terça-feira, 17 de abril de 2012

Portalegre

Vazia, a esplanada oferecia o silêncio da cidade branca. Em socalcos, cidade ingrata para andar de bicicleta, Portalegre mostrava-se branca e firma, orgulhosa e resistente, parecendo querer gritar que continuaria vivendo. Sobrevivendo. Sentei-me ali, no castelo que ficou feio (pombal emadeirado) e, uma vez mais, senti doer a minha lagóiice. Por que será que, à sombra da modernidade, se continuam a cometer crimes arquitectónicos? Em resposta, no silêncio, vinham os argumentos dos técnicos. - Mas o que querias? Que, no séc. XXI, se construisse como no séc. XVIII?! - Não, não queria. Queria só que se olhasse a especificidade de cada lugar, que se preservassem identidades, que se respeitassem harmonias. Queria que não existissem prédios encostados às muralhas do velho castelo, que não se fizessem hoteis de vidros, que não se plantassem construções absurdas no Rossio da minha cidadezinha. Queria que desenvolvimento não fosse sinónimo de descaracterização e desalento! Queria  o velho castelo vivo, com o Restaurante a funcionar, com a esplanada cheia de bem-estar e conversas soltas. Queria, também, que a minha cidade continuasse branca e limpa, cheirosa e verdadeira. Queria que Portalegre fosse, sempre, um lugar de onde os visitantes partem com vontade de voltar...
Na esplanada vazia, olhando a minha cidade, sinto que queria simplesmente nada ter que desejar. Se assim fosse, teria tudo!

3 comentários:

  1. Portalegre só tinha um edifício amarelo, o Palácio, o resto era o branco, que dava o nome à cidade; e tinha, também, as chaminés da Robinson com os seus fumos, branco e negro, que ao darem-nos a direcção do vento, indicavam como ia ficar o tempo.

    Agora é a cidade a descaracterizar-se, a perder a sua identidade, a uniformizar-se numa modernidade acéfala.

    Faz pena!

    Cumprimentos.

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  2. Uma cidade contra a qual se têm cometido os maiores crimes arquitectónicos. Tudo com autorização de uma cambada de "chularecos" que não sentem a cidade como deles.
    Beijo

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  3. Que pena... Engaiolados, eu sei. Mas a vista sobre o antigo liceu e os campos ainda é bonita.
    Esta vista que mostras arrepia a alma!

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