domingo, 20 de dezembro de 2009

Neve em Cambridge


Nevou muito, continua nevando, em Cambridge! A cidade sábia, a cidade das pontes, das ruas escusas, das montras brilhantes, dos linguajares diversos, do rio coleante, dos mil sentires em turbulência, foi coberta por um imenso manto branco que me encanta e emociona. Nos passeios há gelo, perigoso, os bailados feitos escorregadelas com nenhum carácter artístico enchem a cidade de marionetas movidas por vontade alheia. Eu, com mil cuidados, pondo os pés bem firmes no chão, lembrando o fim de tarde em que, depois de um dia de ski, estalei a mão numa queda aparatosa à porta da Farmácia, fui ao centro. As últimas compras faziam-se, hoje, com mais calma, intercalando a contagem das libras, sempre muitas, com fotografias exigidas pela nova paisagem de Cambridge. As crianças, felizes e de narizes vermelhos, faziam bolas de neve, bonecos pouco perfeitos, no meio de muitas gargalhadas e sonoros merry christma's to you; os adultos posicionavam-se para a fotografia, condescendentes com o frio, seduzidos pela paisagem.
Atravessei o centro para o meu habitual café duplo, no Costa, e fiquei ali, olhando, com a sensação de estar do lado de dentro da vida, no forro de uma existência alheia, como espectadora de um filme de Natal. A dado momento, senti que podia mesmo surgir o Menino Jesus, vindo do céu como quando eu era menina, com um presente feito Presença, Cumplicidade, Verdade. Esperei. Ele não chegou, mas, ainda assim,soube-me bem ser personagem, porque ser sempre real cansa às vezes demais!

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