinis, esse "plantador de naus a haver"; podia ser o crescer de sonhos, sempre em direcção ao céu, sempre apontando a distância; podiam ser dedos de gigantes, procurando o longe; podiam ser bosques de enganos. Podia até, apenas, ser um hino à amizade: juntos, próximos, diferentes na igualdade.
Podiam ser muita coisa. Mas eu sei que são só árvores, que servem para explorar a madeira, que não falam, não sentem e estão-se nas tintas para as minhas divagações. Sei que o sonho de nada serve e que, um dia, já não verei mais as árvores de troncos rugosos.

sábado, 27 de outubro de 2012

Orgulho

Quero lá saber que o orgulho seja condenável! Eu tenho orgulho na minha gente, nos lagóias que fazem parte do meu mundo real! Tenho orgulho no Maestro Redondo, no Eustáquio do guitolão, no Grupo de Cantares do Semeador, nas pessoas, tantas, que são Portalegre no seu melhor e que, sem cachets nem jantares grátis, cantam e mostram a sua arte para divulgar a nossa cidade. 
Eu adoro Portalegre, digo-o tantas e tantas vezes..., mas às vezes desespero, só consigo ver abandono e fracasso. Hoje, não foi assim! Hoje, ou seja ontem..., a minha gente encheu-me de alegria orgulhosa. Portalegre é isto: - é gente boa, alegre, agarrada às raízes, capaz de sorrir e continuar cantando quando tudo parece ter perdido a melodia. Perante os estrangeiros, muitos, Portalegre mostrou-se, há pouco, altiva e alegre, honrando a sua história, dignificando as suas tradições. Foi bom ter ouvido elogios à minha gente, foi muito bom ter ouvido dizer que "valeu a pena ter vindo a Portalegre!".
Hoje, uma vez mais, compreendi que, ainda que muitos cães (rafeiros) ladrem por aí, a caravana segue em frente. 
Vou tentar não perder o transporte.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O Castanheiro

Mudaram de instalações, os bichos que ali viveram. Durante anos, o grande castanheiro abrigou a raposa matreira, protegeu os coelhos e deu abrigo à coruja assustadora. Ano após ano, sem protestar contra a monotonia, a grande árvore cumpriu os ciclos: - Encheu-se de ouriços, viu caírem as castanhas, cobriu-se de verde, amareleceu. Sempre ali, no mesmo lugar, preso no chão que o alimentou sem cobranças. O Anteu castanheiro viu muita coisa. Calou o que viu. Às vezes, famílias procuravam a sombra para tardes domingueiras, crianças dormiam sestas sob a sua copa, namorados ensaiavam carícias ao abrigo do seu silêncio. 
Hoje, o velho  está morto. Secou, foi varado por um raio, deixou de se vestir de castanho no outono. Mas, mesmo morto, ainda que esburacado e esventrado, continua de pé, firme, no lugar onde nasceu. Em breve, provavelmente, será transformado em lenha. Até lá, tenta aproveitar a chuvinha boa e, impossibilitado de chorar, olha o longe sem crer no futuro.
Olho o meu castanheiro. Choro as lágrimas que não tem agradecendo o poema que me oferece.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Optimismo

No vale encontram-se os verdes, no céu as nuvens anunciam a chuva forte, e eu lembro uma frase recente: "Os professores devem dar aos jovens a hipótese de futuro". Devem, concordo, dar-lhes esperança, alimentar-lhes o sonho e a certeza de amanhã. 
Nos momentos de crise, como o que agora vivemos, alimentar o sonho das crianças e jovens parece-me essencial. A escola, a pública, tem de devolver aos alunos a fé no amanhã, o poder de fazer planos e de alimentar um projecto de vida. 
É verdade que pairam nuvens negras sobre nós. Mas também é verdade que a chuva rega os campos e os torna mais férteis. Não quero deixar-me envolver no negro do céu da minha realidade. Quero ser capaz de me focar na esperança para, assim, alimentar o sonho dos mais jovens!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Ainda há esperança? Ou há malucos?


