quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

As Pessoas Sensíveis

Tem ecoado em mim um dos imensos poemas fantásticos de Sophia,  Pessoas Sensíveis. Infelizmente, este poema que oiço no silêncio, não me acompanha fazendo-me sorrir mas, antes, fazendo-me pensar que ainda há muitas pessoas  hipocritamente sensíveis... Pessoas que enchem textos falando do superior interesse das crianças e que, depois, permitem uma justiça vergonhosamente lenta, fecham os olhos a serviços indignamente burocráticos. Morreram mais duas crianças. Não sei se a mãe estava doente, se o pai era pedófilo, se as crianças estavam ou não mortas antes de entrarem na água. O que sei, e me dói, é que, uma vez mais, com uma ligeireza que me revolta, o estado falhou no acompanhamento a crianças que, há muito, tinham sido sinalizadas como estando em risco! Tenho vergonha por mim também. Como é possível que comente este crime à mesa do café, e que não tenha nada mais para dizer para além do é grave e indecente??
No meio desta barbaridade, que a todos diz respeito, continuo a achar que há pessoas estranhamente sensíveis... Hoje mesmo, numa aula, porque dois alunos se preparavam para fazer análise de Os Maias sem livro, e porque lhes pedi que fossem à biblioteca pedir um livro..., encontrei uma sensibilidade que me indigna também. Zangada, eu disse aos meus alunos: - Vocês acham normal estarem dispostos a perder uma hora de vida sem fazer nada? Será que a vossa vida não tem valor? - Ora uma das criaturas, um jovem muito sensível, disse-me em tom ameaçaor: - Agradeço que não faça comentários sobre a minha vida! - Ficou magoado.. É um rapaz muito sensível. Sensível, sobretudo, à necessidade de cumprir regras, de ouvir contraditórios, de respeitar o próximo.
De facto, Sophia tinha muita razão: Há pessoas sensíveis...

3 comentários:

  1. Luisa, que feliz sou por não ter que aturar esses "sensíveis"!!

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  2. As Pessoas Sensíveis

    As pessoas sensíveis não são capazes
    De matar galinhas
    Porém são capazes
    De comer galinhas

    O dinheiro cheira a pobre e cheira
    À roupa do seu corpo
    Aquela roupa
    Que depois da chuva secou sobre o corpo
    Porque não tinham outra
    O dinheiro cheira a pobre e cheira
    A roupa

    Que depois do suor não foi lavada
    Porque não tinham outra

    «Ganharás o pão com o suor do teu rosto»
    Assim nos foi imposto
    E não:
    «Com o suor dos outros ganharás o pão»

    Ó vendilhões do templo
    Ó construtores
    Das grandes estátuas balofas e pesadas
    Ó cheios de devoção e de proveito

    Perdoai-lhes Senhor
    Porque eles sabem o que fazem

    Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto'

    A sensibilidade é, em geral, uma atenção dirigida aos outros e não a si mesmo. Segundo entendi - para mim não foi claro - o aluno (e a sua contestação)manifesta mais amor próprio ferido que sensibilidade. Ou eu, que por acaso não fui ao google espreitar sobre o assunto, estou muito enganada. Se é assim, prefiro viver de engano. O meu umbigo não tem nada de especial e olhar sempre e só para ele faz-me mal à vista, chateia-me a cabeça e assim.

    Os alunos não estão preocupados com o tempo perdido, têm ainda muito. Uma hora, na sua eternidade, não tem valor. Como dizia o Almada, "tem que haver outra maneira para salvar uma pessoa".

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  3. ...quanto às crianças mortas e de que fala, portuguesas portanto, que as dos refugiados talvez já nem se contem: parece que o pai não é pedófilo e a mãe era ou estava meia louca...não sei se serão feios, mas são pobres e talvez maus que a miséria moral cria destas coabitações. Sabe o que me faz mal? Que a mulher andasse meia louca, ou em depressão profunda, ou como lhe queiram chamar, que tivesse apresentado queixas em todo o lugar e mais um, as da pedofilia parece que inventadas, que a segurança social - ou algum responsável - tenha conversado com ela e não considerasse um caso de actuação. E não me digam que o lugar onde vivem, a cor da pele e o mais não influem. Há uns mais iguais que outros.

    Que esplêndida será a sanidade mental de alguém que não tem lar e anda aos caídos deste e daquele familiar, com sabe Deus que queixas - não interessa se com se sem razão -do ex. Segundo os testemunhos o caso arrastava-se há tempo.Mas ninguém notou nada, irmão, vizinhos, organismos competentes, cheios de profissionais diplomados. Agora caem-lhes os media em cima. Apressam-se os advogados. Arma-se o circo. Mas as crianças estão mortas.

    Raio de mundo

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