terça-feira, 4 de dezembro de 2012

INVEJA

Penso, muitas vezes, nas razões que levam Portugal a estar, quase sempre, na cauda da Europa. Por obrigação profissional, e admito que por gosto, leio frequentemente excertos de Os Lusíadas e entusiasmo-me, sempre, com a narrativa épica das descobertas. Chego (ainda agora) a comover-me com a história do infeliz Adamastor, a revoltar-me com o destino cruel de Inês - Tu, só tu, puro Amor deste causa à molesta morte sua! - e a deliciar-me com a arte da Formosíssima Maria para mover o Pai feroz. Gosto, muito, de levar os meus alunos até Belém e de, com eles, partilhar as lágrimas de saudade e dor dos que partiram, e dos que ficaram. E, quando chego às últimas estâncias de Os Lusíadas, partilho o cansaço desalentado de Camões - No mais Musa, no mais!.
Tudo ficou em nada! O sonho morreu e, parafraseando Pessoa, o Império se desfez.
Portugal foi grande. Hoje, é humilhado e triste!
No entanto, lá fora, seja na Europa (na outra), seja na América, seja em África ou na Ásia, há portugueses que se destacam,  que produzem e que ajudam, de diversas formas, a fazer funcionar este mundo oco.
Qual será, então, a razão que leva a que, neste ractângulo virado para o mar, tudo pareça condenado a apodrecer?
Deu-me para concluir que a culpa é da inveja! (Camões já o dizia...) Somos um povo doente de inveja! Invejamos o carro do vizinho, a saia da vizinha, as férias do patrão, o ordenado do ministro, a casa do presidente, etc. Invejamos, inclusivamente, a desgraça alheia... É uma chatice quando a vizinha está doentinha e todos vão visitá-la e a nós, ali ao lado, respirando saúde, ninguém pergunta como estamos! Esta inveja endémica impede-nos, acho eu, de reconhecermos autoridade, de obedecermos e de cumprirmos. Expressões como "mas quem é que ele julga que é?" , "mas ela não manda em mim! Não é mais do que ninguém", são habituais no nosso quotidiano!
Além desta invejazinha, quase imperceptivel, há a inveja cruel, mazinha, feita de "se não é para mim, não é para ninguém"...É até assim que age a oposição ao governo, seja ela qual for!
Assim, hoje deu-me para pensar que, para diminuirmos a dívida externa, bastaria taxar a inveja! E podiamos, então, ter de volta a nossa vida relativamente desafogada, sem cortes e com subsídios!

4 comentários:

  1. Optimo! já não somos um povo vadio e ignorante que tem o que merece..
    Somos desobedientes e invejosos, será melhor, pior?

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  2. Ai, ai, a invejazinha... é muito portuguesa. Mas será só portuguesa?
    Ana S.

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  3. Lê Os Lusíadas só porque sim? Sem ser para dividir orações?! Gabo-lhe o gosto...
    João

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  4. É um ponto de vista engraçado. No fundo, precisamos mesmo de encontrar uma justificação para o caos, seja lá onde for...
    Mª da Graça

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