sábado, 14 de agosto de 2010

Navegando a Quatro Mãos


No meio do rio o barquinho levantava a proa, ousado, quando eu, entusiasmada, levava ao máximo a alavanca da velocidade. Era uma estreia! Uma estreia como navegadora de rio, eu, já calejada de muitas navegações de vida, de alguns naufrágios também. Ali, sentia-me o miúdo actor na frase conhecida "I'm the king of the world!". Também eu era, no barquinho que com facilidade manobrava, capaz de ganhar o mundo, de fazer atracagens ousadas, de percorrer o rio sem medo sequer das margens de largas pedras. Ali, disponível, a certeza de um apoio firme e sábio se necessário, a partilha de um olhar atento, a orientação segura, - cuidado agora, vai mais devagar -, o sorriso cúmplice face à minha tão simples descoberta do prazer de navegar. À nossa volta, assustadores, os terríveis incêndios a tornarem o ar denso. Mas, egoisticamente, eu acelerava no barquinho branco, espreitava praias escondidas, aproximava-me, com cuidado, de enseadas paradisíacas, sem me preocupar sequer em olhar os helicópteros que passavam levando água...
Era bom se pudesse ir assim na vida. Não como um automóvel último modelo, desejo de Álvaro de Campos, mas como um barquinho seguro, navegando sempre a quatro mãos, a olhares partilhados, a descobertas duplas e a gargalhadas simultâneas.

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