domingo, 3 de outubro de 2010

Chuva!

Chegou de noite, sem alarde nem aviso,como é próprio do que de facto vale a pena, e deixou a rua limpa, os automóveis molhados e as vidraças cheias de ribeirinhas activas. Encontrei-a pelas quatro da manhã quando, desperta pela angústia do meu país, resolvi sair da cama para enganar a insónia. Tinha saudades dela! Saudades do fresco limpo, do ar vítreo que ela dá ao mundo, da música ping-pongueada (se há acordo, porque não posso também criar os meus neologismos?)que faz nas minhas janelas. Enchi a banheira de água bem quente e fiquei ali, de molho, consciente de que, ao contrário do bacalhau, o meu aspecto em nada melhoraria, conversando em silêncio com a chuva, também ela feminina, também ela mulher. Falei-lhe do meu país sem rumo, do futuro eternamente adiado, das angústias de um quotidiano cada vez mais duro, da desesperança dos jovens que lutam por sair de Portugal, das celebrações pomposamene ridículas de uma república oca e miserável. Senti chover com mais intensidade. Juro!

2 comentários:

  1. Também eu tinha saudades da chuva.
    Mas,para este país apenas resultaría se viessem umas cheias e, com a força das aguas, levassem muitos dos que "mandam" embora...
    Beijo

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  2. Estou a ver que não gostando eu de chuva, a maneira como a expõe nos seus relatos, me vai fazer sabê-la apreciar.Lá está a persuasão, neste caso positiva, para meu bem...
    Essa de se comparar com um bacalhau, num lembraria ao D.Pedro!

    Mas, Portugal e os portugueses, gostam sempre de celebrar qualquer coisa. Parece que quanto mais as pessoas têm problemas, mais querem olvidá-los com uma festinha...-Isto já é velho!

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