quinta-feira, 1 de abril de 2021

PÁSCOA

 Cresci numa família cristã, católica, e sempre vivi as tradições com alguma intensidade. O meu pai era um defensor das amizades e, penso agora à distância, todas as razões e pretextos serviam para ter gente à mesa. 

Se o Natal era tempo de família, de muito musgo e muitas histórias à lareira, a Páscoa era o tempo de reinventar a esperança. Em minha casa, a Páscoa começava mesmo na Quaresma, com o peixe que se comia nas sextas-feiras, no cumprimento (relativamente) rigoroso, da proibição de comer carne. Mas a vivência mais intensa decorria de sexta a segunda-feira. 

Na sexta-feira Santa, às três horas, todos tínhamos de estar em casa. Um pouco antes das três, vínhamos para o quintal e, todos juntos, ouvíamos a sirene assinalar a morte de Cristo e fazíamos silêncio. Depois, todos nos abraçávamos e beijávamos. Era o ritual da fraternidade, talvez. 

No Domingo era a festa maior. Almoço de sarapatel e cabrito assado, doces, às vezes, se o tempo o permitia, mesa posta na rua. Amigos, tios, primos, casa cheia. Segunda-feira, repetia-se o almoço, variando o menu mas não os amigos. Era o dia de ir comer para o campo, e nós já vivíamos no campo. 

Hoje, antecipando uma sexta-feira de vazio e solidão, recupero estas memórias. Sem saudosismo, porque não queria voltar atrás, mas com um enorme sentimento de gratidão pelo que Deus me permitiu viver. 

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