Vai acontecer, em Portalegre, o Congresso dos Centros de Formação de Professores. Aparentemente,   é só mais uma iniciativa, diz respeito a um grupo profissional, não interessa à opinião pública em geral. Mas eu acho que não é bem assim... Os professores, uma das classes profissionais mais maltratada e insultada nos últimos anos, são pilares da sociedade e, cada vez mais, dão mais do que recebem. À escola, à pública (claro) pede-se tudo: - Que seja inclusiva, que tenha sucesso, que substitua a família em falência, que contribua para o desenvolvimento da sociedade, que resolva problemas sociais, que viva sem dinheiro. Aos professores exige-se disponibilidade constante, entrega a 100% e até, imagine-se, que aceitem ser enfiados em POTE (ou seja: Plena Ocupação dos Tempos Escolares) num banho em Nuno Crato (porque se fosse Maria até seria saboroso). Em troca, dá-se-lhes nada. Ou, melhor, dá-se-lhes desprezo, humilhação e insultos.
Talvez por ser professora, com certeza por ser cidadã, vejo com muita apreensão o estado da escola pública, olho com descrédito as recentes medidas, e desespero com o facto de até na educação o dinheiro ser o Valor primeiro. Recentemente, e uma vez mais, foram publicados os rankings que, entre outras coisas, provaram que há dois países chamados Portugal: - O país dos ricos e privados, o dos pobres e públicos. Ora, é neste ponto de situação que, em Portalegre, nesta cidade onde é comum dizer-se que nunca acontece nada, se vão reunir cerca de 100 professores diferenciados para pensarem, discutirem, e procurarem a melhoria do processo de formação contínua de professores e, consequentemente, do ensino e aprendizagem. Acho que merece  destaque o facto de ainda haver quem, com tanta contenção e injustiça, se disponha a investir o seu tempo, e o seu dinheiro, em sessões para melhorar profissionalmente! Penso, sinceramente, que o Congresso dos CFAE em Portalegre deve ser encarado como uma luz num quotidiano muito negro.  Afinal, parece que nem todos desistimos de lutar e viver, parece que ainda há quem pense que vale a pena continuar a lutar por um país com mais sentido, com mais qualidade e maior competência!
Para além do valor científico deste Congresso, penso que Portalegre deve estar atento a uma iniciativa que vai trazer gente de fora ( os estrangeiros de Os lagóias e os estrangeiros?), que vai criar movimento, e provocar consumo. Muitas destas pessoas que, agora, nos visitam, vindas de todo o país, incluindo as ilhas, poderão voltar se forem bem acolhidas, se se sentirem bem-vindas! Nos dias 25, 26 e 27 de outubro, Portalegre deve estar atenta a uma oportunidade de se mostrar e de se promover! Se eu mandasse, todos os professores teriam dispensa de aulas para poderem participar. Mas, feliz ou infelizmente, eu não mando nada...

terça-feira, 23 de outubro de 2012

OBRIGATÓRIO OBRIGAR

Há tempos, anos, havia uma frase emblemática e estúpida "Proibido proibir". A frase caíu em desuso, felizmente, e começou-se, muito ao de leve, a assumir que era preciso trabalhar, impor limites às crianças e jovens, recuperar a autoridade e valorizar o rigor. Lentamente, foram caindo por terra as pedagogias do cogumelo, ou seja, a ideia de que os meninos aprendem porque sim, sem esforço, sem trabalho, como se as competências se desenvolvessem por si só, independentemente da matéria onde caíssem, tal como cogumelos que crescem espontaneamente.
Agora, a escolaridade obrigatória é longa e, queiram ou não queiram, os meninos e meninas, os jovens, têm de ficar na escola até aos 18 anos. Aos professores cabe, entre mil tarefas, obrigá-los a obrigatoriamente frequentarem a escola. Infelizmente, não é possível obrigá-los a obrigatoriamente aprenderem... Assim, a escola, que de verdade mesmo não tem solução para aqueles que nem obrigados querem aprender, vê-se obrigada a conservá-los ali, em banho Nuno (Maria seria saboroso), até que o tempo passe e, finalmente livres, cumpram 18 anos! Assim, vão-se gastando tempos, destruindo gerações e entristecendo existências.
Não seria melhor distinguir entre os que querem e os que não querem aprender? Não seria mais honesto para os alunos orientá-los para outras aprendizagens, em vez de insistirmos em inseri-los em lugares onde não pertencerão nunca?
Não sei a resposta. Mas sei que é obrigatório pensar na obrigatoriedade de um ensino que não tem lugar para diferentes opções de formação. E não me falem em cursos profissionais, porque desses é obrigatório fugir!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Dois Poetas Irmãos

Não é um negrilho. Não a vi em São Martinho de Anta. É um sobreiro, vive na minha Serra, e é um poeta também. Quero crer que Miguel Torga não acharia abusiva a comparação:


A um negrilho

Na terra onde nasci há um só poeta.
Os meus versos são folhas dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada.

Esse poeta és tu, mestre da inquietação
Serena!
Tu, imortal avena
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho.
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!

