quinta-feira, 10 de outubro de 2013

40 horas

Já aí estão, as 40 horas! Estão como se fossem, por si só, a salvação do país, e eu não posso deixar de me espantar. (Ao menos o direito ao espanto ainda não é taxado...) Não me parece que o problema seja a quantidade de tempo de trabalho mas, sim, a qualidade do mesmo. Há quem produza mais em dez horas, do que outros em vinte... Mas eu não percebo nada de economia e não vou sequer fingir que percebo. As quarenta horas fizeram-me, apenas, recordar uma história que vivi na primeira pessoa há quase cinco anos... 
No âmbito das actividades desenvolvidas pelo Clube Europeu da minha escola, coube-me acompanhar quatro alunos numa viagem de cinco dias a Stavanger, na Noruega. Os alunos ficaram alojados em casa de colegas e, durante o dia, assistiam a aulas e partilhavam o quotidiano de quem os recebia. Os professores, eu, um colega de Espanha, um inglês, e uma lituana, acompanhavam os alunos depois das aulas, a partir da uma da tarde e, de manhã, assistiam a actividades e/ou reuniam para partilhar experiências. Numa destas reuniões, coube-me apresentar a organização do quotidiano lectivo dos alunos do ensino secundário em Portugal e, quando eu disse que entravamos na escola às oito e trinta, e saíamos pelas cinco ou cinco ou cinco e meia, um professor norueguês, um senhor muito loiro e atento, perguntou-me: - E quando é que os alunos aprendem?! - Expliquei que pensava que aprendiam nas aulas, e ele, com sinceridade e sem crítica gratuita, explicou que a aprendizagem é um acto individual e que carece de tempo de reflexão individual. À escola, disse, cabe abrir caminhos, avaliar processos e graus de consecução de objectivos, mas a aprendizagem, a efectiva, depende de cada um. Pensei muito no que ouvi, fiz leituras, constatei que os nossos jovens são os que, na Europa, mas tempo passam na escola e, no entanto, estão longe de ser os que mais sabem... Desde então, nunca mais usei a expressão "processo de ensino-aprendizagem" que substituí, definitivamente, por "processo de ensino E aprendizagem". Agora, ao ouvir o anúncio das 40 horas, lembrei-me de novo de Stavanger. 
Mais, nem sempre é sinal de melhor. Acho eu.

2 comentários:

  1. Setôra, este texto tem de sair "por aí"!! ...
    Nunca vi nada mais acertado, mais lógico...
    Somos mesmo atrasados!

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  2. Pois é, resta-nos o espanto... Como é possível tanta burrice?
    E quando é que os alunos aprendem?! - boa pergunta!
    Outra: E quando é que os professores se actualizam, têm tempo para ler, ir ao cinema, teatro... Ou mesmo: falar com a família???
    Um beijo e coragem. Protesta sempre!
    E espantemo-nos!

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