domingo, 14 de outubro de 2012

Meninos ricos e meninos pobres

Mais um ano de rankings a provar o óbvio: - Portugal é um país assimétrico, um lugar onde as diferenças são intransponíveis e onde o determinismo social vigora.
Olhando os resultados dos rankings, e tirando o facto de se comparar o incomparável, verifica-se que os meninos ricos, filhos de pais que têm cursos superiores e que valorizam a Escola, têm muito melhores resultados do que os meninos pobres, carenciados, filhos de pais com pouca (ou nenhuma) escolaridade. Mais, conclui-se que nos Colégios, onde os pais pagam uma média de 500 euros por mês, onde os alunos têm notas boas,  esses meninos têm cerca de 24 actividades extra-curriculares à escolha, realizam visitas de estudo frequentes e têm aulas em turnos de menos de vinte alunos. Nas outras escolas, as públicas, quanto maior é a carência social, piores são os resultados. Os meninos, tão portugueses como os outros (?), têm aulas em turmas de trinta, não têm muitas visitas de estudo (porque têm de as pagar), e têm duas ou três actividades estra-curriculares (que não podem frequentar porque os horários dos transportes não o permitem).
Face a este cenário, o que propõe o Ministério da Educação? Premiar as boas escolas e punir as más... Ou seja, atribuir mais créditos de horas às escolas bem posicionadas nos rankings, e retirá-los às outras!
Como professora, os rankings assim apresentados, ofendem-me e revoltam-me. Que vantagem tem humilhar, mais ainda, os mais desfavorecidos? Que sentido faz apregoar a existência de um país a duas cores: os ricos e os pobres -, se nada se faz para alterar o estado das coisas?!
Olho a minha escola, pública a meio da tabela, e penso nos meus meninos. Há excepções, felizmente!, mas, na maioria, pode ser incluída na leitura que faço dos rankings. Com uma agravante: - Para os meninos ricos, fazem-se turmas especiais...
Sou defensora das escolas privadas, considero que cada um deve poder ser livre de escolher. Penso, também, que não é justo que quem escolha o ensino privado tenha de continuar a pagar o público. No entanto, defendo a escola pública de qualidade. Gostaria que a minha escola, pública, ultrapassasse o êxito das privadas, mas, tenho a certeza, isso nunca acontecerá enquanto, no meu país, as crianças nascerem condenadas a integrar um dos dois grupos: - Os meninos ricos, ou os meninos pobres!
Vigorando este determinismo social aberrante, que sentido fazem palavras como Liberdade e Democracia?

2 comentários:

  1. Abençoada... sempre!!
    Há grandes Mulheres, neste nosso país!
    Bom domingo Setôra!
    Abraço...

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  2. Enquanto houver assimetrias que os partidos e os governantes privilegiam, cada vez mais, não se vai a lado nenhum.

    Não se premeia o esforço, nem a determinação, mas a passadeira vermelha, o carro de luxo, a casa com piscina...

    Pobres de nós, com esta política, com estes governos.

    Bjs

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