Miguel Torga in Diário VII (1956)

domingo, 21 de outubro de 2012

A Rainha Santa

Está calma, tranquila, mostrando as rosas que foram pão. Foi feita por mãos habilidosas, inspiradas nas lendas que escorrem nos tempos, em Estremoz. Olho-a com admiração. Uma certa inveja, talvez. É a rainha santa, fez milagres, foi mulher e, hoje, é Arte. Gosto dos bonecos de Estremoz, admiro a Arte das irmãs Flor, mas esta imagem é mais do que Arte. Vejo no olhar simples um desafio, uma provocação talvez. A rainha parece querer lembrar-me/nos que, às vezes, é preciso fazer das dificuldades privilégios, é preciso ser capaz de transformar pão em rosas, dando beleza ao concreto e perfumando a realidade.
Lá fora chove mansinho, quase que pedindo o céu desculpa por molhar o mundo. Hoje, sabe-me bem esta chuvinha, o frio honesto, o cheiro do lume que acendi pela primeira vez. Hoje, gostava de poder também fazer um milagre, queria transformar dúvidas em certezas, esperança em realidade.

sábado, 20 de outubro de 2012

Bife do Lombo

Ele gostava dela, garantia. Jurava até. Mas gostava que ela gostasse de tofu, e ela preferia bife do lombo; gostava que ela fosse obediente, e ela gostava da sua independência; gostava que ela fosse calma, e ela gostava de correr, de se apressar, de fazer mil coisas ao mesmo tempo, deixando quinhentas em meio. Ela gostava muito dele, adorava-o, jurava até! Mas gostava que ele gostasse do campo, quando ele amava as cidades; gostava que ele partilhasse, e ele gostava do seu exclusivo material; gostava que ele vivesse cada momento, e ele preferia preparar o futuro. Ele adorava-a. Ela adorava-o. Mas nenhum desistia de ser dono do outro e, nestas coisas do amor, é perigoso querer moldar quem se ama.
Um dia, chegaram a acordo. Para festejar, foram jantar fora. Ela comeu bife do lombo, mal passado, com molho grosso; ele comeu tofu. Deu certo porque, como alguém canta por aí, Ninguém é de ninguém!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

CONHECIMENTO É PODER?

No primeiro teste sumativo do ano, na minha turma de 10º ano, pedia-lhes que explicassem o sentido da frase "Dar um nome às coisas é conhecê-las, e o conhecimento é poder". Não foram as enormidades que li nos testes dos meus alunos que me deixaram a pensar. O que me tem angustiado é pensar, ou constatar, o perigo desta afirmação perder o sentido. Hoje, o conhecimento já não é poder. Hoje, o poder é para os que enganam, roubam, enganam, traem e vigarizam!
Hoje, de  longe, depois de um bife do lombo excepcional e fora da austeridade, sinto invadir-me uma enorme angústia. Quando, no meu país, a cultura nada vale, o conhecimento é desvalorizado, a literatura se esvazia, poder não é, com certeza, o conhecimento.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A sala enche-se do frufru de vestidos cuidados, de gravatas garridas (usam-se as pintinhas), de perfumes intensos. Vai falar-se de livros, de leituras e leitores, de esforços para formar leitores num mundo sem lugar para a cultura. Pretende-se encontrar estratégias que ajudem os jovens, e as crianças, a gostar dos livros... Afirma-se  que os computadores são um apoio e ouvem-se protestos murmurados. Calo as minhas dúvidas, a minha certeza (?) que é pelos afectos que se chega ao amor pelos livros. Sinto que desisto, que conscientemente me demito, que o vazio das respostas me cansam já. Aceito, por isso, a proposta de um colega para tomar um café. Um grupo pequeno, apenas cinco professores. E a conversa flui, os sentidos surgem. Sinto uma minúscula esperança a reaparecer. Queria ter forças para avivar a pequena chama que nasceu, agora, entre pares.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Sentido(s)

Talvez seja disparate, exagero, vício, querer encontrar sentido para as coisas, para a vida. Talvez, de facto, o sentido que as coisas têm seja o não terem sentido nenhum. Talvez devesse deixar escoar-se o tempo, gastarem-se as horas, cumprindo uma existência (detesto a ideia de destino) que me caíu em sorte. Talvez.
Mas este talvez não me serve! Preciso de saber os porquês, quero entender as causas, não consigo encolher os ombros ao amanhã. Que sentido faz preparar aulas, procurar novidades, desenvolver projectos, se a desilusão de todos não deixa espaço para o sonho? Qual o sentido da palavra Amor, quando a ausência agride e fere? Que sentido faz sonhar com mudança e alegria, se os indicadores asseguram tristeza e dor? Que sentido faz viver se, certo-certo, só temos a Morte?
Que sentido faz o ser humano, se mais não é do que um cadáver adiado que procria?
A noite traz-me o vazio. A rádio notícias aterradoras. É Portugal a morrer, são os portugueses a entristecer, sou eu sem conseguir adormecer...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Parabéns!

