terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Cidadania

O velho ginásio, agora um moderno anfiteatro, recebeu os alunos. Eram mais de cem, de início curiosos e atentos, aos poucos desinteressados e barulhentos... Na mesa, colocada no centro, um lindo arranjo de flores enquadrava os deputados. Ia-se falar de "Política e Verdade" e, para isso, tinham-se deslocado de Lisboa representantes dos seis partidos com assento parlamentar. Bom, cinco. Porque o CDS, na véspera, justificou a ausência com a nomeação do seu representante para secretário de estado (na altura, confesso, lembrei-me do arquitecto de Os Maias, que não pode desenhar as cavalariças do Ramalhete por ter sido nomeado para um alto cargo político...).
Enfim, tudo estava preparado e os alunos, os do Clube Europeu da minha escola, que ainda acreditam que é importante participar, discutir e pensar, estavam nervosos. Vi o João, ainda no 10º ano, crescer ao segurar o microfone para, com segurança e força, abrir a sessão. Gostei de o ouvir, gostei do entusiasmo e da segurança que imprimiu ao seu discurso. Gostei da Beatriz, firme nos seus doze anos, a perguntar com a voz clara porque não a deixam ter melhor educação.
Depois, os deputados. E as palavras vazias de sentido, as afirmações gastas e cansativas. Com uma excepção... O representante do PCP falava acreditando no que dizia, com forte pronúncia alentejana, trazendo a força, para mim, do descante alentejano. Gostei de ouvir este jovem, mas gostei, sobretudo, da frontalidade brilhante do olhar. Não vi vestígios de cólera, inveja ou raiva. Não vi preocupação em vender doutrinas  (ao contrário do que normalmente acontece no PCP) ou criticar práticas. Vi um jovem ainda com capacidade de sonhar. 
Vi um jovem-jovem e não, como tantas vezes me parece ver, um jovem-velho a repetir vazios!
Quando a sessão terminou, e estando eu ainda incomodada com a frieza de Luís Fazenda e com o vazio da representante do PS, quase me apetecia ter de novo 20 anos e, ao lado de João Oliveira, gritar que é preciso fazermo-nos ouvir e lutarmos por ideais! Talvez a idade me tenha trazido esta capacidade de ver para além da cor partidária, porque as minhas opções políticas afastam-se em tudo do PCP. Mas, fosse lá porque fosse, e com a certeza de que o caminho para o sucesso não é por ali, o discurso do jovem deputado comunista empolgou-me. (Vou ouvir um raspanete violento da minha filha..)

5 comentários:

  1. Provavelmente o jovem ainda não teve tempo para ser intoxicado pelo ar que se respira no ambiente da AR e do PCP!

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  2. Setôra, continua igual! Lembro-me de quando foi à escola o Dr. Deus Pinheiro e fomos trinta a Bruxelas! Lembra-se de Bruges e do Eduardo se ter perdido?! Que saudades.
    João

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  3. Ser «Recta» , «Justa» , «Coerente» e «Consciente», não é ser de esquerda,e nem ser de direita - é ser uma pessoa com visão, com a sabedoria e experiência da Vida e das "Coisas".
    Gostava de ver a Setôra com um cargo político ...

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  4. ...e se a política fosse renovada, se se começasse a escolher pessoas com mais "teor" humanitário e com mais sentido de honra, outro "galo nos cantaria" !!
    Olarila! ..., como dizia A.C.

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  5. So podes estar a gozar?!!recuso-me a comentar!
    Filipa

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