sábado, 20 de novembro de 2010

Ofensa

Ele não gostava das rosetas. Tinham-no posto ali, um pouco abusivamente achava, numa data de tempo recente, com discursos e palmas que não entendera. Deixara-se ficar. Com pés de pedra, colado ao chão, eram poucas as hipótese de, dignamente, pegar no acordeão e ir tocar música para outro lado. Ali ficara, por isso. Fazia-se vaidoso se turistas o fotografavam, tornava-se cúmplice se os namorados ali trocavam beijos e ousavam carícias, chegava até, tarde nas noites, a apoiar aqueles que, bem bebidos, oscilavam qual navios em mar revolto a caminho de casa. A tudo assistia sem reclamar, rindo-se na imobilidade da pedra, troçando também, chorando as lágrimas secas que não gastavam a pedra. Mas, desta vez, a ofensa fora demais. Um bando de miúdos idiotas, mal-educados, insolentes, pintara-lhe rosetas nas faces e, como se a humilhação não fosse suficiente, ainda lhe tinham colocado um baton vermelho, foleiro e vulgar, nos lábios masculinos. Desesperara! Não seria suficiente o mal que os homens faziam a si mesmos? Ainda era preciso humilharem os marcos de Tempos, as figuras de histórias? Ah! que raiva! Se pudesse, com que energia lhes teria aplicado um pontapé de pedra nos rabos moles!!!


1 comentário:

  1. Sem dúvida, deplorável. Mas quero sugerir que façam uma coisa útil: deitem abaixo aquele horroroso Fox-Terrier, o do "coração", logo à entrada, junto à bomba de gasolina, primeiro sinal assustador e enganador de uyma cidade linda que é a tua!

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