quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

UM e-mail

Chegou cansada, molhada até aos ossos, carregada de frio na alma e humidade nos sentires. Como sempre fazia, atirou os sapatos para o meio do hall, vantagens de viver sozinha, e fez um chá bem quente. Ligou a braseira, agradeceu em silêncio ao inventor da camilha e passou o dedo no ecrã no tablet. As luzes piscaram, o cenário passou de verde a vermelho, fez-se azul e o indicador de e-mail piscou.
Abriu a página: - Trabalho, reuniões, tarefas, perguntas, desculpas, promoções de supermercado, sugestões para o dia dos namorados. Lixo, pensou. De repente, sentindo a alma a sorrir, reparou num endereço desconhecido. Abriu. A resposta ali estava: - Fora admitida! Ia partir sem data de regresso, leitora no centro da Europa, longe da rotina que, definindo-a, a limitava. Ia partir, sabendo, de antemão, que ainda assim não deixaria para trás a dor que a sufocava, o desejo impossível que a consumia. Mas lá, num mundo que sendo velho a recebia como novo, haveria muito com que encher o vazio enorme da sua existência sofrida. Releu. Era em breve, breve porque três meses voam...
Eliminou as promoções do supermercado, não sem antes reparar que a carne de porco estava em saldo, e sorriu aos contrastes.
Ia partir!

1 comentário:

  1. Luisa, com tão grande ausência, quase já me tinha desabituado de voltar aqui!
    Espero que a figura do post não seja a autora do mesmo...

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