segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Mas as crianças, Senhor? - Já não é poesia...

Guardar as crianças e jovens nas escolas até às 19.00h - Ouvi com surpresa. Com mais surpresa ainda porque, conhecendo de perto o trabalho do actual secretário de estado, sabendo-o um homem de bem e preocupado, de facto, com os alunos, soava estranho. Por isso, antes de embarcar nas enormidades  que a opinião pública faz por vezes parecerem verdades, esperei e li. E não fiquei convencida...
A ideia, teoricamente, até pode ter justificação. Os pais trabalham cada vez mais, as crianças ficam muito tempo entregues a si próprias e sujeitas a riscos.
No entanto, penso que a solução não passa por mais horas nas escolas mas, bem pelo contrário, por uma maior organização e flexibilização de horários de casais com filhos.
Claro, mais fácil é aumentar o tempo na escola. Até sai mais barato... Mas as crianças são pessoas e, como tal, carecem de tempo de afectos, de qualidade no tempo da aprendizagem do relacionamento humano, de disponibilidade para ouvirem e serem ouvidas. Por muito excepcional que seja um professor, e eu sei que a maioria o é, não substituirão nunca a família...
Olho a actual proposta e, sei lá porquê, lembro-me da juventude hitleriana. Lembro-me dos jovens retirados às famílias para serem educados pela Alemanha; lembro os acampamentos da Mocidade Portuguesa; lembro muitas realidades educativas onde se formatavam mentalidades, limitavam sonhos e construíam falsidades. À minha frente desfilam os pequenos coreanos, todos de idêntica tristeza e futuro vazio.
Não quero isto para os jovens do meu país! Creio que a sociedade em geral devia mobilizar-se para defender as crianças e os jovens. Nem tudo podem ser números, nem tudo pode ser dinheiro! Tem de ser possível construir uma sociedade com espaço para as Pessoas que a constituem!

1 comentário:

  1. Quanto concordo! Os professores não são os pais como os tempos livres de ocupação escolar não são na verdade tempos livres. A educação não pode ficar a cargo exclusivo - ou quase - da escola. Não é assim que se preservam os valores familiares e de núcleo, essenciais à estabilidade juvenil e adulta. Os tempos livres são necessidade de qualquer criança e, dentro deles, os vividos em família: com pais, avós, tios,primos e outras crianças.

    Pois...não acredito que vamos formar juventudes hitlerianas à portuguesa. Vamos é continuar a dar aso a jovens para quem vale tudo, que desconhecem emoções e sentimentos fundamentais e portanto não podem valorizar o que não têm consigo, que não experimentaram o mundo senão espartilhado em horários, vivido sob a jurisdição de alguém que "toma conta" e que, seja ou não professor, não quer chatices e não cria atritos ou foge deles quanto pode. Nesse mundo, o gosto pessoal e as preferências pouco importam. E assim vai rolando a bola cada vez maior da deformação do carácter infantil, cada adulto a empurrar para o outro a tarefa de educar, cuja, na verdade se torna progressivamente mais difícil.

    Há muita vida que assim se cerceia. Penso que o tempo proporciona a maturação do pensamento, dos sentimentos e emoções e, em educação, é essencial. E tanto a pais como a professores. Aos primeiros eu daria mais tempo com os filhos, aos segundos aliviava a carga extra aula e até curricular.


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