quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Memória

A estes textos, explico, chama-se textos de memórias. Têm marcas biográficas, mas, obviamente, podem cruzar a ficção com a realidade. É possível sempre criar memórias. Houve um Poeta, houve O POETA, que tinha saudades do que nunca vivera, por exemplo. E os miúdos de 7º ano querem saber mais. Quem foi? Como fazia? E, porque é cedo para Pessoa, falo-lhes da possibilidade de criar memórias no mundo dos afectos, na construção de referências no cantinho da individual intimidade. Perguntam como, querem, exemplos, e eu conto do Natal que, em menina, vivo em África, sozinha, perdida. Conto que partira numa viagem de família e que, de repente, me vira perdida e sozinha. Conto que veio uma menina, como eu mas muito preta, quase nua, com uma carapinha tilitante,  que me deu a mão e me levou com ela para uma casa sem quartos, nem sala, nem cozinha. Falo-lhes das galinhas que andavam pelo chão, à solta, ciscando, do leão que ouvi rugir ao longe e das grandes fogueiras à volta das quais, à noite, muitos corpos se moviam. Estão calados, atentos, esperando o desfecho. E, para dar veracidade aos factos, lá revelo que me encontraram, que os meus pais conseguiram pôr a polícia local à minha procura e que, ainda hoje, eu e Kali somos grandes amigas.
Olham surpresos e, quando a campainha toca, dois deles arrastam o arrumar das mochilas e perguntam, a medo: - Setôra, foi mesmo verdade?!
 

6 comentários:

  1. Queridíssimos esses meninos...
    Adorei o conto. Num pedacinho, também a mim me transportou para "dentro".

    Havia alguém, outro dia aqui, que pedia um conto "em África". Fica também o meu pedido.
    A Setôra já escreveu dois livros, não custa escrever sobre África...

    Feliz tempo de Natal!!

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  2. ...por falar em Memória :

    -Livro "Nú Feminino" -Luísa Moreira
    -Livro "Por Coisa Nenhuma" - Luísa Moreira

    mgraçamatos

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  3. Não foi verdade? parecia...
    Ana

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  4. Por favor ESCREVA UM LIVRO!!
    João

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  5. Gostava de ser sua aluna.
    Manuela

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