Ela vivia ali, longe do seu mundo, na cidade da música, tornada leitora depois do tempo de acreditar nos livros.
Mulher madura, de vida vazia. Acontece.
Partira do seu país na procura de vida própria, com filhos crescidos, com casamento desfeito. Ali, no frio que a língua estranha tornava cortante, tentava cumprir quotidianos de ser. Não se procurava, como era comum ouvir colegas dizerem, porque há muito se encontrara. Procurava, apenas, um sentido, uma existência para além do tão francês e frequente metro-boulot-dodo
Mulher madura, de vida vazia. Acontece.
Partira do seu país na procura de vida própria, com filhos crescidos, com casamento desfeito. Ali, no frio que a língua estranha tornava cortante, tentava cumprir quotidianos de ser. Não se procurava, como era comum ouvir colegas dizerem, porque há muito se encontrara. Procurava, apenas, um sentido, uma existência para além do tão francês e frequente metro-boulot-dodo
Ele vivia no ar, aos comandos de aviões sempre cheios, de aeroporto em aeroporto, aquecendo as noites em abraços diferentes e, muitas vezes, sem rosto. Voava, e nem via o mundo de cima, nem ao longe, porque criara o seu próprio espaço, feito das suas certezas, que manipulava com a eficácia que imprimia aos voos que, há mais de vinte anos, o mantinham no ar.
O carro alugado levou-os a Salzburg, e o hotel Stein protegeu-os da noite gelada.
Um vinho quente fez correr a conversa, as palavras descomprometidas faziam sentido por, exactamente, não terem sentido nenhum!
No domingo, despediram-se no aeroporto. Até um dia, disse ele. Adeus, disse ela.
Vidas cada vez mais reais...
ResponderEliminarLena
Mais um texto que devia fazer parte do seu livro... ESCREVA!!
ResponderEliminarAntónio
Mais um bonito texto a confirmar que a vida não é fácil! Muito bem escrito! Parabéns!
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