terça-feira, 1 de novembro de 2011

Dia de Todos os Santos

Apesar da chuva (como gosto dela!), as crianças sairam à rua para cumprir a tradição. Não pedem, aqui, pão por Deus, mas dizem dê-me os santinhos e levam no saco rebuçados, nozes e algumas (poucas) moedas. Lembro outros dias de santinhos. Então a casa enchia-se de cheiro a broas, com mel e noz, bem feiosas mas muito saborosas, e os sacos para pedir eram de pano. Normalmente, eram sacos surripiados à minha mãe e eu era arrastada pela minha irmã Nô que adorava todas estas coisas. Lembro-me de detestar andar a pedir. Tinha vergonha, nunca era capaz de bater às portas, detestava que me dessem coisas que para nada me serviam. A minha irmã gostava de tudo o que fosse fazer coisas, como ela dizia, e rebocava-me contra a minha vontade. Mais tarde, eram as minhas filhas que queriam ir pedir os santinhos e, como moravamos longe da cidade, as vítimas eram sempre as mesmas: - o Dr. Falcão e a Srª. Dona Zélia. A Filipa adorava vir de lá com um postal pintado, com um conto bem contado, ou com um poema recitado pelo velho amigo. A Joana preferia as bolachas e os chocolates que nunca comia...Um dia, trouxeram um Pinóquio articulado, uma das muitas maravilhas que a casa daqueles vizinhos especiais tinha para elas, e o Pinóquio manteve-se, bem preservado, no quarto delas durante anos.
Agora, hoje, vejo outras crianças nas ruas e lamento que não venham bater-me à porta. Queria, também poder dar-lhes um poema, poder contar-lhes da ternura que faz (ou não?) a vida das gentes.

3 comentários:

  1. São os melhores santinhos, os que vêm acompanhados de ternura, de afectos, de amor...

    Bom dia de Santos!

    Cumprimentos.

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  2. Pão por Deus!
    -Venha daí uma broinha dessas escuras com nozes, se não, também dá uma bolacha Maria,mas com marmelada caseira e queijo, encima!!
    Não dá? Então um poemazinho ou outro texto bonito como tantos outros que aqui vêm ter connosco...
    Bom dia de Santinhos!

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  3. ...não tarda nada, lá para o ano que vem, o Manuel Bernardo vai arrastá-la outra vez a bater às portas, como fazia a mana!

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