quarta-feira, 24 de junho de 2015

JIBOIANDO

Chegou exausta, com o calor sempre lhe acontecia assim, um cansaço potenciado, uma vontade de ficar jiboiando ignorando as exigências da vida. Vestiu o velho vestido branco, calçou os chinelos de horroroso conforto, pôs o chapéu de boas memórias e esticou-se na cadeira da piscina. Fechou os olhos para escapar à violência do sol, e deixou-se amolecer. Aos poucos, foi despertando para a vida em seu redor. Podia adivinhar a curiosidade da lagartixa verde, ali mesmo na base da roseira branca, ouvia distintamente o ressonar do cão, à sombra da velha ameixoeira, dormindo atento aos movimentos dela, conseguia captar excertos de conversas vazias na piscina próxima. Felizmente, pensou, tinha a sebe verde e grossa a salvaguardar-lhe a privacidade do fim de tarde. 
Quase adormecida, sentiu chegar um carrerinho de pensares de doer e, rapidamente, tirou o chapéu e entrou na água. Sorrindo, ficou a ver o vestido colar-se-lhe ao corpo sem conseguir deixar de desejar que o vestido fosse humano.

5 comentários:

  1. Luísa, depois dos exames, já chegou a hora da piscina?

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    1. Piscina?! Férias?! Sonhos... Ainda amanhã vou levantar exames de literatura portuguesa para corrigir

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  2. Luisa, andei à procura do significado do termo que dá o título ao seu post, descobri que é brasileiro e cuja tradução para inglês é" digest while at rest" ! Haverá uma significado em português genuíno para a designar? Fico à espera...

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    1. Dalma, talvez "lagartixar" sirva... Mas é um neologismo que, na minha opinião, expressa bem o acto de nada fazer, nada esperar, nada desejar...

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  3. Luisa, certo será que vem de jibóia, logo faz sentido a expressão inglesa. Não fará?

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