quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O QUE CABE NOS BOLSOS

Não fala, guincha. Não obedece, protesta. Não escreve, rabisca. Alto e bom som, na insegurança que quer fazer parecer força, garante que para a aula só traz o que possa caber nos bolsos. No bolso não cabe um caderno, sequer um livro, na melhor das hipóteses, bem ao lado do indispensável telemóvel, uma esferográfica roída. Pergunto-lhe se traz, por acaso, sonhos de amanhã, se lhe cabem nos bolsos. Abana a cabeça. O vocabulário é pobre para falar de desilusão, o olhar inquieto denuncia angústia calada. Não gosta da escola, repete. Sem porquês, só porque não. O que quer mesmo, garante, é fazer 18 anos e deixar de vir à escola. Quer ser livre, repete. Olho-a com angústia. O que fazer? 
Alguém escrevia há dias, num blog que sempre sigo, que este país não é para velhos. Infelizmente, parece que este país também não é para jovens...

2 comentários:

  1. Luisa, sou sempre sensível a estas situações, não com tanta frequência mas tive algumas! É em situações deste tipo que um professor pode fazer toda a diferença.
    Não me tome por "naif" pois sei que nunca podemos fazer milagres, porém podemos deixar neles uma centelha que um dia poderá acender um fogo do querer! Não sei se já contei que muitos anos depois fui abordada na rua por um jovem altíssimo que me chamou: professora! Depois de uma longa conversa em plena Rua Direita, em jeitos de despedida disse: a professora ralhava-me muito e com razão, mas eu sabia que a professora gostava muito de mim!
    O N. F. tinha uma vida familiar complicada e isso justificava muito do seu comportamento, cresceu, tirou um curso médio e hoje tem uma vida organizada... Por isso há sempre uma esperança e uma palavra, uma mão amiga podem mesmo de forma longínqua ajudar. Obviamente que a Luisa sabe tudo isso e muitos dos que passaram pela sua mão a recordarão...

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  2. Dalma, Tem toda a razão, e é isso que tento sempre fazer. O problema é que, cada vez mais, a Escola se perde em papéis, reuniões ocas, números, ficando pouco tempo - MUITO POUCO TEMPO - para olhar a pessoa que mora em cada aluno. Sei que me compreende.

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