quinta-feira, 23 de julho de 2009

As estátuas

Lá em baixo vejo desfilar a vida. É noite, tarde e cedo. Tarde para quem gosta de sossego, cedo para quem opta pelas discotecas e bares. Cheguei há pouco, passeio juntinho ao mar, bica na esplanada simpática, caminhada de regresso pelo movimento de Verão, peles bronzeadas, roupas estranhas, linguajares múltiplos, vendedores de tudo: - óculos de sol, peluches, vestidos, arte africana, artesanato, t-shirts, lacostes alagartadas, pipocas, cachorros, gomas, anéis, colares, pedras, ganchos, travessões, biquinis, toalhas de praia, havaianas, crocks e similares, etc. No meio dos vendedores ambulantes, sempre prontos para ensacar tudo e fugir dos polícias, estão as estátuas. São pessoas estranhas, imitando pedra, imóveis, de caras pintadas, horas e horas sem qualquer movimento, uma lata aos pés esperando que caiam moedas. Fazem-me impressão estas estátuas! É a miséria humilhada e petrificada! Arrepiam-me, fazem-me sentir incrivelmente culpada. Deixo moedas rápidas. Tenho vergonha de existir num mundo de tanta enormidade, e sinto-me mal por gozar agora o privilégio de uma cama fofa com vista para o mar. Não experimento pena, sequer simpatia, pelas estátuas humanas. Acredito que o ser humano faz as suas escolhas e que cada um deve ser livre de fazer o que quer. Mas, será da maresia?, incomoda-me a idiotice humana. A minha também.

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