sábado, 6 de janeiro de 2018

HUMANIDADE?

Há coincidências incríveis. Hoje, bem cedo, quando caminhava na minha cidade para o meu café de eleição, fui abordada por uma senhora, claramente doente mental, pedindo-me, insistentemente, uma esmola. Atrás de mim, num tom aflitivo, insistia para que lhe desse dinheiro. Não dei. 
Fiquei a pensar que deveria ter dado, mas suspeitei de consumos e não dei. Comprei o jornal, ela sempre insistindo na moeda, e segui. Sentei-me no café, pedi a minha bica e abri o jornal. A mulher não entrou, seguiu outra pessoa, desceu a rua que acabara de subir, numa ausência de rumo estranha.
Fiquei com O EXPRESSO, que faz anos. 
Na revista, que tanto aprecio, a crónica de Clara Alves apresentava o submundo de Nova Iorque. A miséria humana, pessoas que, com temperaturas de vinte e alguns graus negativos, dormem sob cartões, junto de dejectos de animais, de lixo diverso. A cronista parecia ter lido as minhas interrogações. Como se compreeende que numa cidade onde há bilionários, muitos!, continue a haver pessoas que são ignoradas, que são marginalizadas? Imaginei Nova Iorque, a neve, o brilho das montras, o caminhar apressado de muitas pessoas, a maioria envolta em bons casacos e com os estômagos reconfortados. Recuperei memórias, Nova Iorque brilhante, imensa e alegre, cheia de luz e brilho. E os cartões. Os seres humanos como lixo. A tristeza, a desumanidade de uma humanidade que parece não o ser...
Pensei em mim, que não dei a esmola. 
Virei as costas, apertei o casaco quente, calcei as luvas de pele. E julgo-me humana. 
Tento, agora, encontrar desculpa para o meu silêncio. Não há desculpa! São as pessoas como eu, somos nós, que estamos a permitir que a desumanidade se instale...

2 comentários:

  1. Luísa, até ir para o Canadá acontecia-me o mesmo. Lá nos meses de inverno com temperaturas durante dias abaixo de -10º continuavam na rua(fiz alguns posts sobre isso)! Falando do assunto a várias pessoas, todas elas me afirmavam que não havia volta a dar-lhes pois não queriam sair da rua, sinónimo de perderem a liberdade...
    Há coisa de três semanas a minha sobrinha que é Psiquiatra e dá consultas no Júlio de Matos disse-me o mesmo e que essas ações humanitárias feitas á noite (comida, cuidados médicos....) só estão a fazer com que se esteja a verificar uma imigração de sem-abrigo vindos de leste (Ucrânia,Roménia etc) que vêm usufruir dessas benesses num clima como nosso. Portanto alivie a sua consciência!

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  2. Olá Luísa!
    Como vai?
    Alterou o seu email e nunca mais dei notícias. Ando para ir aí a um Lar de velhos falar com essa boa gente alentejana e alguns enjeitados no Inverno da vida. Deixo-lhe o meu email - jorgelage@portugalmail.com. As/os amigas/os são o meu maior capital. Sobre o texto digo-lhe que só dou institucionalmente. Na minha paróquia, para ajudar a obra social ou a uma associação ou Projecto. Saudações, Jorge

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