Dois amigos, muito especiais, fazem anos hoje. Gerações diferentes, profissões iguais, sonhos idênticos. Penso neles. Na minha Amiga Maria João, no colo amigo, na palavra certa, no olhar cúmplice, na serenidade com que me acolhe sempre. Às vezes, zango-me com a vida que me fez descobri-la tarde demais... faz-me bem ouvi-la, gosto de correr para ela quando o meu mundo desaba!
O João, filósofo, partilhou comigo anos de confiança e esperança, viagens loucas pelo Alentejo fora trabalhando num projecto que a política matou. Foi com ele que, há vinte anos!, corri o Porto à procura de uma Barbie doutora para a minha filha que fazia sete anos. Estavamos numa formação, o tempo não passava e o meu coração estava longe pensando no aniversário que tinha de preparar. Então, tentando passar despercebidos, fugimos antes do fim, rindo da nossa fuga mal disfarçada. (fomos apanhados pelos chefes bem no hall do hotel...)
Agora, hoje, penso nos dois com muitas saudades! Queria poder enroscar-me no sofá da Maria João e deixar correr a angústia; queria, de novo, correr as escolas do Alentejo fomentando sonhos e rindo com o sentido crítico do João.
Lembro-me muitas vezes dos meus amigos. São parte de mim! No entanto, agora, na solidão escura, penso que passou mais um ano e, de novo, estive pouco tempo com eles...

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Explicações

Tocou irritado o telefone - juro que ouvi o toque irritado - e soou a voz indignada da minha filha mais velha. Se eu era da CGTP, se tinha virado comunista, ou doença parecida, se estava a ficar doida. Tudo vinha, claro, a propósito do meu post, neste blogue, sobre os rankings. Ri-me da fúria da minha menina. Fúria de mulher decidida, de convicções, com certezas (por enquanto) firmes e definitivas. No entanto, temi que alguém mais pudesse pensar o mesmo e, por isso, resolvi explicar. (Podia fazer um desenho, mas sou péssima a desenhar...)
1º Sou defensora da individualidade e, passe o pleonasmo, da singularidade;
2º Não defendo um Estado protector, responsável pelo futuro (e presente) de cada um;
3º Defendo, acerrimamente, a iniciativa privada;
4º Acredito que um país tem tanto mais sucesso quanto menor for o peso e a intervenção do estado;
5º Não acredito que os bons alunos sejam, apenas, os que frequentam o ensino privado e têm pais ricos.
No entanto, ou por isso mesmo, defendo:
1º O direito de cada família escolher o tipo de ensino que quer, sem ter de pagar os dois...
2º Um ensino público de qualidade e rigor;
3º O fim dos rankings que comparam realidades incomparáveis;
4º A assumpção pública de que no sucesso de cada aluno interfere (para além de outros factores) a INTELIGÊNCIA individual (não percebo porque nunca se fala disto quando se fala de sucesso educativo);
5º Uma Escola Pública capaz de ser comparada com as melhores Privadas!
6º O fim da perseguição à classe média! (não vem a propósito, mas apeteceu-me)

A minha filha não percebeu que não defendo a igualdade por si só mas, sim, a igualdade de oportunidades para que, assim, possam surgir as naturais diferenças!
De facto, em Portugal, a Escola Pública é, cada vez mais, facilitadora de exclusão e fazedora de gerações medíocres e, isso, eu não consigo aceitar!
Contudo, repito: - Não enlouqueci, não sou comunista e não defendo o estado protector!
Esclarecido?

O POEMA JÁ

Na noite escura, ouvindo o vento forte, sinto surgir um poema. Faz-se de palavras agudas, esdrúxulas, nunca graves. As rimas, brancas, surgem ocultas no ritmo das sílabas certas, ondulantes, movidas por memórias e saudades. O meu poema surge e segue, limitado pelas barreiras dos possíveis, trancado na garganta estreita e calada.
Os verbos, fortes, surgem todos no modo indicativo, apontam o céu, recusam conjuntivos, negam condicionais. A terminar, num verso mesmo solto e livre, vem o grito calado que me dilacera. Não é a hora, como para Pessoa, mas é o já! a rima certa, o passo seguro, os dísticos ordenados e a leitura com sentido. a certeza de que não sou poeta, ou poetisa, mas que gostaria, tanto muito, de ver surgir um poema assim, irregular e correcto, feito de verdade e agora.

