terça-feira, 23 de agosto de 2011

O peixinho Vermelho

Quando tinha crianças em casa, quando as minhas meninas eram bem pequenas, tinhamos sempre um aquário com peixinhos. Eu lera algures, num dos muitos manuais de pedagogia que hoje acho absurdos, que é muito importante para o desenvolvimento das crianças terem um animal e, como se não bastassem os cães e as galinhas em casa dos avós, connosco moravam  os peixinhos. Vivemos algumas aventuras com eles.
Uma vez, um peixinho morreu, (o que aliás acontecia com frequência, levando-me a substituir o defunto antes que as miúdas dessem pelo óbito) e, apanhada numa hora de familia, sem hipótese de o substituir, fiquei angustiada. Como iriam as minhas filhas reagir à morte? Salvou-me o eterno pragmatismo da Filipa, "olha, morreu o Tobias! Deixa mãe, manda-o pela retrete que ele vai para o mar, onde deve haver um cemitério para peixes". Assim fizemos, sem nenhum cerimonial que  não fosse a concha da sopa com o defunto e uma exigência da Joana para que fosse ela a carregar no autoclismo, e sem que eu me atrevesse a investigar as razões que levavam a Filipa a concluir que o que desaparecia da retrete ia parar ao mar. De outra vez, chegámos  a casa vindas da escola e um dos peixes estava morto na carpete. Eu constatei a morte dizendo às miúdas que o bicho se tinha suicidado, pois saltara do aquário, levando a Joana a sentenciar que ele devia estar farto de andar sempre à roda. Puseram-se as duas a rodar como faziam os peixes e, num instante, cairam redondas comprovando a sua teoria de suicídio em desespero circular (claro que as palavras não foram estas, mas a intenção era!). Ainda tivemos depois um aquário com tampa, rectângular, mas elas foram crescendo e os meus manuais de pedagogia foram-se revelando cada vez mais obsoletos. Tentámos ainda as tartarugas, num aquário com palmeirinhas de plástico, mas eu, vendo-as muito quietas e estando farta de mortes súbitas, deitei-as para o lixo. Ia sendo despromovida de mãe pelas  minhas filhas que, indignadas, perguntaram se eu não sabia o que era hibernar...
Bom, depois destas experiências que, teoricamente, muito contribuiram para o sentido de responsabilidade das minhas crianças, há para aí uns 15 anos que não havia peixinhos cá em casa. Mas agora veio o meu neto, como todos os netos o miúdos mais giro do mundo, e os peixinhos voltaram. De novo tenho um aquário redondo, dois peixinhos vermelhos a rodar e a tarefa de mudar a água sem que nenhum dele fuja pelo cano... Sento-me a trabalhar e olho os peixes, garantiram-me que é um casal..., vendo-os a rodar e fazer bolhinhas. Fico com pena dos bichinhos, assim presos, e já decidi que, quando o Manuel Bernardo voltar para Inglaterra, vou soltar os peixes no tanque. Detesto a ideia de falta de liberdade!

4 comentários:

  1. Quem não teve peixinhos, desses bem vermelhos, a rodarem, a rodarem, a verem o mundo, o de cá de fora, deformado pela lente gigante que é o aquário, a olharem-nos de forma torta?

    Tive um que viveu anos, solitário, mas bom companheiro. Nunca se lhe pôs nome e, sem nome morreu: nasceu peixe e peixe morreu.

    A verdade é que o meu peixe, no seu silêncio, na sua solidão, fez-me sempre uma boa companhia!

    Cumprimentos.

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  2. Adorei esta história!
    Só mesmo as crianças para reagirem dessa maneira e com tanta imaginação.
    Também já tive muitos peixinhos.O mais curioso que me aconteceu, foi com um daqueles pretos de olhos grandes, que tive tanto tempo(acho que mais de dois anos) que acabou por ficar vermelho.Disseram-me que foi por causa da comida.
    Nesta história só tive pena das pobres tartaruguinhas, vítimas duma maldade involuntária.
    Coitadinhas!
    Um abraço

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  3. O peixinho "douradinho" também cá mora há 3 anos.
    Os passarinhos "Romeu" e "Julieta" por cá andam há 2 anos.
    E mais não quero. É bonito, eles acham graça no início mais depois quem acaba por limpar, dar comer são sempre os pais.

    Beijo de Portalegre!!

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  4. Os animais dão tanto, não é? Companhia, alegria, cor, sorrisos (depende do animal...)!
    Essa do hibernar é tremenda, porque somos ignorantes de certas coisas e pensamos saber tudo: a minha história foi com uns ratinhos hamster - da Gui e do Diogo. Também decidiram hibernar, e já estavam para ir para o lixo quando alguém disse: olha que podem estar em hibernação!
    Salvaram-se!

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