quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Raios e Coriscos

O céu está furioso! Troveja com força, ilumina-se com intensidade, chora em desespero. O céu parece danado com o que vê por cá... Embora lamente o que faz zangar o mundo, não me importo que ele se dane porque eu gosto de trovoadas. Gosto, MUITO, do cheiro a terra molhada, da força dos trovões, da rapidez dos raios.
Agora, aqui sozinha no meu espaço, depois de quase três horas de trabalho para a escola aqui no computador, sou trazida de volta à realidade pela força da Natureza e lembro outras trovoadas.
Um dia, teria os meus seis ou sete anos, estava em casa só com uma empregada e começou uma trovoada terrível, trovoadas de antigamente, daquelas que faziam até o quadro eléctrico saltar da parede. O meu Pai, que tinha pavor (respeito, dizia ele) das trovoadas, chegou a casa e viu-nos às duas, eu calmamente na varanda a ver o espectáculo e a empregada, na cozinha, a rezar. Chamou-me, proibiu-me de me aproximar sequer das janelas e foi meter-se na cama tapado com um cobertor de papa que, diz-se por aqui, protege da trovoada... Eu, com vontade de rir, fui para o pé dele. trepei para cima da cama e fiquei ali, a segurar-lhe a mão, a falar-lhe das minhas histórias, a tranquilizá-lo. Devemos ter estado só os dois, de papeis invertidos, pouco mais de meia hora mas, a mim, pareceu-me uma eternidade! Que bom poder ter o meu Pai só para mim, que bom poder segurar-lhe na mão e brincar com o medo dele. Oiço ainda a reza que, baixinho, ele repetia - "Nossa Senhora da Conceição, faça sol e chuva não. Santa Bárbara bendita, levai para longe o temor". Nunca percebi porque é que eram as mulheres que mandavam no céu, achava que se devia pedir a Deusa e, lembro-me bem, para calar a minha dúvida o meu Pai garantiu-me que Deus estava ocupado com coisas mais sérias... Hoje, sozinha com uma trovoada violenta lá fora, trago as recordações para companhia e, porque já não posso segurar a mão do meu Pai, peço-lhe baixinho que segure ele a minha e nunca me deixe sozinha, desejando que Deus não esteja excessivamente ocupado para ouvir o meu pedido.

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