domingo, 14 de outubro de 2012

Meninos ricos e meninos pobres

Mais um ano de rankings a provar o óbvio: - Portugal é um país assimétrico, um lugar onde as diferenças são intransponíveis e onde o determinismo social vigora.
Olhando os resultados dos rankings, e tirando o facto de se comparar o incomparável, verifica-se que os meninos ricos, filhos de pais que têm cursos superiores e que valorizam a Escola, têm muito melhores resultados do que os meninos pobres, carenciados, filhos de pais com pouca (ou nenhuma) escolaridade. Mais, conclui-se que nos Colégios, onde os pais pagam uma média de 500 euros por mês, onde os alunos têm notas boas,  esses meninos têm cerca de 24 actividades extra-curriculares à escolha, realizam visitas de estudo frequentes e têm aulas em turnos de menos de vinte alunos. Nas outras escolas, as públicas, quanto maior é a carência social, piores são os resultados. Os meninos, tão portugueses como os outros (?), têm aulas em turmas de trinta, não têm muitas visitas de estudo (porque têm de as pagar), e têm duas ou três actividades estra-curriculares (que não podem frequentar porque os horários dos transportes não o permitem).
Face a este cenário, o que propõe o Ministério da Educação? Premiar as boas escolas e punir as más... Ou seja, atribuir mais créditos de horas às escolas bem posicionadas nos rankings, e retirá-los às outras!
Como professora, os rankings assim apresentados, ofendem-me e revoltam-me. Que vantagem tem humilhar, mais ainda, os mais desfavorecidos? Que sentido faz apregoar a existência de um país a duas cores: os ricos e os pobres -, se nada se faz para alterar o estado das coisas?!
Olho a minha escola, pública a meio da tabela, e penso nos meus meninos. Há excepções, felizmente!, mas, na maioria, pode ser incluída na leitura que faço dos rankings. Com uma agravante: - Para os meninos ricos, fazem-se turmas especiais...
Sou defensora das escolas privadas, considero que cada um deve poder ser livre de escolher. Penso, também, que não é justo que quem escolha o ensino privado tenha de continuar a pagar o público. No entanto, defendo a escola pública de qualidade. Gostaria que a minha escola, pública, ultrapassasse o êxito das privadas, mas, tenho a certeza, isso nunca acontecerá enquanto, no meu país, as crianças nascerem condenadas a integrar um dos dois grupos: - Os meninos ricos, ou os meninos pobres!
Vigorando este determinismo social aberrante, que sentido fazem palavras como Liberdade e Democracia?

sábado, 13 de outubro de 2012

Alentejo

Sempre me fascina, e comove, o meu Alentejo. Atravesso-o assistindo ao revigorar dos verdes, à queda das últimas folhas, ao caminhar ondulante e uniforme dos rebanhos. Saio do itinerário principal e entro na estrada recta, longa, verdadeira pinncelada negra numa aguarela onde os amarelos ainda predominam. Vejo o silêncio. Vejo-o no vazio, na solidão, nas extensões onde, aqui e ali, uma ou outra vaca surge. É a minha terra, o meu chão, onde, como Anteu,  carrego forças. Aqui, não há vozear político, não toca o telemóvel, não tem acesso à internet o meu computador. Agora, respiro a terra fresca e deixo escorrer por mim a primeira chuvada deste Outono atrasado. Caminho junto ao Maranhão, agradeço a partida dos turistas do remo, e adio o café forte que me prometem. Agora, calada, sou feliz.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Carta possível

