sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Big Brother

Sei que já ninguém fala no Big Broher. Agora, dizem, há outros programas mais encantadores e emocionantes como, por exemplo, a Casa dos Segredos (nunca vi, não comento) e o Peso Pesado (vi e achei deprimente). Contudo, o Big Brother está mais actual do que nunca.
Vivemos na era dos olhares indiscretos, do desrespeito pela individualidade, no tempo das câmaras de vigilância por todo o lado, algumas, sadicamente quase, pedindo-nos para sorrirmos pois estamos a ser filmados. Vivemos, hoje, em exposição constante e sem direito à nossa privacidade, às NOSSAS transgressões e segredos. Se usamos o cartão mutibanco, o Banco sabe logo onde estivemos; se passamos numa auto estrada, a Brisa sabe onde parámos; se subimos ou descemos num elevador, alguém sabe se aproveitamos para ajeitar as cuecas ou retocar o batôn; se experimentamos uma roupa alguém está a ver que o queria outra cor, significa que o modelo experimentado não disfarça as gorduras incómodas!
Confesso que me incomoda a ideia de estar sempre vigiada, de sentir que, algures, numa esquina, pendurado num poste, ou acompanhado de um smile pespegado numa parede, um olho (ou mil?) me espia e observa.
Foi por tudo isto que quando soube que, inserido no GIAE (não sei exactamente o que querem dizer as letras...) é possível aos pais dos alunos controlarem os cartões dos miúdos, saberem o que e quando comeram, a que aulas faltaram, quantas fotocópias fizeram, etc, fiquei aterrorizada! Apetece-me gritar a estes dirigentes, a este mundo louco, que deixem a vida ser vivida!
Não tenho memórias da PIDE, era ainda muito criança, mas, hoje, sinto que a polícia está em todo o lado espiando, investigando, metendo o nariz em tudo!!
Como professora, defendo que a promoção da autonomia e a responsabilização de cada um pelos seus actos é essencial. No meu país, faz-se o contrário: - Fiscaliza-se, tutela-se, espia-se, esvazia-se de responsabilidade cada escolha porque, simplesmente, não se permitem escolhas!
Ainda bem que, quando eu andava no Liceu, podia ir até ao Café Alentejano comer uma boleima, dar as mãos ao namorado, sem um código que permitisse aos meus pais, indo simplesmente ao computador, saberem quantos são os passos que vão do Liceu ao Café, ou quanta é a quantidade de sola que gasto...

4 comentários:

  1. Cada vez mais controlados. Cada vez mais abafados. Cada vez mais agrilhoados.O Estado a aprisionar-nos na teia imensa das câmaras de vigilância, nos GPSs, na electrónica dos cartões de débito e de crédito, nas vias verdes, no número único...
    Cumprimentos

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  2. Já não é "Big" é "Pan" pela universalidade, pela forma como, em todo o lado, somos espiados.
    Onde iremos parar?
    Desaparece a palavra intimidade?
    Beijos.
    Álvaro

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  3. De acordo contigo, Luísa! Essa é o máximo! Deixem as crianças brincar, viver e crescer sem polícias atrás. E os crescidos também...
    beijos

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  4. Estes programas esquisitos da TV, eu acho que eles estão a fazer pouco das pessoas. Dos que se prestam para eles e da gente...

    Essa coisa dos cartões e de controles, também é um negócio e as pessoas aderem pela modernidade e porque o "outro "já tem.
    Portanto serão também as pessoas que são vigiadas, um pouco as culpadas disso.
    Mas, desde que tenhamos as conciências tranquilas, que se lixem...

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