segunda-feira, 13 de abril de 2015

O DIA DO BEIJO

O Hotel era branco e branco. Assim, num abuso de claro, de paredes nuas, no estilo que, com a mania dos estrangeirismos, se chama de clean. Eles chegaram, num abraço de silêncios, dispostos a três dias de paz. Seria uma tentativa, uma experiência de cumplicidade efectiva, um viver de possíveis feitos de muita  aceitação adiada. 
A bagagem que carregavam era leve, subiram rapidamente a escadaria de madeira - flutuante-, e entraram no quarto. Lá fora, um excesso de verdes floridos, a Primavera exuberante e o calor antecipado. Lá dentro, o cuidado nas palavras ditas, a opção pelos silêncios de paz procurada. Os dois num só abraço, os corpos unidos em pleno, o êxtase a gritar possível. O duche forte, a dois, o sono embrulhado na procura do eu em cada outro.
Depois, num instante, o raio de sol a despertá-los, a brincar com o pé descalço, com o ombro nu, com as costas descobertas. A aquecer o desejo, a provocar a entrega. E o pequeno-almoço na varanda larga, a saber bem o café forte, a conversa agora mais fácil. Passeios, observações inocentes e a manhã envolta, ainda, na selecção criteriosa de cada palavra. O SPA, o jacuzzi partilhado, a sauna, a preguiça que ela encompridava na cadeira de repouso.
De vez em quando, fugindo ao controlo, uma nesga de conversa difícil, uma crítica aguda, uma acusação dilacerante. E ela a optar pelo silêncio, pelo sol morno e o dia lindo... Pela aceitação...
Três dias esgotaram-se num instante. E veio o adeus, até outro momento, até outra oportunidade. De novo a vida adiada, o amor disfuncional apenas por não caber nos cânones alheios!
Ela a arrumar os restos do sonho terminado e a ouvir que fora o Dia do Beijo! Não dera por ele...

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