Caro Senhor Ministro da Educação,
Venho, respeitosamente, agradecer o seu desempenho, e a colaboração, decisiva, que veio dar à minha actividade profissional. Sendo professora há 30 anos, imagine!, nunca tinha percebido a importância de estar metida num POTE (Plena Ocupação dos Tempos Escolares). Foram precisas as medidas dinâmicas de Vª. Exª para eu compreender como é util para mim, e talvez para os alunos, o facto de  estar duas horas, perdão - 100 minutos -, sentada numa sala à espera que algum colega tenha um ataque, ou falte subitamente. Sou uma das muitas professoras que, em vez de estar a fazer leituras, a preparar aulas, a corrigir trabalhos, estou sentada à espera que o tempo passe, com o orgulho de estar no POTE ! Não percebi, ainda, se estou no fundo do pote ou à tona, mas hei-de perceber, eu sei...  Agradeço-lhe, também, a conversão das horas em minutos. É bom ter horas de 50 minutos e juntar muitos dez minutos sobrantes para o tal pote. Obrigada!
Senhor Ministro, também tenho de lhe agradecer os muitos alunos por turma. Graças a isso, não tenho eu cadeira nem mesa, os alunos são mais do que o espaço e, assim, levo horas (de 50 ou 100 minutos) de pé e em movimento o que, sem dúvida, é óptimo para a minha mobilidade.
Eu sei que o senhor Ministro vem da área das ciências, da matemática, e, por isso, compreendo perfeitamente que reduza o sucesso dos alunos a produtos, esquecendo os processos. O que interessa são os resultados, não os processos de desenvolvimento de competências. Tem toda a razão! O que interessa que um aluno saiba pensar, que tenha sentido crítico, que seja capaz de discordar?! Isso só lhe trará angústias! Assim, concordo com as orientações que sabiamente nos envia: - Formatem as cabeças dos jovens todas da mesma forma, tornem iguais os diferentes, comparem o incomparável e  avaliem! Ah senhor Ministro, só mesmo o Ministério da Educação português para ser capaz de tanta visão...
Senhor Ministro, obrigada, também, por me pagar cada vez menos. Este corte constante no meu vencimento, (imagine que, sem razão, cheguei a considerar um roubo), tem contribuido para eu levar a cabo a dieta necessária e tem-me permitido desfrutar da cor branca das paredes da minha casa onde, sem custos, projecto os meus sonhos de férias sonhadas.
Dr. Nuno Crato, resta-me, a concluir, dar-lhe os parabéns pelas enormes escolas que criou. Não imagina como é saudável ver os pequeninos de 11 anos a jogarem à bola sob o fumo dos charros que fumam alguns dos mais velhos. Faz-lhes bem! Começam, cedo, a preparar-se para a droga que é a vida que Portugal lhes oferece. Brilhante!
Senhor Ministro, esta é carta possível que lhe escrevo. A outra, a carta que gostava mesmo que Vº. Exª lesse, é uma carta impossível. Porque, senhor Ministro, começa a ser impossível ser-se Professor em Portugal.
Cumprimentos, relativamente respeitosos
MLM
 
 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Para MIM!

"Chore, grite, ame.
Diga que valeu, que doeu, que daqui pra frente só vai melhorar.
Perdoe, insista, ame novamente.

Não leve a vida tão a sério.
Descomplique.

Quebre regras, perdoe rápido beije lentamente.
Ame de verdade, ria descontroladamente e nunca lamente nada que tenha feito você sorrir..."



Vinícius de Moraes

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O CIRCO

O Circo, o de Victor Cardinalli (não o dos políticos), chegou à minha cidade. Há cartazes que garantem a presença de um leão branco, malabarismos e camelos. De vez em quando, ouve-se a voz rouca do megafone convidando todos - adultos e crianças - a ir ao Circo. Traz-me muitas memórias, o Circo...
A primeira vez que fui ao circo, perto do Natal, em Lisboa, deveria ter 4 ou 5 anos. A atracção principal não era um leão branco, mas um gigante negro. Entrei na tenda vermelha, chão de pó, com os meus pais e irmãos. Cheirava a esterco, havia pó e, na pista, um homem de fato reluzente gritava num microfone roufenho. Sentámo-nos numas tábuas e fomos assistindo ao espetáculo. Desfilaram os cães, os elefantes, os malabaristas e as contorcionistas. Uma miúda, pouco mais velha do que eu, enrolava-se como cobra, saltava feita bola e, no fim, pedia palmas. Lembro ainda o olhar dela, muito escuro e intensamente brilhante, pedindo aplausos com orgulho. Vestia um biquini luminoso, achei que feito de estrelas, e parecia não ter ossos... Quase no final, quando os palhaços já tinham molhado o público com uma bisnaga gigantesca, e os leões tinham saltado pelo arco em fogo, entrou a atracção principal: - Um homem negro, preso com uma corrente, anunciado como tendo dois metros e vinte de altura, foi exibido. Ao lado dele, um anão, figura grotesca com um barrete de sinos, saltava e beliscava o gigante. Lebro-me que desatei a chorar, em silêncio, e que, durante muitas noites, a crueldade exercida sobre aquele homem enorme aterrorizou o meu sono. Foi, penso agora, a primeira mostra da realidade da vida...
Não me lembro do que disseram os meus pais, ou sequer os meus irmãos, mas guardei em mim os cheiros do Circo e a figura grotesca e triste do "Gigante de Moçambique". Nunca mais quis ir ao Circo...
Com as minhas filhas pequenas, vencendo o meu horror, voltei ao espectáculo de feras e cor. Era, então, um Circo miserável,  e a minha filha mais velha esteve todo o tempo a lamentar a vida das crianças, o tratamento dos animais e a penúria do espaço. Como eu, ela sofria com alguma desumanização que adivinhava. O Circo ficou, então, definitivamente eliminado dos nossos programas de lazer.
Hoje, esbarrando com os cartazes que dão cor à minha cidade triste, lembrei-me do gigante de Moçambique. Agora, noite escura, penso nos medos de então e acho-os insignificantes face aos de hoje!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Anda Comigo

