segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Depósitos (des)humanos

A Confederação de Pais quer que as crianças fiquem ainda mais horas na escola. Falam da Escola a tempo inteiro com uma ligeireza que me apavora e revolta. Para crescerem de forma saudável, as crianças precisam de tempo com os pais, com as famílias, de horas em casa, num ambiente onde se revejam. A escola tem, obviamente, de tentar suprir a falta da família, de tentar minimizar os efeitos de ambientes familiares traumatizantes. No entanto, estas devem ser, creio, situações de excepção e não a norma. Propor que os professores fiquem na escola, até às sete da tarde ou mais(?!) a passar filmes para entreter os meninos, é assumir uma sociedade desumanizada, sem tempos de afectos nem espaços de ternura.
Penso que os pais deviam exigir e lutar por condições laborais que lhes permitam ser PAIS  e não, de forma alguma, procurar soluções que contribuam para a perda de oportunidades de ver crescer as crianças. Não há professor, por melhor que seja, que substitua a leitura de um conto ao adormecer, a conversa sobre a escola sentados à mesa, o ver cair os dentes, o limpar as lágrimas do primeiro desgosto de amor, etc...
Se a escola se tornar um depósito de crianças e jovens, em breve a sociedade será um espaço de silêncio e solidão! Sei bem que, hoje, a escola não pode limitar-se ao papel de transmissora de conhecimentos. No entanto, tenho a certeza que não pode substituir a família. Esta escola que a Confederação de Pais apregoa, não é escola. É, ou será, apenas um espaço para onde os pais poderão sacudir responsabilidades sem se aperceberem (?) do que estão a perder a cada minuto que não passam com os seus filhos.

5 comentários:

  1. Já há algum tempo que falam nisso.
    É um absurdo. As crianças já passam demasiado tempo no mesmo espaço, demasiadas horas a fazer actividades orientadas.

    Um abraço

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  2. Concordo contigo. Cada vez mais os miudos são largados e os pais sao cada vez menos PAIS!
    Sorte a minha de te ter tido como Mãe!

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  3. Isso seria bonito se os filhos, ao chegarem a casa, falassem com os pais e vice-versa.
    Mas quantas vezes os filhos chegam a casa,fecham-se à chave no quarto, isolam-se na virtualidade da internet e não convivem com ninguém da casa?
    Os pais, preocupados com as contas para pagar, sem saber como resolver a prestação do andar, ou do carro, ou da televisão esquecem-se dos filhos encerrados no "sossego" do quarto...
    É tudo um contra-senso: o mundo da comunicação global, o mundo da web, a não deixar lugar ao diálogo familiar, à conversa caseira, à comunicação entre pais e filhos...
    Cumprimentos.

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  4. "Guardem-se os meninos nas escolas até o mais tarde possível, que, o pessoal não está para ter que os aturar...já sabe Deus para lhes dar de comer, quanto mais... e os professores para que servem, senão, para amas secas?"
    Acho que "o pessoal" já se habituou à ideia de que os professores servem p'ra tudo!
    Há ainda muitos pais que se preocupam em ter os filhos de baixo de olho, mas regra geral, é assim mesmo que pensa...
    O Estado tem culpas disto tudo...

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  5. Nos tempos que correm, seria preferível muitas crianças passarem mais tempo na escola do que em casa.
    Quando vou buscar o meu filho ao infantário (cedo) porque tenho a sorte de sair cedo, vejo muitas das crianças que por ali andam. Ali têm quem os protege, lhe dê atenção, carinho, comida, muitas coisas que em casa não têm.

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