sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Arte

Está num canto de uma das enormes salas do Museu Berardo. O cacto espinhudo podia viver num quintal qualquer, podia ter nascido no meio de uma horta mal cuidada, podia, até, estar esquecido na berma de uma auto-estrada, ou mesmo de uma Scut polémica. Espinhudo, espetado, incapaz de cativar muitas atenções seria, apenas, um cacto!
No entanto, este espinhudo vive num espaço nobre, foi reproduzido numa tela (não é um espelho) e consegue que muitas pessoas, ou algumas pessoas, parem por longos minutos a contemplá-lo. É Arte! E, por isso, e porque tem um autor e o nome impresso, o cacto ganha estatuto, gera opiniões, impõe fotos. É Arte! Continua espinhudo, mas inofensivo porque ninguém pode tocar-lhe. É Arte! Arte moderna, diferente, estranha para mim.
Muitas vezes lembro a Mafalda de Quino "Esta Arte moderna tem mais de moderna do que de Arte!", mas desta vez discordo. Este cacto de espinhos mansos é Arte mesmo:- é a representação do efeito social. Mostra, de forma curiosa e simples, como um estatuto, uma morada de luxo, uma posição de relevo, podem alterar a essência das coisas. Das pessoas também...

2 comentários:

  1. É tudo uma questão de estatuto! De posição, de nome, de assinatura, de aparência.

    A falsidade a esconder a verdade, a beleza no espelho a enganar a fealdade real, o mais vale parecê-lo que se-lo.

    Cumprimentos

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  2. Gosto de tudo que é arte criada pela Natureza.Até este simples cacto é uma obra simples, mas exímia. Quem pintou o "seu reflexo", também demonstra muita sensibilidade ,simplicidade e harmonia. O conjunto agrada à vista.
    Quanto ao estatuto social, morada de luxo, nem por isso concordo- Sempre julgo as pessoas por «dentro»...,quando vejo exibição de luxo ou de posição de relevo, fico sempre em guarda com as pessoas.Claro que, também tenho encontrado agradáveis surpresas e isso é muito bom...

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