domingo, 1 de novembro de 2015

Os SANTINHOS

Bem cedo, ignorando o nevoeiro húmido das manhãs da Serra, os miúdos chegavam aos grupinhos. Batiam à porta e entre risos envergonhados, estendiam os sacos de pano pedindo "Dê-me os Santinhos"...
Qualquer coisa os encantava, de chocolates a nozes mesmo pão que fosse. Depois, felizes por terem atingido o objectivo, partiam a rir, a correr, para logo pararem no muro mais próximo partilhando os tesouros. Eu nunca pedi Santinhos. Talvez por isso, a vida ofereceu-me diabinhos em abundância...
Hoje, com netos já, ninguém me pediu os Santinhos. Hoje, ouvi dizer "gostosuras ou diabruras", num vício de imitação acrítica que me incomoda e agride. Há abóboras por todo o lado, eu fiz doce delas, e os miúdos pintam a cara com teias de aranha, vestem-se de cadáver e dizem ser fantasmas ou vampiros. Talvez, no fundo, estas alterações culturais não sejam, apenas, o resultado da importação do alheio. Talvez, afinal os santinhos, com o que de bondade e partilha implicavam, já não tenham lugar neste mundo que é, ou parece ser, cada vez mais povoado por teias negras e animais repelentes...

1 comentário:

  1. Eu também nunca pedi os "santinhos", os meus filhos também não! No meu tempo para os miúdos pobres era uma maneira de ter goluseimas que de outra maneira não tinham... Hoje é a globalização/imitação que nos traz as "gostosuras ou diabruras"!

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