Eu confesso: - Gosto de música não erudita, cantarolo (no duche...) as rimas fáceis da música portuguesa e, mais grave talvez, emociono-me com algumas frases que sei serem absolutamente inócuas. Gosto, por exemplo, de ouvir o gosto de ti desde aqui até à lua, divirto-me com o toda a gente sabe que os homens não prestam e, recentemente, fico parada a ouvir, encantada, o anda comigo ver os aviões. Oiço os Azeitonas e dou largas à minha alma mais prosaica (creio ter muitas almas - felizmente) desejando que alguém me levasse à América ou, então, que trouxesse a América até mim. O anda comigo badalado, doce, terno e calmo, desafia a minha imaginação, desperta o desejo de uma vida completa e com sentido. As coisas simples de sentir fazem-me bem. Talvez se fossemos todos mais simples, menos elaborados e rebuscados, fossemos mais felizes. Como Caeiro.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Ontem

Ontem foi domingo. Dia de paz e sossego, feito de tempo próprio, possível de encher com sentidos particulares. Ontem, eu pensava no hoje, atormentada, sem forças para o novo arranque, desejando ficar ali, quieta, no ontem mesmo. Ontem, eu era mais eu, fechada no meu espaço, despida da máscara que o hoje impõe, longe do cumprimento de uma rotina que cada dia mais dói e fere.
Ontem, eu não era feliz (sorte teve o Poeta), hoje também não.
E amanhã?

domingo, 7 de outubro de 2012

Tango

Na Buenos Aires desconhecida toca o Tango intenso. Ela ouve-o na pele, ao sabor das ondas certinhas do rio que corre, e fecha os olhos. Trava as lágrimas e deixa que o corpo sentado se perca na memória do que não foi. Sente-se observada pelas próprias memórias e tenta escapar-lhes. Quer saudades de um futuro que desconhece, não quer o bolor de um passado tão presente que dói ainda.  Dói-lhe o corpo. Uma dor física, real, tradução da outra dor, emocional e constante, que não se liquidifica nas lágrimas que esconde.
Coloca os óculos escuros, muito escuros, espelhados, na busca de só reflectir o que vê, ocultando o que é. Queria virar-se do avesso e entregar a alma cinzenta aos raios de sol de início de Outono.
O Tango continua, envolve-a, e lembra a Paris de uma América que não conhece. Há, agora, acordes mais fortes, há a mão ausente que a segura, o cheiro másculo próximo dos seus lábios secos. Encosta-se, recusa a realidade, é apenas um corpo que oscila, quente, nos braços do Tango ausente.

sábado, 6 de outubro de 2012

LISBOA

No Tejo correm veleiros, catamarãs, barcos carregados de turistas, pequenas embarcações com gente jovem, cacilheiros gastos, barcos onde gritam timoneiros, e remos cortando as águas. Da margem, à margem, vejo-os passar.



O Tejo é uma estrada liquida de História, carregada de mil histórias, com significados tecidos de tantas despedidas, muitas lágrimas "Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal", muito amor e paixão também. Vejo casais de namorados, num mundo onde não há lugar para República porque se fecham num reino de afecto, e idosos de olhar perdido. Olho com desinteresse os desportistas de fim de semana, correndo fluorescentes, na busca da saúde talvez eterna (?). Escolho a mesa do canto, folheio o jornal, lembro a Margarida Marante e, pela enésima vez, considero a rapidez da vida, a voracidade do Tempo. Oiço Ricardo Reis no silêncio das minhas memórias, mas recuso ficar à margem do rio. Queria ser o barco em movimento, içar a vela e deixar-me levar, ao sabor do vento, em busca de nenhures, livre e solta de memórias. Queria o carpe diem de Reis, bem formatado na euforia sensacionista de Campos! Queria ter a certeza que, como dizia o Mestre, "Pensar é estar doente dos olhos!"...



sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Trancas

 
Tranca o ódio, a raiva o desespero. Tranca o mundo alheio lá fora, num lá fora tão longe que ninguém saiba onde está. Depois, livre e solto, só tu, sem pesos nem arrastos, vem buscar-me.
Leva-me para o outro longe. Aquele que os dois conhecemos, o que fica no entroncamento da emoção e do afecto, que nenhum Tom-tom identifica. Deixemos as janelas abertas e ouçamos o silêncio das noites frescas de outono. Fiquemos os dois, um só, sem saudades, memórias, ausências ou temores. Isso, confia em mim. Em nós.  Apenas.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Pulgas

