domingo, 26 de abril de 2015

MORTE

À medida que o tempo passa, e os anos se escoam, vamos, eu vou, convivendo com mais frequência com a Morte. O tempo em que "eu era feliz e ninguém estava morto" faz parte de uma memória cada vez mais longínqua e, agora, começo a achar que o meu carregamento de mortos tem um peso considerável. 
Os mortos queridos, aqueles que eu precisava que continuassem vivos, são, para mim, buracos - crateras - na minha existência. Nada há que disfarce a agressão, nada há que suprima a perda. Essas crateras, contudo, estão forradas de memórias que, com a distância, se vão suavizando e até embelezando. 
Há também mortos que não me fazem falta. Mortos de quem não sinto saudade, que me fizeram mal e que, por isso, tento não recordar... 
Há, ainda, os mortos-vivos. Aqueles que me abandonaram, que seguiram sem mim, que lembro, mas perdi, algures, numa esquina da vida. A esses queria ressuscitar nos meus afectos!
Um dia, também eu vou ser morta. Não vou estar morta, porque os mortos não estão, mas vou ser morta. E, quando isso acontecer, eu desejo que, pelo menos para alguns que me são queridos, eu me torne no tal musgo macio que enche de conforto a cratera da ausência.

2 comentários:

  1. Luisa, só se morre "verdadeiramente" quando já não há ninguém que nos lembre!
    A minha avó ainda hoje habita nos meus sonhos,mas há uma coisa que me dói mt, já não consigo lembrar-me da sua voz!

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