sexta-feira, 14 de abril de 2017

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Era sempre assim. Do mosto da vida fazia, com a máquina da memória, a bebida que a alimentava na rotina da vida, Sucediam-se Invernos, Natais, Primaveras e Páscoas e ela, religiosamente, como quem reza a oração do silêncio, acumulava memórias. Todas lhe faziam falta. As boas, muitas felizmente, davam sabor aos momentos que, agora cada vez mais, se tornavam amargos; as más, muitas infelizmente, serviam-lhe de alerta, luzes no corredor da vida, evitando, por vezes, outros erros ou enganos... 
Agora, de novo Páscoa, saltava o mosto de outras eras de renovação. 
Em miúda ouvia a sirene, comia borrego (que saudades daquelas batatas), trincava amêndoas e esperava o coelho branco que, garantiam os adultos desaparecidos, era um ser mágico que semeava ovos coloridos para as crianças. Era bom ter sido criança. Talvez, agora pensava, fosse bom ser criança por nunca se esperar do mosto senão que fosse mosto. Depois, crescendo, a mania de esperar por outras bebidas, o vício de desejar diferentes sabores, acabavam por estragar muitos menús...

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