Tenho sempre muito cuidado com a actualização das coleiras Scalibor dos meus cães. Mudo-as com regularidade, tento sempre evitar que os pobres animais sejam incomodados pelas abusadoras pulgas. O que eu não esperava, era que os ditos parasitas entrassem no meu computador e, por isso, não coloquei no ecrã uma coleira Scalibor...
Há uns dias, subitamente, o ecrã do meu computador, apenas na minha página de email e no meu computador pessoal, desatou aos saltos. LITERALMENTE aos saltos! As letras saltam, o cursor salta, a pontuação salta, as ideias (assustadas) saltam também. Fiquei desesperada e, como sempre, depois de alguns desabafos que não ouso transcrever, recorri aos amigos: - Socorro!
Surgiram muitas sugestões, e eu cumpri todas: - Desfragmentei o disco, limpei o registo, passei o anti-vírus, fiz limpeza completa com outro anti-vírus, liguei e desliguei o computador e... NADA! As pulgas mantêm-se, activas e puladoras, e eu não posso usar o meu email.
Agora, sentindo o fresco da noite, tendo por companhia o sono tranquilo dos meus cães sem pulgas, ouso pedir a quem souber uma indicação de como exterminar pulgas nos computadores!
Desejo, e como desejo..., que estas pulgas passem todas para o Ministro Vitor Gaspar e o façam deitar-se ao mar sem bóia!
 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

CRIME

Fechem o país!
Declarem aberta a caça a quem trabalha! Roubem-nos o pouco que temos! destruam-nos a esperança! desfaçam-nos os sonhos!
O que Vitor Gaspar veio dizer foi, simplesmente, que vamos ficar com menos dinheiro para viver, que o desemprego vai aumentar, que a miséria vai crescer, que o resultado do nosso trabalho vai ser levado para pagar a divída que outros contraíram. Esforço colectivo? Qual esforço, qual carapuça! O que está a acontecer é um assalto consentido, um ataque à liberdade e aos direitos de cada um de nós.
Onde vamos parar a continuar assim?!
 Não surgiu uma única medida, umazinha que fosse, que visasse colocar o país a recuperar, a desenvolver-se, a crescer. Na mira é o trabalho, e  aumentar impostos, de forma acrítica e injusta, é só o que estes seres que se dizem políticos sabem fazer.
Matem-nos de vez! Mas, ao menos, façam-no às claras e sem hipocrisias!

Amar é tarefa árdua

Cada um ama como pode, como sabe, como é capaz. Não há, que eu saiba, um manual para se aprender a amar, assim tão simples como a cartilha de João de Deus onde um b e um a é sempre ba! No amor, as letras dos sentires têm tantos e tão diversos sentidos que, por mais ligações que se façam, a leitura é sempre múltipla. Entre amar e ser-se amado, por exemplo, escrevem-se páginas que dariam enciclopédias... É que amar é um percurso de ida e volta e, às vezes, quando se pensa que se está indo, já se está de regresso.
Teoricamente, amar é dar e receber, aceitar e compreender, criar laços (relativamente) eternos, tecer cumplicidades, saber ouvir e poder dizer. É o preto e o branco, o sol e a chuva, o mar e o deserto. É o tudo e o nada! É, no fundo, acho eu agora, uma tarefa difícil para caraças!

terça-feira, 2 de outubro de 2012

As nuvens

Polvilham o céu, fofas, convidativas, fazendo sombras no chão e figuras que a imaginação cria no longe. Olho-as com alguma inveja. Se eu pudesse, gostaria de ficar também assim, vogando ao sabor do vento, vendo a realidade ao longe com a tranquilidade que a distância favorece, sendo nuvem também.
Queria o longe. A distância da realidade, a ignorância das rotinas. Queria mergulhar nas nuvens fofas e, de mãos dadas com o meu neto, saltar fazendo piruetas eternas!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

As Palavras

Eugénio de Andrade bem chamou a atenção de todos para a importância das palavras, bem disse que podiam ser punhais, flores, cruéis ou doces, mas os actuais políticos e seus assessores (demais e desnecessários, acho eu) nunca devem ter lido poesia...Só assim se explica que, constantemente, surjam frases absurdas que são depois alvo de explicações e desmentidos. Sim, só pode ser por ignorância porque para ser estupidez é demais! Foi o que eu pensei ao ouvir as enormidades do Professor António Borges...