quarta-feira, 15 de junho de 2011

O Ensino do Português - Hoje



Aproximam-se os exames e, compreensivelmente, as minhas angústias docentes exacerbam-se. Já muitas vezes, talvez vezes demais, defendi a importância dos exames como, de alguma forma, garantes de uma exigência que, como professora, considero imprescindível para o sucesso do processo de ensino e aprendizagem. Não é por isso de exames que me apetece falar.
Apetece-me, antes, pensar, na sombra da blogosfera, o que antecede os exames, no ensino do Português (e suspeito que no ensino da maioria das disciplinas) no meu país.
Parece-me impossível não reconhecer que o mundo mudou. Mudou radicalmente, sobretudo nos últimos 20/30 anos, prolongando a adolescência, provocando respostas céleres, invadindo (e bem!) a Escola, com indivíduos de variadas origens sociais e pessoais. Hoje, tudo, ou quase, é imediato, visível, de acesso fácil. O conhecimento, na mera aquisição da informação, está à distância de um clique e, por isso mesmo, quem está nas escolas vive o que considero histerismo hilariante do telemóvel. Ou seja, o pânico de que os alunos “copiem” via telemóvel, porque enviam sms com os aparelhos no bolso, porque têm os blackberries de última geração para, mesmo sem olharem, enviarem e receberem mails com perguntas e respostas. Creio que, por si só, este facto (ridículo) serviria para provar o desfasamento da Escola actual…
Parece-me muito fácil, de verdade, combater o copianço electrónico: - Mudem-se os instrumentos de avaliação! Torne-se a avaliação um processo, gradual, pessoal, individualizado, e termine-se com mera medição, e sequente classificação, da quantidade de conteúdos/informação adquirida! Trabalhe-se por competências e não por aquisições que, muitas vezes, se revelam inócuas e dolorosamente efémeras!

Mas eu queria falar do ensino do Português…

Eu queria escrever, numa tentativa de imortalização de opinião?, que me dói a alma, que se me encolhe a consciência social, que se me engelha a minha dimensão profissional, sempre que vejo os alunos de 12º ano carregando livros com colecções de exames para as explicações onde treinam perguntas! Desespera-me ter de ensinar português, fingindo que só há uma interpretação possível para cada peça literária, impingindo leituras, tornando os jovens mentalmente obesos, porque só comem comida plastificada…
Defendo um ensino centrado na descoberta do saber, nas aprendizagens activas, obviamente orientadas, capazes de desenvolver espíritos críticos, abertos à inovação, capazes de fazer escolhas. Ensinar português, hoje, deveria ser desenvolver competências de leitura, desenvolver sentido estético, divulgar referências capazes de orientar escolhas! Hoje, não faz sentido, para mim, que um aluno saia da escola, ao fim de 12 anos!!, sem ser capaz de apresentar publicamente uma ideia, de interpretar e se posicionar face a um qualquer texto, literário ou não. Hoje, ver jovens de 16 e 17 anos, até mais, incapazes de se expressarem na sua língua materna, incapazes de opinar sobre um qualquer assunto do quotidiano, desespera-me.
Costumo dizer que esta escola fica-me curta, mas, hoje, acho mesmo é que esta escola não me serve. Aperta-me o sonho, atropela-me a esperança, desfaz-me a bainha da fé na mudança que o Mundo me impõe!!

Por favor, agora que os ventos sopram alguma mudança, alguém olhe a Escola portuguesa para a colocar na rota do sucesso!!

1 comentário:

  1. Quase como voltar aos tempos antigos, em que não havia rotas determinadas, em que os ventos dominavam o rumo dos acontecimentos, em que a imaginação, aliada ao conhecimento, dava asas à vida...
    Quem sabe se estes ventos de mudança, esta vida que se quer nova, ou diferente, acabe com estereótipos e deixe que, com rumos bem traçados, cada um possa escolher o caminho que achar melhor. Serão ventos de mudança, serão ventos de diferença, sobretudo, serão ventos que premeiem os que melhor souberem levar a nau, sem grande tormenta, a bom porto.
    Cumprimentos

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