terça-feira, 1 de dezembro de 2009

My Neighbours


É noite em Cambridge. Anoitece cedo, pelas quatro horas, e a cidade puxa sobre si um manto de luz e quenturas que espantam o frio gelado da manhã. No coração da cidade, agora, há luzes, cânticos, senhoras apressadas carregadas de embrulhos, crianças de gorro e nariz vermelho. Andei por ali, vagueando, espreitando lojas de tentar, olhando montras de encantar, passeei junto ao rio e vim para casa de coração adormecido. Sentei-me, então, neste quarto diferente que é o meu, agora, e reparei nos meus vizinhos. Eu, que estou pouco habituada a vizinhos (mesmo quando estes são neighbours), acho estranha esta espécie de convivência forçada. Já conheço, sem conhecer, quem por aqui mora. E, o que tem mais piada, conheço aspectos da intimidade, sem conhecer as generalidades! O meu vizinho da janela em frente, mal chega a casa põe-se em boxers, enche uma caneca de qualquer coisa (não me chega o cheiro) e põe-se ao computador. Deita-se pelas 20.00h. Cedíssimo, para a minha portugalidade. Ao lado, na janela em frente da sala, vive uma familia de chineses. São cinco e, nos domingos, não se vestem, ficam de trajes muito menores... Comem com pauzinhos, decostas uns para os outros, e têm dois micro-ondas, claro que, aqui, micro-waves. Nos dias de semana, os chinoquinhas saem todos, excepto um velhote que fica zanzando de um lado para o outro até sossegar frente ao computador. Na janela de baixo, vivem jovens universitários. Bebem muitas latas de cerveja, têm pilhas de livros nos parapeitos e andam em tronco nu. Acho, sinceramente, que esta vida assim, de exposição de intimidades, não tem piada nenhuma e, por isso, desço os estores até abaixo quando, também eu, mudo para trajes menores.

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