domingo, 3 de abril de 2016

O Circo

A rua enche-se com o som roufenho, a voz monocórdica anunciando o sonho. Há tubarões, leões, elefantes, pistas de gelo e palhaços pobremente ricos. Há muitas sessões, cães vestidos de meninas e gente capaz de andar, sem cair, num arame bem fininho. Há, também, rapariguinhas que se enrolam, como cobras, saindo e entrando dentro de caixas trancadas. Cheira a algodão doce, os bancos são de tábua rija, o chão é terra e pó. É o Circo! O circo que chega à cidade numa longa serpente de camiões, que polvilha de cartazes os lugares comuns e que vende, barato, momentos de alegria. As crianças pedem para ir ao Circo, os adultos alinham...
Sempre me fascinaram, num misto de tristeza e curiosidade, os circos ambulantes. Há alguma  coisa fascinante na liberdade nómada, no desapego à rede social que nos prende - a mim prende -, a lugares que, muitas vezes, nos entristecem. Mas há, também, uma miséria latente que angustia. As luzes, o som alto, as lantejoulas e o brilho excessivo parecem mascarar alguma miséria, alguma tristeza também... Penso nas crianças do circo, nos meninos que não andam na Escola, nos jovens que não conhecem a literatura, nem resolvem equações. Penso nestes meninos que não sabem as fórmulas da química e que, sem saberem física, ligam as mil luzes que enchem de cor a grande tenda.
O Circo... Como a vida, a jogar intensamente com o ser e o parecer, com o brilho e as sombras, com o essencial e o aparente.

3 comentários:

  1. Luisa, eu não gosto do Circo, tal como à Luisa amargura-me a vida que tão bem descreve. Quando era miúda claro que gostava, com a inconsciência própria das crianças, embora me lembre que ás vezes a minha mãe referia a tristeza que os brilhantes escondiam. Porém como crianças abençoadas ela vida, que nós éramos, não consciencializávamos nada dessas vidas difíceis.

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  2. Os circos ambulantes são pobreza que desconcerta. As bailarinas têm as collants rotas, os tafetás das saias a descoser e os animais dão pena de tão mal alimentados. Não invejo estes nómadas da pobreza nem acredito que tenha liberdade quem mal ganha para comer. E tem razão, os palhaços ricos têm um ar pobre.

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  3. Que maravilha! Adorei sempre o Circo! também quero ir ao Circo!"beijinhos

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