domingo, 11 de dezembro de 2011

Carta ao Pai Natal

Querido Pai Natal,
Não me conheces, nunca te escrevi. Fui criança já há muitos anos mas, então, conhecia o Menino nas palhinhas e escrevia para Ele.Pedi-Lhe muitos brinquedos, lembro um chorão muito especial, corpo de espuma, careca, que me abraçava nas noites em que, na Serra, o vento uivava mais forte. Pedi-Lhe, também, muitos livros, colecções inteiras, e Ele ia satisfazendo os meus pedidos. Aos poucos, culpa da vida?, fui deixando de Lhe escrever. Na minha cidade os Correios nunca funcionaram bem, era até difícil comprar selos - imagina! -, e fui deixando de escrever. Conversava com Ele muitas vezes, sabes que o tenho na mesinha de cabeceira?, e reparei que ele não era mais o Menino que, um dia "fugiu do céu" a correr. Agora, sempre que preparo o Seu nascimento, vejo-me aflita para dar conta das recordações vermelhas dos tempos em que Lhe escrevia... Mas deixemos de lado as memórias. Que importam elas na blogosfera? Que interessa ao mundo a escrita do meu coração? Se o preâmbulo é longo, Pai Natal, é apenas para te pedir desculpa por só agora te escrever. Em primeiro lugar, há a vantagem de teres, com certeza, computador. No céu, duvido que exista. Mas tu és uma criação comercial, cheia de renas e modernidades, capaz de dançar com a Popota (diz-me que contrariado!) e, por isso, deves poder ler as cartas na blogosfera, evitando-me a árdua tarefa de, na minha cidadezinha, ter de ir aos correios procurar um selo. Pois é, escrevo-te apoiada na facilidade da internet para te dizer o que, entre os tais outros sentires que não interessam a ninguém, muito me incomoda. Detesto ver-te pendurado por uma corda das janelas! Imagino-te um assaltante e dou comigo, que horror!, a desejar que caias e partas a espinha. Depois, cheia de complexos de culpa, reformulo o meu desejo esperando, apenas, que sejas capturado e fiques em prisão preventiva,como é moda em Portugal. Bom, mas tirando estes pensamentos fora de época, tenho alguma ternura pela tua barriga redonda, pelas barbas imaculadas e, confesso, sinto muita inveja da tua viagem mágica, no céu estrelado, nesse trem puxado por renas velozes. É assente na ternura que ouso fazer-te pedidos. Talvez a minha idade já não me permita essas leviandades, mas ainda assim, atrevo-me. Quero pedir-te que, na noite de 24, quando voares sobre a minha Serra, deixes cair pozinhos de compreensão, pacotes de ternura e muitos chocolates vermelhos. Peço pouco, como vês. Tenho mais necessidades, muitas mais, mas, se não levares a mal, guardo-as para Ele. Pedir-Lhe-ei a Ele, em surdina, escrevendo apenas com letras sentidas no coração amolecido.
Obrigada Pai Natal e boa viagem!

4 comentários:

  1. Acho que o Pai Natal lhe vai levar os chocolates, lhe vai levar a ternura do neto, não sei se compreensão, porque a humanidade está cada vez mais impermeável aos afectos.

    Mas ELE vai, de certeza, escutá-la e prometer-lhe, na surdina do diálogo entre os dois, as necessidades que lhe fazem falta.

    Estou certo disso.

    Cumprimentos

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  2. ...pedir pozinhos de compreensão, pacotes de ternura e chocolates vermelhos, na noite de 24..., depois de rogar pragas ao Pai Natal? Não me parece que consiga.Nem o Pai Natal seria tão bonacheirão e tolerante assim!
    Eu, ao menos, só penso logo numa fisga, quando vejo os insuflaveis...e pum!

    Será melhor ficar pelos pedidos a Ele...

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  3. É bom escrever uma carta ao Pai Natal...Quem sabe, talvez ele leia e compreenda!
    beijos

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  4. Tenho a certeza que o pai Natal vai ler e vai trazer todos esses pós. Entretanto tens um neto que te adora e está a contar os dias para ir dar pão molhado aos galos!
    Adoro-te

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